- Não gosto do pessoal com quem está andando, Sra. Townsend. Ela se ajoelhou junto dele, murmurando bem baixinho: - Nem eu. - Num tom de voz mais alto, perguntou. - Está muito ferido? - Dizem que vou viver. Acercando-se dele, Sheila podia ver o tom cinzento por baixo do bronzeado das suas feições. - Não está comendo - falou, notando a comida intocada no prato. - Estou com um probleminha no braço esquerdo. Não consigo mexê-lo - explicou, com sarcasmo. - Portanto, a não ser que joguem esta gororoba pela minha goela abaixo, acho que vou ter que passar fome. Sheila olhou de esguelha para o oficial. - Não dá para soltar as mãos dele só para poder comer? - pediu cortesmente. Houve uma hesitação antes que dessem ordem a um dos soldados para deixar livres as mãos de Laredo. Sheila pôde ver que fazia um esforço tremendo para conseguir comer. Depois de três colheradas, parou. - Não tem o gosto da comida de Consuelo - disse Laredo, com um débil sorriso. - Nem a aparência. Sheila pegou a colher e começou a alimentá-lo. Um dos soldados veio de junto da fogueira para procurar o capitão. Este se afastou um pouco para conversar com o homem. Enquanto Sheila levava a colher à boca de Laredo, ele murmurava baixinho: - Ráfaga ficou ferido? - Não, escapou - sussurrou. - Sem um arranhão. - Para onde irá, Laredo! - Somente ele o sabe. Tentou se levantar um pouco mais, e fez uma careta de dor. - E quanto a você, Sheila? - perguntou no mesmo tom de voz baixo que não podia ser ouvido pelos outros. - Para onde vai! Voltar para o Texas com seus pais? - Não sei... quem sabe, pelo menos até o nenê nascer. Ou quem sabe eu fique aqui. Talvez consiga encontrar Rá... interrompeu abruptamente a frase, dando-se conta de que era Ráfaga quem os soldados esperavam capturar. Se ficasse no México, estariam esperando para ver se ela entrava em contacto com ele, ou vice-versa. Pelo bem dele, tinha que ir embora. Se pensasse com a cabeça, e não com o coração, Sheila sabia que o melhor seria que jamais voltasse ao México. A existência dele não tinha estabilidade. Jamais poderia oferecer um futuro para ela ou para o bebê. O filho deles, ainda por nascer, merecia uma vida decente, a liberdade pela qual Ráfaga ansiava, e que nunca poderia ter. Nos Estados Unidos, Sheila poderia dar tudo isso ao filho, e mais as vantagens do dinheiro. Quem sabe, ao sacrificar a vida dela pelo filho deles, estaria descobrindo o verdadeiro significado do amor? Estaria sendo nobre? Ou estaria simplesmente com medo de fugir e se esconder, se passasse da vida ao lado de Ráfaga? Estava realmente confusa demais para saber.- Se for para os Estados Unidos, será que - a voz de Laredo estava estranhamente emocionada - podia dar um pulinho em Alamogordo? O queixo tremeu ligeiramente, compreendendo. - Para ver seus pais! - O sobrenome deles é Ludlow... Scott Ludlow Não lhes conte a meu respeito, mas... - Verei se estão bem, e darei um jeito de avisá-lo - prometeu Sheila, suavemente. - Nesse meio tempo, farei o que puder por você e pelos outros. Ouvi dizer que o dinheiro ajuda. Houve apenas silêncio, enquanto ela lhe dava mais algumas colheradas de comida. Laredo fitava-a, pensativo. Quando finalmente falou, foi tão baixo que Sheila teve que se debruçar mais para ouvir o que dizia. - Se quer mesmo ajudar - murmurou -, comece alguma coisa para distrair-lhes a atenção. Dois dos guardas que nos vigiam são adolescentes. Há uma chance de podermos dominá-los e pegar-lhes as armas. Quem sabe, na confusão, alguns de nós possamos fugir. - Você pode ser morto - exclamou Sheila, protestando, mas Laredo apenas a fitou em silêncio. - Vou tentar - concordou, com um suspiro relutante. Lançando um olhar por cima do ombro, viu que o oficial concluía a sua conversa com o subordinado. Virou-se rapidamente, perguntando a Laredo: - Onde está Juan? Não o vi junto com os outros. - Está ali - respondeu Laredo, com um gesto lateral de cabeça -, debaixo do cobertor. - Sheila olhou, notando uma forma comprida completamente envolta num cobertor de cores