Capítulo sem título 51

311 10 1
                                    

Os pés caíram numa poça de água e a mão buscou a sólida parede da casa para recuperar o equilíbrio no solo escorregadio. Os raios rasgaram os céus quando Sheila correu na direção das árvores atrás da casa. Antes que pudesse alcançá-las, estava ensopada até os ossos. A chuva violenta grudava-lhe o cabelo à cabeça, e a água escorria para dentro dos seus olhos, toldando-lhe a visão. Cada inspirada que dava era pesada de umidade. Os galhos grossos das árvores diminuíram um pouco a força da chuva, as gotas violentas não mais irritando suas faces. Sheila parou uma vez, piscando por entre as gotas de chuva que se grudavam aos seus cílios, para lançar um olhar para a casa. Dois homens andavam, apressados, naquela direção, as cabeças baixas para se protegerem da chuva. Por um instante angustiado, pensou que a tinham visto, e escondeu-se atrás de um tronco de árvore ofuscado pela chuva. Porém nenhum dos dois olhou na sua direção enquanto corriam para o abrigo do pórtico. O mais alto, numimpermeável amarelo, Sheila reconheceu como sendo Laredo. O outro tinha que ser o vigia, evidentementemandado por Ráfaga para ir buscar Laredo. A qualquer momento poderiam descobrir que, já tinha sumido. Sheila começou a correr, mantendo-se sob aproteção das árvores. Fora das vistas da casa, sentiu-se mais segura e diminuiu o ritmo da corrida. Um raio crepitou, rasgando o ar, seguido imediatamente por uma enorme trovoada. O chão sob seus pés pareceu tremer ante o som. Sheila sentiu-se tentada a abandonar o abrigo das árvores e tomar o caminho mais curto através do prado até à garganta do desfiladeiro. Caiu uma nova torrente, e ela mudou de idéia. Inclinando a cabeça contra os lençóis de água que caíam, seguiu rapidamente em frente. O som dos seus pés chapinhando era abafado pela chuvarada constante caindo entre as folhas das árvores. - Sheila. Quase surda com o barulho da chuva, não estava bem certa de que realmente havia escutado alguém dizer o seu nome. Parou, a mão protegendo os olhos. Um cavalo bufou à sua esquerda. O coração de Sheila disparou, alarmado, enquanto ela se virava na direção do som. Laredo puxava o cavalo calmamente pelo meio das árvores, a aba do chapéu bem abaixada por onde a água escorria sem cessar. A audição dela ficou de repente aguçada, percebendo outros sons. Seu olhar dardejou para as árvores que escasseavam, à esquerda de Laredo. Três outros cavaleiros espalhavam-se numa linha de busca. Um deles era Ráfaga. Sheila teve certeza disso mesmo antes de distinguir as feições severas sob a sombra da aba do chapéu. Os cavalos pararam, formando um semicírculo à sua volta. Correr era inútil, portanto Sheila ficou parada. Inclinando a cabeça num ângulo orgulhoso, recusou-se a deixar que vissem o quanto a amargurara ter falhado na fuga. A chuva lhe escorria pelo rosto. - O que está fazendo aqui! Laredo sabia a resposta à sua pergunta. Estava no escárnio frio dos seus olhos azuis. Sheila deu-lhe a resposta que a pergunta merecia. - Tive vontade de dar uma volta, e saí. Infelizmente, não me dei conta de que estava chovendo tão forte. - Não é estranho? - Laredo mudou de posição na sela, debruçando-se ligeiramente sobre o arção dianteiro. - Quando a vi correndo da casa para as árvores, meu primeiro pensamento foi de que estava tentando fugir. Ele a vira e correra para alertar Ráfaga. - Que bobagem a sua - comentou secamente. - O que serve para mostrar como é fácil a gente ficar com a impressão errada numa situação dessas - retrucou ele, sorrindo zombeteiramente. - É mesmo - concordou Sheila, fervendo de raiva, mas lutando para não demonstrá-la. Um raio cruzou o céu, um risco ofuscante de chama elétrica. Laredo olhou ao seu redor, como se subitamente tivesse se dado conta do dilúvio que caía dos céus.- Seja como for - foi levando o cavalo para junto de Sheila -, acho que foi sorte eu tê-la visto. Poderia pegar uma pneumonia, se tivesse ido longe demais. - Um braço vestido de impermeável amarelo esticou-se para ajudar a colocá-la na sela. - Teríamos chegado antes, só que levou algum tempo para selar os cavalos. Ao contrário de você, nenhum de nós estava contando com um longo passeio na chuva. A alfinetada dele provocou um olhar faiscante de ressentimento por parte de Sheila. Ele soltara o pé do estribo mais próximo dela. Sheila pisou nele e deixou Laredo erguê-la para o cavalo. Sheila estava ensopada até os ossos e tremendo quando Laredo a largou diante da casa de adobe. Entrou apressadamente, não esperando que a mandassem ou conduzissem. Laredo, Ráfaga e o terceiro cavaleiro a seguiram rapidamente ,podia-se ouvir o guarda levando os cavalos embora.

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora