Capítulo 47

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- E eu o conseguiria! Sheila inclinou a cabeça para o lado, deliberadamente provocante. Laredo levantou uma das sobrancelhas sardonicamente, antes de olhar para o outro lado. - Tem a munição em todos os lugares certos. Por trás do seu tom seco, Sheila pressentiu a concordância relutante. Não ficou surpresa ao saber que ele a achava atraente. Mas era algo que ele apenas sugerira que interessava a Sheila. Embora Laredo tivesse tentado cortar os laços com sua família e seu país, não conseguira fazê-lo integralmente. E Sheila representava Um elo com a pátria, não importando o quanto Laredo insistisse em que agora o seu lugar era ali. Como poderia conseguir tornar mais forte o elo e persuadi-lo a transferir a sua lealdade ao bando para ela! O uso do sexo era a resposta provável, mas ela a repelia com violência. A caminhada tranqüila os havia levado à outra extremidade do prado. Um movimento à esquerda de Sheila chamou-lhe a atenção. Um garotinho se punha de pé, uma franja de cabelos negros caindo lhe sobre os olhos escuros. Parecia engolido pelo poncho cor de ferrugem que usava, assim como pelas folgadas calças marrons. Hesitante, baixou a cabeça num cumprimento constrangido: - Buenas tardes, señora, señor. - Buenas tardes. Sheila repetiu a frase com um sorriso levemente curioso. Laredo acrescentou o seu cumprimento ao dela. - Já andamos bastante - falou, mudando de direção para retornar pelo prado. - É melhor voltarmos. - Há muitas crianças por aqui! Já as escutei brincando do lado de fora. Olhou para o conjunto disperso de casas de tijolo cru, vendo movimentos, mas incapaz de distinguir figuras àquela distância. - Mais ou menos uma dúzia, creio, contando as crianças índias. - Índias! - indagou Sheila, a testa franzida. - Havia umas duas famílias de índios tarabumaras morando aqui quando chegamos - explicou. - Vivem isolados, não se metem com a gente. Sheila não procurou mais conversa enquanto voltavam para casa. Ele já lhe dissera tudo o que queria. Supunha que devia dar-se os parabéns por ter conseguido que Laredo se abrisse tanto, embora as informações não tivessem nenhum proveito.
Um novo guarda estava de vigília quando chegaram a casa. As feições largas e chatas eram afáveis. Inclinou a cabeça para baixo num gesto deferente de respeito quando Sheila passou por ele. Foi o primeiro gesto de cortesia que recebeu desde que chegara ao esconderijo no desfiladeiro. O brilho intrigado dos seus olhos mereceu um comentário de Ráfaga quando ela entrou em casa. Imediatamente, ficou abespinhada e virou-se para Laredo. - O que foi que ele disse a meu respeito! - quis saber. - Simplesmente comentou que o passeio pareceu lhe fazer bem - respondeu Laredo. - Diga a ele que todos os prisioneiros precisam de um pouco de exercício - retrucou Sheila. - E diga-lhe também que quero tomar um banho hoje à tarde enquanto o sol ainda está alto o bastante para aquecer o lago. Vou pegar o sabonete e a toalha, e você pode me levar. Tenho certeza de que ele não confiaria em mim para ir sozinha. Dirigiu-se em largas passadas para o quarto, o momento de bom humor desaparecendo no instante em que deparara de novo com Ráfaga. Batendo a gaveta da cômoda, Sheila ouviu o murmúrio baixo de vozes no outro aposento. A conversa em espanhol cessou quando ela voltou. - Estou pronta - anunciou. - Tenho umas coisinhas para fazer - retrucou Laredo, colocando o chapéu na cabeça. - Ráfaga vai levá-la. Com os nervos à flor da pele, Sheila disse, intempestivamente: - Em quem ele não confia? Em você ou em mim! - Talvez em nenhum dos dois. - Laredo abriu um amplo sorriso. - Ele sabe que faz tempo pra burro que não durmo com uma loura. - Já não basta que eu tenha que sofrer a indignidade de não permitirem que tome banho em particular? Não tenho nem o direito de escolher quem vai me vigiar? - fuzilou ela. Laredo olhou para o rosto inexpressivo de Ráfaga e deu de ombros para Sheila.

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