Capítulo 97

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Pondo-se de pé, caminhou de volta à beirada do platô. A fumaça do charuto redemoinhava num fio cinzento e fino, carregado pelo vento. Ele parecia distante. Embora não tivesse respondido especificamente às perguntas dela, havia exposto alguns dos seus pensamentos. Agora, retraía-se de novo; seu ar distante voltara. - Se não tem mais perguntas... - jogou a ponta do charuto no chão, esmagando-o com o salto da bota - está na hora de descermos. - Há mais uma pergunta que quero lhe fazer - disse Sheila, a voz serena, mas cheia de determinação. - Qual é? - Quando vai me deixar partir! Fitou-o atentamente, mas não havia um lampeijo de emoção por trás da aparência atraente. Sem responder, caminhou na direcção dos cavalos que pastavam nos tufos de grama que cresciam teimosamente no terreno rochoso. Pegou as rédeas soltas e conduziu-os para onde Sheila estava. Uma luz dourada brilhava resolutamente nos olhos dela. Não ia deixar que ele ignorasse a sua pergunta. - Houve tempo de sobra para que tivessem pago o meu resgate - ressaltou ela. - Por que não me soltaram? - Não se recebeu dinheiro algum - disse, estendendo para ela as rédeas da égua. - Não acredito em você. - Sheila sacudiu a cabeça. - A essa altura meu pai já teria conseguido pagar praticamente qualquer quantia. Quanto foi que pediram! inconscientemente, ela tomou as rédeas das suas mãos. Ráfaga se afastou, caminhando para o lado esquerdo do baio. Jogou as rédeas sobre o pescoço do cavalo e ergueu o estribo para apertar a cilha. Sheila agarrou-lhe o braço, os dedos se enroscando na fazenda do poncho. - Quanto! - repetiu com voz trémula. Ele olhou para ela, os olhos escuros impassíveis, refletindo apenas a sua imagem, e nada dos próprios pensamentos. - Não se pediu dinheiro algum. Sem soltar o seu braço musculoso, Sheila jogou a cabeça para trás. Os músculos da sua garganta se contraíram e ela engoliu em seco. - O que quer dizer com isso! - Exactamente o que disse - replicou Ráfaga, seriamente. - Não se exigiu dinheiro algum dos seus pais. - Mas... - Estava confusa, quase atordoada. passou a mão nos olhos, como que para desanuviar a visão, para poder enxergar e pensar com clareza. - Por quê? indo até o lado esquerdo da égua, ele apertou a cilha da sela de Sheila. Estava ignorando a pergunta, fingindo não tê-la ouvido. Não, deu-se conta a moça, não estava sequer fingindo. Ouvira-a, mas não tinha importância. - Não vai me soltar, vai? - perguntou, com voz tensa e engasgada. Ele a segurou pela cintura. Sheila estava entorpecida demais para protestar quando a colocou na sela. Passando as rédeas sobre o pescoço da égua, deixou-as pousar no arção dianteiro. Ela o observou dirigir-se para o baio e montar tranquilamente. - Não vou a parte alguma até que você me responda - avisou Sheila, desviando a égua da trilha. Ele virou o baio para ficar de frente para ela, fazendo-o andar até que a perna roçasse na dela. As feições impassíveis encontraram o olhar desconfiado da moça. - Você vai ficar - disse Ráfaga vivamente, fazendo uma pausa de um segundo para acrescentar: - por algum tempo? - Por quanto tempo? - insistiu Sheila. - Até se cansar de mim? E então, o que fará! Vai me entregar aos seus homens? Vai me vender? A boca dele se estreitou numa linha severa. - Você faz perguntas cretinas demais. - Cretinas! - Sua voz falhou. - Por que é cretinice querer saber o que vai me acontecer quando você estiver cheio de mim? - Quando esse dia chegar, será livre para partir - disse com brusquidão. - Espera que eu acredite nisso? - Dou-lhe a minha palavra. A voz era fria e áspera, o tom profundo. O brilho criminoso dos olhos dele desafiava Sheila a contestar a afirmação. Ela engoliu as palavras, duvidando poder acreditar em qualquer coisa que ele lhe dissesse naquele momento. - Eles... os meus pais sabem que estou viva? - perguntou.

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