Capítulo 100

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Naquele dia, apenas ficou observando, com um olhar distraído... pelo menos, o olhar era distraído, até ver o cavalo de Juan tropeçar. Mais uma passada e ele caiu para a frente, indo ao chão. Seus olhos espantados viram Juan livrar-se da sela, enquanto o animal caía pesadamente ao solo. Imediatamente, Sheila deu meia-volta com Arriba, para correr para junto do companheiro caído. Juan já estava de pé e andando quando ela o alcançou. - Está bem, Juan ? - indagou, ansiosa. - Si - respondeu, distante, enquanto exortava o cavalo caído a se levantar. Depois de dar chutes e agitar as pernas, o cavalo apavorado finalmente se levantou, mostrando O branco dos olhos, sacudindo a cabeça nervosamente. O animal ficava mudando de posição, poupando a perna direita dianteira. - Está ferido - disse ela, mas Juan já tinha percebido, e corria a mão exploratória sobre a perna, falando baixo e carinhosamente com o cavalo, em espanhol, para acalmá-lo. - Está muito ruim? - É... - Juan hesitou, franzindo a testa e concentrando-se para encontrar a palavra inglesa certa - uma torção feia, acho. Sheila soltou um profundo suspiro de alívio. - Que bom. Por um momento temi que... Não terminou a frase. - Terei que levá-lo de volta ao curral, señora - disse ele, e a expressão era de quem pedia desculpas pelo passeio ter que acabar tão cedo. - Tudo bem, Juan, compre... Também não terminou essa frase. O pensamento atingiu-a como um raio. Essa era justamente a oportunidade pela qual estava esperando, o momento exato para fugir. O cavalo de Juan estava manco. Era impossível para ele deter Sheila, ou sair em seu encalço. Sem se dar chance de pensar uma segunda vez, girou a égua, dirigindo-a para a trilha inclinada que conduzia para fora do desfiladeiro. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ela não tinha a menor idéia de por que tinham brotado. - Señora! - chamou Juan, surpreendido. Ela enfiara as esporas nos flancos da égua, mas ainda segurava com firmeza o freio. A ruana saltou para o lado, saltitando e empinando, sem saber a qual das ordens obedecer. - Señora! Não vá! Não, señora! Seu queixo tremia enquanto olhava por sobre o ombro. Podia enxergar o ar de medo desesperado no rosto de Juan, que corria na sua direção. Debruçou-se para a frente na sela, deixando o freio livre para Arriba, enquanto chicoteava as ancas da égua com as pontas das rédeas. - Volte! Mas os gritos de Juan já se desvaneciam. A égua disparava encosta acima, os cascos fazendo voar pedaços de rochas e poeira. Sheila olhou para trás uma vez, quase no topo, e viu Juan correndo pelo prado para dar o alarme. Cruzando a garganta, Sheila guiou a égua para descer a montanha, depois deixou-a à vontade. Havia uma pequena trilha ladeada de árvores, que descia sinuosa e tortuosamente. Sheila agarrou-se bem ao pescoço da égua, baixando a cabeça e desviando-se dos galhos que tentavam derrubá-la da sela. Os troncos espalhados pelo caminho reduziram, velocidade a um meio galope, a égua fazendo mudanças fluidas de direção a cada curva da trilha. Parecia que a descida não acabava nunca. Quando o solo ficou plano, a égua passou a trotar, bufando forte, as narinas bem dilatadas para aspirar o ar. O impulso natural de Sheila foi chicotear o animal para fazê-lo galopar, sabendo que Ráfaga logo viria atrás dela. O bom senso não deixou que o fizesse. Ainda havia um longo caminho a percorrer para se atingir qualquer tipo de civilização. Era preciso conservar as forças da égua. Quando permitiu a Arriba que cavalgasse a passo, sentiu um vigor reconfortante nas largas passadas da ruana. No vale da montanha, Sheila virou para o sul, tomando o caminho menos acidentado. Para o leste, havia mais montanhas para se atravessar, o que significaria uma velocidade menor e o esgotamento da égua. O vale se estendia para o norte, mas, ao que lhe constava, a terra era irregular e estéril, e escassamente povoada. O sul era a escolha certa. Havia vilas e cidades, campos de mineração e de corte de madeira. Além disso, o terreno do vale era relativamente plano. Daria à égua rápida uma chance de usar a velocidade para se distanciar de qualquer perseguidor. Olhando por cima do ombro, Sheila não pôde ver ou ouvir ninguém a segui-la. A imagem de Ráfaga lhe veio à mente, e seu coração se apertou de saudade. Sacudiu a cabeça para afastar a imagem.

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