Capítulo 55

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Vivamente, começou a esfregar a toalha nos cabelos, espalhando gotículas de água. As que atingiam as pedras quentes da lareira logo se dissolviam. Quando o cabelo ficou apenas úmido, Sheila começou a passar o pente pelas mechas sedosas, cor de mel escuro. O estranho parecia estar lhes dando algum tipo de informação. As respostas de Laredo e Ráfaga pareciam ser "sim" ou "não" ou perguntas. Ela ficou imaginando qual seria o assunto. Era, sem dúvida, algo muito importante, para o homem chegar no meio de um temporal, e para Ráfaga mandar o guarda ir buscar Laredo. Deu as costas para o fogo para deixar o calor irradiante terminar de secar a cabeleira espessa na parte de trás. O pente continuava a sua rítmica separação dos fios, auxiliando na ação de secar. O cabelo parecia ouro derretido contra o pano de fundo das chamas bruxuleantes. Uma força magnética forçou-a a voltar-se para Ráfaga. O olhar pensativo dele parecia dirigido para além dela, para dentro do fogo, hipnotizado pelas chamas dançantes. Só então Sheila se deu conta de que ele estava observando os reflexos das chamas na nudez cremosa do seu ombro direito e da clavícula. Com uma intensidade perturbadora, o olhar subiu devagarzinho pela curva esguia do seu pescoço. Os olhos negros insondáveis examinavam a linha graciosamente feminina do seu maxilar e das faces, a retidão clássica do nariz, antes de passar para os cílios longos e fartos, de pontas douradas. Voltando pelo mesmo caminho, o olhar dele fez um desvio, dando uma parada completa nos lábios dela. A posse quase física daquele olhar fez o pulso dela disparar feito louco. Inesperadamente, os olhos velados, entretanto dominadores, mudaram a atenção para prenderem o olhar dela. Sheila teve a sensação avassaladora, maluca, de que alguma força a empurrava para trás, deitando-a ao lado do fogo para ser seduzida, de bom grado. Abalada pela nitidez da impressão, Sheila ouviu-o responder a um comentário de Laredo, no entanto, a concentração dele não se desviava da moça. Com esforço, ela afastou os olhos do olhar magnético, com a respiração irregular e superficial. Laredo levantou-se da cadeira e dirigiu-se para a lareira. Rapidamente, ela desviou a cabeça, olhando para as chamas, esperando que, caso ele notasse a sua pele afogueada, atribuísse o fato ao calor do fogo. Agachando-se, acrescentou outra acha de lenha ao fogo e mexeu nos pedaços incandescentes de madeira. Equilibrando-se nas plantas dos pés, lançou-lhe um olhar de esguelha, calmo e interrogador. - Já se secou? - perguntou. - Já. - Concordou com um gesto rígido de cabeça e lançou um olhar desconfiado à mesa. Teve a súbita sensação de que estavam falando dela, quem sabe o tempo todo. - Laredo? Ele tinha apoiado as mãos nos joelhos, pronto para se levantar, porém, esperou, inclinando a cabeça para o lado. - Sim? O olhar dela dardejou para o homem à mesa. - Quem é ele? - Um amigo - respondeu simplesmente. Sheila voltou a olhar para o mexicano. - É um de seus contactos! - É um amigo - foi só o que Laredo disse. Sheila virou-se para olhar atentamente para ele. - Está aqui por minha causa, não é? - Por que está dizendo isso? - perguntou. - É uma sensação que tenho. Não está? - Sheila - havia paciência na voz dele, calma e controlada -, está fazendo perguntas que sabe que não posso responder. - Por que não! Se me dizem respeito, também são da minha conta - raciocinou teimosamente. Mas Laredo deu de ombros e ficou calado. - É óbvio que a esta altura lá entraram em contacto com o meu pai. É por isso que este homem está aqui? Para lhe contar o que ele disse? Laredo inspirou profundamente, um breve brilho de impaciência no olhar que lhe lançou. - Não force a barra, Sheila. - Parecia muito calmo. - Quando houver algo definitivo, será informada. Com essas palavras, colocou-se de pé para acabar com a conversa.

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