vivas. Sentiu um aperto doloroso na garganta. - O seu ferimento abriu, e ele morreu - declarou Laredo, sem emoção. - Señora. O oficial estava de pé ao lado dela. Engolindo em seco para aliviar o aperto na garganta, Sheila levantou-se. O prato estava vazio. Não tinha mais motivo para ficar com ele, e o oficial estava lembrando-lhe isso. Afastou-se enquanto um soldado voltava a algemar os pulsos de Laredo. Seu rosto estava pálido com o choque da morte de Juan. Manteve-o desviado do olhar atento do oficial, enquanto se dirigiam para junto dos seus pais, ao pé da fogueira. - Obrigado por ter-me deixado falar com ele - disse, precisando romper o silêncio. - Sente afeição por este homem? - indagou. - É um amigo - respondeu Sheila simplesmente. - É americano, alguém com quem eu podia conversar. - Compreendo. - Ele balançou a cabeça, mas ela duvidava que tivesse compreendido. - Desculpe-me, señora, mas não pude deixar de observar que parece um tanto nervosa. Não está feliz de estar com seus pais? - Claro que estou. A resposta foi irritadiça. Ele lhe lançou um olhar breve e esquisito, depois deixou que o silêncio dominasse a caminhada até a fogueira. Sheila parou no limiar do círculo de luz. Os pais estavam sentados a um canto, conversando, ainda sem se dar conta de que ela tinha voltado. O oficial fez sinal a um de seus homens para lhes trazer café, depois virou-se para contemplar Sheila. Esta sabia que devia ir para junto dos pais, mas também sabia que estavam conversando sobre ela.. e sobre Ráfaga e o bebê. Sendo assim, ficou onde estava. - Andamos muito, hoje - o oficial comentou o distraidamente. - É - concordou Sheila. - Tive tempo de pensar, enquanto cavalgava - continuou ele. - Estou convencido de que você é mulher deRáfaga. Embora não possa prová-lo, creio que pertenceu a ele de bom grado. Seus olhos e rosto não têm a expressão de uma mulher que foi forçada a aceitar as atenções de um homem. Às vezes, vejo seus olhos fitando as montanhas, e há um brilho especial neles, como se soubesse que ele está lá, em algum lugar. Talvez esteja pensando que ele virá buscá-la. - Ergueu a sobrancelha, uma luz nascendo-lhe nos olhos. - É - comentoupositivamente, enquanto Sheila se enrijecia -, é, ele virá buscá-la. O oficial se virou, dando ordens bruscas a vários dos soldados que estavam em volta da fogueira. Houve uma agitação imediata. Ele exibia um sorriso complacente no rosto, quando voltou a olhar para Sheila. - Vou colocar sentinelas extras. Estaremos prontos para ele... o seu Ráfaga... quando vier - declarou.- Está enganado - negou Sheila desesperadamente. - Ele não virá. Um tiro foi disparado, depois um segundo e um terceiro. O oficial agarrou o braço de Sheila, fitando para os seus homens. Mais tiros foram disparados antes que os soldados respondessem ao tiroteio. Sheila lutava contra a mão que prendia os seus movimentos. Ruídos de luta vinham do local onde Laredo e os demais estavam presos. No caos, estavam tentando ganhar a liberdade. Uma bala zuniu perto do ouvido dela, atingindo o oficial, que afrouxou a pressão instantaneamente, e ela se libertou. - Sheila, aqui! - a voz dolorosamente familiar de Ráfaga a chamou, e ela se virou na direção do som. Seus olhos perscrutaram a escuridão indistinta das árvores que cercavam o acampamento. Começou a correr, sem ter certeza da direção. - Sheila, não! - gritou a mãe. - Não vá! Mas a sua escolha já estava feita. Não havia nada que o mundo civilizado pudesse lhe oferecer, ou ao bebê, que equivalesse a um momento nos braços de Ráfaga, não importando as circunstâncias. Ráfaga saiu de trás de uma árvore. O rifle que segurava à altura do quadril disparou, dando cobertura a Sheila. Ela correu para ele.
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A Caricia Do Vento
RomanceConta a história de Sheila e Ráfaga, Sheila uma linda mulher de pais ricos se vê em uma grande decepção com seu marido Bred, após ser abusada em plena lua de mel ,e por fim saber as reais intenções de Bred acaba sendo sequestrada por Ráfaga e seus c...