Capítulo 99

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O coração se lembrou de quem ele era, o chefe de um bando de renegados. Mantinha-a presa, usava-a comosua mulher sem se importar com a sua vontade. Mas Sheila sabia de tudo isso. Sabia há bastante tempo, e não fazia diferença. O coração nunca era lógico ou sensato. A mão dele afastava a gola da blusa da moça, enquanto seus lábios duros buscavam o local mais sensível do ombro. Um tremor delicioso percorreu-lhe a pele quando ele o encontrou. A luta interior entre o que era sensato e o que era realidade acabou. Desta feita o amor venceu, quando Sheila arqueou a espinha para dar-lhe maior acesso às partes que explorava. Não demorou e ele a tomou nos braços e a levou para o quarto. Desta vez, deitada nua ao seu lado, Sheila entregou-se totalmente. Na doçura da entrega, encontrou a realização do amor. No dia seguinte pensaria nas consequências do seu envolvimento emocional. Naquela hora curtia loucamente o fogo apaixonado da posse. Mas a razão chegou nas asas do medo. O último bastião de defesa fora rompido, e o coração de Sheila não mais lhe pertencia. Vivia apavorada de que ele descobrisse o quanto estava fascinada por ele. Não havia futuro para o seu amor. Sheila sabia que tinha que fugir de Ráfaga enquanto ainda lhe restava uma chance de esquecê-lo. Ráfaga tocou-lhe o braço, e Sheila deu um pulo, os olhos arregalados virando para ele, para ver se ele podia adivinhar o que ela estivera pensando. Uma sobrancelha escura arqueara-se zombeteiramente ao ver como ela recuara tão violentamente ao toque. - Disse que queria cavalgar esta tarde. Juan trouxe os cavalos - disse-lhe, numa voz divertida e seca.- Que bom! - retrucou tensamente. Sheila tremia muito. Enfiou as mãos trémulas no fundo do bolso da calça Levi's para ocultá-las do olhar atento de Ráfaga. Passou ao largo dele, com cuidado, evitando o contacto desnecessário. Estava vivendo com os nervos à flor da pele. Aquilo não podia durar muito. A égua ruana relinchou, ante a aproximação de Sheila, jogando o focinho malhado para a frente, para que a maciez de veludo fosse acariciada. Sheila fez-lhe a vontade, os músculos tensos ao redor dos lábios relaxando-se num sorriso. - Alô para você também, Arriba - murmurou, vendo a égua empinar as orelhas ao ouvir o seu nome. - Pronta para uma corrida, não é? Juan debruçou-se na sela para entregar as rédeas a Sheila. Segurando-se no arção, ela botou o pé no estribo e montou sozinha, antes que Ráfaga pudesse oferecer-lhe qualquer ajuda. Ele tomou as rédeas do baio das mãos de Juan e caminhou até o flanco do animal, para montar. A mão se fechou sobre o arção da sela. Olhando por sobre a patilha, Ráfaga viu Laredo vindo em sua direção, em largas passadas, e esperou. Sheila notou a urgência no caminhar de Laredo e escutou, curiosa, o diálogo em voz baixa, em espanhol, entre os dois. Depois de um aceno impaciente de cabeça, Ráfaga saltou da sela, amarrando o baio ao poste mais próximo, antes de lançar um olhar para Sheila. - Preciso fazer uma coisa - disse-lhe. - Passeie com Juan. Depois me encontrarei com vocês. - Claro - murmurou Sheila. O sorriso que lançou a Juan era trêmulo. Seu estômago parecia cheio de nós.Vamos? - Si - concordou ele, com um amplo sorriso, e virou o cavalo na direção do prado onde os cavalos e a pequena quantidade de gado pastavam. Sheila estalou a língua para Arriba, e a égua ruana se pôs a caminho, ansiosa. Cônscia dos olhos escuros que observavam a sua partida, manteve o rosto rigidamente voltado para a frente, recusando-se a olhar para trás, embora soubesse que era o que Ráfaga estava esperando. Juan cavalgava a passo com o cavalo, e Sheila não fez nenhuma tentativa de apressar o ritmo. - A señora está preocupada com alguma coisa, não? A voz, de sotaque muito forte, estava cheia de interesse ao olhar para o rosto angustiado dela. - Não. Não, claro que não. Repetiu a segunda negativa mais enfaticamente, , deu uma leve esporeada para incitar a ruana a meio galope prado afora. Vacas irritadas saíam do caminho. Um bezerro saiu correndo, a cauda levantada bem alto no ar. A égua de pernas longas dava passadas compridas; mesmo a meio galope, começou a se distanciar da montaria mais lenta e robusta de Juan. Sheila olhou por cima do ombro, sabendo que ele logo forçaria o cavalo a galopar, se ela se distanciasse muito. Noutras épocas mais despreocupadas, Sheila teria zombado dele por causa da lentidão do seu cavalo.

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