Capítulo 110

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As mãos fortes e esguias moveram-se para esfregar-lhe o queixo, depois o pescoço. Quando ele olhou para a cama onde ela jazia, Sheila viu a dor que brilhava nos seus olhos cor de ébano. Ela sumiu imediatamente, quando viu que a moça acordara. - Como se sente? - perguntou suavemente. Sheila moveu-se ligeiramente e sentiu mil agulhas se enterrarem nas suas costas. - Dói - falou, com voz tensa, para sufocar o arquejo de dor. - Vai doer durante algum tempo - disse-lhe Ráfaga. - Tem que agradecer a Laredo o fato de que as marcas vão sarar sem deixar cicatrizes na sua linda pele. - Hesitou. - Não o odeie pelo que fez. - Não o odeio - tranqüilizou-o Sheila. - Que bom! A sua boca se curvou ligeiramente, quase num sorriso. - Ráfaga. - Olhou atentamente para ele, em silêncio, depois perguntou: - Teria me chicoteado se Laredo se tivesse recusado? Fitou as mãos, a testa vincada por uma ruga sombria. - Não, não poderia. Sheila sorriu meigamente. - Acho que teria. Ele levantou bruscamente a cabeça ao ouvir as palavras, um brilho frio de desafio nos olhos, porque o estava chamando de mentiroso numa questão dessas. - Acho que teria - repetiu -, ao invés de entregar o chicote para alguém como Juan Ortega. - Talvez - disse ele, laconicamente, e começou a se levantar. Ela deslizou a mão pela cama, buscando detê-lo. Ráfaga viu o movimento e parou. O olhar velado dirigiu-se indagadoramente para o seu rosto. - Hoje de manhã - começou Sheila, sem jeito -, odiava você, e todas as pessoas ligadas a você. Agora, não odeio ninguém. Muito menos você. Podia ter acrescentado, mas o coração ainda não estava pronto para fazer uma confissão integral. Esperou, torcendo para que ele dissesse alguma coisa que lhe permitisse revelar tudo o que sentia. A frieza abandonou a expressão dele. Seus olhos eram como um veludo preto e macio, ao fitá-la. O coração da moça bateu mais depressa. Ele parecia mais atraente e bonito do que nunca... forte, másculo e cheio de vida. Mas, quando Ráfaga respondeu, não disse nada que exortasse Sheila a revelar a verdadeira profundidade dos seus sentimentos. - Precisa comer. Vou mandar Consuelo preparar alguma coisa para você. Capítulo 20 Durante os dias que se seguiram à recuperação, Sheila descobriu um novo Ráfaga. O antigo homem dominador e autocrático que conhecia desaparecera. Em seu lugar, surgira um amante comovedoramente meigo, cheio de consideração e bondade, embora continuasse completamente másculo. Sheila não acreditava ser possível apaixonar-se ainda mais por Ráfaga, mas isso acontecera. - É tão lindo - suspirou, maravilhada. - O quê? - quis saber Ráfaga. Sheila virou-se, sobressaltada, sem se dar conta de que falara em voz alta. Ele corria para ela de um modo que lhe tirava o fôlego, cálido e íntimo, como se existissem apenas os dois caminhando devagar por entre a grama alta do prado verde, conduzindo os seus cavalos. - O dia - mentiu, ruborizando-se de leve. - Está cansada. - Os olhos escuros examinaram o leve rubor. - Acho que exageramos na caminhada. Vamos,deixemos os cavalos pastarem. - Segurou-a pelo cotovelo, guiando-a para um pequeno morro. - Vamos descansar um pouco. Sem discutir, Sheila soltou as rédeas, e o cavalo baio imediatamente baixou a cabeça para pastar. O gado e os cavalos pastavam a curta distância. Onde estivessem cavalos e gado, podia-se ter certeza de encontrar Pablo, o filho de Juan, próximo a eles. Sheila procurou-o com o olhar, e encontrou-o sentado numa pedra, à sombra. Acenou para ele, e este acenou timidamente para retribuir o cumprimento. - Pablo é um menino muito responsável, - comentou Ráfaga, seguindo a direcção do olhar de Sheila.


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