Capítulo 24

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- Não se preocupe. Não vou correr nenhum risco. Debruçou-se para o banco de trás e abriu a sua Surrada mala de viagem. Sheila olhou por cima do ombro para ver o que estava fazendo. Arregalou os olhos, surpresa, ao ver o revólver de cano curto sendo retirado de sob uma pilha de roupas. - O que vai fazer com isso? Brad ignorou a pergunta. Verificou se a arma estava carregada antes de enfiá-la na cintura e abotoar o paletó. Ao abrir a porta, ordenou: - Fique no carro. O olhar dela voltou-se rapidamente para o bando de cavaleiros que se aproximava do carro serenamente. Quando Brad saltou, um dos cavaleiros separou-se dos demais e adiantou-se. - Alô! - cumprimentou Brad, caminhando até o capo levantado. - Buenos dias, señor - retrucou o homem. Parou o cavalo e desmontou, o corpo robusto envolto num poncho sujo, de listras vivas. - Fala inglês! - indagou Brad. - No hablo inglês - respondeu, sacudindo tristemente a cabeça. - Olhe - Brad inspirou fundo e soltou um suspiro irritado -, meu carro enguiçou. - Fez sinal ao homem para que viesse para a frente do carro. - Está vendo! A mangueira do radiador rebentou. O outro fez um comentário em espanhol que parecia adequadamente solidário aos problemas de Brad. Dava de ombros, demonstrando a sua impotência para ajudar, enquanto se afastava do capo. Os outros cavaleiros se haviam agrupado junto ao cavalo do homem, observando o que se passava. Sheila contou oito homens, nove com o que falava com Brad. Não podia reprimir a sensação estranha que lhe dava calafrios na espinha. Era como se alguma parte primitiva dela tivesse farejado o perigo. Ignorando a ordem de Brad, saltou do carro. - O carro não vai andar até que seja consertado. O que preciso é de... - Brad se interrompeu ao ouvir o barulho da porta do carro se fechando e olhou feio para Sheila. - Volte para o carro. O olhar dela não se desviava dos cavaleiros. - Vou ficar aqui. Era um grupo heterogêneo de homens. A poeira cobria as suas roupas, uma variedade de ponchos e calças.Os cavalos eram pequenos e mirrados, insignificantes se comparados com os cavalos fortemente musculosos comuns no Estado natal de Sheila. Combinando a pantomima com uma tentativa de linguagem de sinais, Brad se esforçava para comunicar-se com o mexicano. Sheila o observava com o canto dos olhos. - Tem alguma cidade ou aldeia aqui por perto onde possa consertar o carro! - Brad dizia as palavras devagar, fazendo mímica quando podia. - Tenho que achar alguém para consertar o carro... para que volte a funcionar. Comprendez? O homem escutou e observou atentamente, mas, no final, sacudiu a cabeça pesaroso e levantou as mãos espalmadas. - No entiendo, señor. Brad murmurou baixinho para Sheila: - Por que esses malditos mexicanos não aprendem a falar inglês! - Recomeçou tudo. - Há alguém por aquique possa consertar o carro! O olhar de Sheila percorreu, desconfiado, o grupo de cavaleiros, fixando-se sempre num único homem, embora, superficialmente, nada houvesse nele que o distinguisse dos demais. Usando um chapéu de cowboy de aba larga, coberto de pó, estava largado na sela, a mão enluvada pousada no arção dianteiro. No entanto, Sheila sentiu uma vigilância animal por trás da pose indolente. Como nos demais, havia uma sombra escura nas faces e queixo, que indicava que não se barbeara recentemente. Dava-lhe uma aparência desleixada e vagamente não respeitável. Mas esse homem não tinha o rosto largo e chato que indicava a origem mexicano-índia dos demais. As feições eram angulares e magras. E os olhos vítreos que a fitavam eram duros e frios. - Que merda! Deve haver algum mecânico por aqui! - explodiu Brad, perdendo a paciência pela sua incapacidade de comunicar-se com o mexicano. - Mecânico? Si, si. O homem sacudiu a cabeça, compreendendo repentinamente, soltou um palavrório em espanhol enquanto apontava para a direção de onde tinham vindo.

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