Capítulo 38

296 10 1
                                    

- Não sei - Laredo tirou o chapéu para depois correr os dedos pela cabeleira espessa e castanha, e depois o recolocou, bem baixo sobre a testa. - Não é uma pergunta que um homem goste que lhe faça, por essas bandas. O guarda escutou o que Ráfaga lhe dizia, mas olhava atentamente para Sheila. Ela parecia ser o tema daconversa. Deu-se conta de que mais uma vez Laredo evitara dar-lhe uma resposta directa à sua pergunta sobre o guarda. - Ainda não me explicou a quem o homem estará vigiando - lembrou-lhe. - A mim ou a Ráfaga? - Diego ficará ali, ou qualquer outro, para garantir que você não resolva dar longas caminhadas. Inclinando a cabeça para trás, olhou para ela por sob a aba do chapéu. O olhar dela percorreu as montanhas que rodeavam o desfiladeiro. - E para onde eu iria? -suspirou Sheila, amargamente. - Não há lugar para onde ir - concordou Laredo -, mas Ráfaga acha que você seria tola o bastante para tentar. - E você? - Está se esquecendo... foi de mim que você roubou a faca. É - Laredo balançou a cabeça -, acho que você tentaria correr, mas não teria chance. Sheila deu-se conta que estava completamente aprisionada. A prisão incluía muros, guardas e, um diretor. A única coisa que lhe faltava eram as grades na sua janela. Sentiu sua frustração aumentar, e soube que era apenas o começo. Terminada a conversa com o guarda, Ráfaga veio reunir-se a eles. Os olhares de Sheila brilharam com amargo ressentimento enquanto ele fazia sinal para que ela se dirigisse ao lado esquerdo da casa de adobe. Laredo tocou os dedos na aba do chapéu, num comprimento zombeteiro, e depois se afastou na direção oposta. - Não está com medo de ficar sozinho comigo? - exclamou Sheila para a expressão velada de Ráfaga. Sabia que não compreendia uma palavra do que ela dizia, mas tinha que soltar um pouco da sua raiva. - Não teme que eu vá fazer alguma coisa desesperada, como tentar arrancar-lhe os olhos? Como se ele soubesse como o veneno dela era impotente, nem piscou os olhos ante o seu tom de voz ameaçador. Usou sinais manuais para dirigi-la para as sombras das árvores por trás da casa cor de argila. A vegetação subtropical escondeu o laguinho represado abaixo do riacho até quase pisarem nele. A superfície da água tocada pelo sol parecia fresca e convidativa. Os pássaros pulavam de galho em galho, piando de alarme à invasão dos humanos. Sheila esqueceu-se da raiva de um momento atrás, abandonando-a no desejo premente de sentir o corpo limpo da sujeira e das impurezas dos dois últimos dias. Deixando a toalha e o sabonete na margem, começou a tirar o sarape sujo pela cabeça, depois lembrou-se do homem atrás dela e voltou-se. Ele observava e esperava. - Quer fazer o favor de se virar? Fez um gesto circular com a mão. O olhar escuro continuou velado e discreto, mas não a abandonou. Teimosamente, Sheila não fez nenhum movimento para se despir, resolvida a não ser a primeira a desviar o olhar. - Baño - disse Ráfaga vivamente, e indicou o laguinho. - Não vou entrar na água se você não se virar - insistiu Sheila, num rompante. Ele deu um passo até uma árvore perto dela, e apoiou, indolente, um ombro contra o tronco. O olhar escuro não se desviou do rosto dela. Falando em espanhol, apontou para o laguinho, depois por cima do ombro, para a direção de onde tinham vindo. Sheila percebeu as palavras "baño" e "casa". Compreendeu que ele estava dizendo que, se ela não tomasse banho, voltariam para casa. Louca de raiva por dentro, deu-se conta de que a sua escolha era ou continuar suja ou se despir ante o olhar dele. Dando-lhe as costas, Sheila arrancou o sarape pela cabeça, os dedos tremendo de raiva. - Se estava esperando ver um espetáculo particular, vai se dar mal - exclamou com selvageria. Segurando as partes rasgadas da blusa, virou-se e jogou o sarape no rosto impassível dele. Ele o segurou com uma das mãos. - Minhas roupas estão tão sujas quanto o resto de mim. Sheila sentou-se para tirar os sapatos, depois escorregou das margens gramadas para dentro da água. O choque da temperatura gelada da água fê-la soltar uma exclamação de surpresa. Mas não havia como voltar quando Sheila mergulhou inteiramente no laguinho. Vindo à tona com uma sacudidela da cabeleira molhada, afastou as mechas do rosto, batendo os dentes de frio. Meio agachada dentro do lago, submersa até o pescoço, Sheila conseguiu soltar-se da blusa e jogou a veste molhada na margem. Tirou também as calças compridas, deixando no corpo apenas as calcinhas. Indo devagarzinho para a beirada do laguinho, largou as calças ao lado da blusa e pegou o sabonete. A água estava fria

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora