Capítulo 46

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- Não sei por que não, se o resgate for pago. Ele deu de ombros e recomeçou a andar. Não era uma resposta lá muito satisfatória, e Sheila soltou um suspiro desanimado. Muito distante, soou um lamento solitário. Ela parou, prestando atenção para ver se ouvia o som de novo. - O que foi isso? - murmurou. Laredo lançou um olhar para o sul. - Um trem... a ferrovia Chihuahua Pacífico, que vem do lado mexicano de Presídio, Texas, atravessa as Sierras e o Copper Canyon até a costa do Pacífico. Dependendo do vento, a gente pode ouvir o seu apito ecoando pelas montanhas. - A quanto tempo fica daqui? - indagou ela, uma nota ansiosa na voz. - Voando não sei, talvez não longe, mas são cem milhas de terreno árduo, se tentasse chegar lá a pé. Não conseguiria, Sheila - comentou secamente. Ela apertou os lábios. Recusou-se a admitir que passara pela sua cabeça a idéia de chegar lá, caso lhe aparecesse uma oportunidade de fugir. Laredo parou. - Vamos mudar de assunto - sugeriu, tentando tornar mais leve a tensa atmosfera. - Diga-me, há outras como você em casa? - Sou filha única - retrucou Sheila -, o que é bom para vocês, já que meus pais pagariam qualquer coisa para me ter de volta. Laredo ignorou o sarcasmo. - Tenho um irmão mais moço.. É um atleta nato... basquete, corridas. Quando estava no penúltimo ano daescola secundária, fez parte da lista dos melhores atletas como jogador de meio de campo. O treinador achava que tinha praticamente garantida uma bolsa de estudos para a universidade, quando se formasse. - Laredo ficou pensativo. - Será que a conseguiu! - Sente falta de sua família, não é? - comentou Sheila meigamente, sentindo de repente uma afinidade com ele. Por um momento sentiu que ele começava a se retrair, preparando-se para negar a afirmativa dela. A seguir, sorriu, um brilho malicioso movendo-se nos seus olhos azuis. - Sabe do que sinto falta? - Pareceu rir baixinho de si mesmo. - De um sundae de caramelo quente, com montes de creme batido, castanhas e uma cereja em cima. Chego a sonhar com isso de noite; às vezes, sinto um desejo tão grande que acho que vou ficar maluco se não tomar um. Sheila sorriu. - Um caso violento de paixão por doces. - É - concordou Laredo, os olhos brilhantes fitos nos dela. - E piorou depois que você chegou. - Como se tivesse percebido subitamente o que dissera, virou-se, deixando o espaço entre eles ficar maior. Agora caminhavam por entre os cavalos, e Laredo passou a mão pela anca de um cavalo de pelo castanho. - Quer dizer que é filha única? Sheila hesitou, depois deixou que ele mudasse de assunto. - É isso aí. Mimada e paparicada, uma fedelhinha rica, como Brad costumava dizer. O nome dele lhe escapou antes que pudesse impedir. - Falando carinhosamente, é claro - sorriu Laredo. - Não. - Notou o brilho da sua aliança, ao olhar para baixo. - Falando invejosamente, acho. - Isso faz parte do motivo pelo qual você não está exatamente chorando a morte dele? - indagou, olhando para o perfil dela. - Brad na verdade se interessava muito mais pelo meu dinheiro do que por mim. Gostava da sensação de poder que ele lhe oferecia - respondeu Sheila, inexpressivamente. - Por que está me contando isso? Quando Sheila ergueu os olhos, ele a fitava com um toque de ceticismo no olhar. Uma brisa fez esvoaçar os cabelos dela, e ela os afastou do rosto. - Não sei. Talvez porque você me tenha falado da sua família. Ou talvez porque eu tivesse que admiti-lo em voz alta, e ouvir as palavras - respondeu devagar. - Talvez queira que você seja meu amigo. - Por quê! - insistiu Laredo. - Porque eu o faço lembrar-se de sundaes de caramelo quente, suponho. - Tentou brincar com ele, para que abandonasse o ar interrogador. - E importa o porquê! - Talvez. - Olhou-a dos pés à cabeça. - Talvez você esteja querendo me dominar.

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