Capítulo 48

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- Ordens - falou, e esta palavra foi a sua única explicação. Os nós dos dedos que seguravam a toalha branquearam nitidamente quando Laredo fez um cumprimento breve e zombeteiro de cabeça, antes de sair porta afora. Sheila olhou, carrancuda, para o rosto bronzeado que ocultava os pensamentos de Ráfaga, tremores de raiva primitiva percorrendo-a toda. - Muito bem, seu bisbilhoteiro, está pronto! - indagou, sarcasticamente. Apertando os lábios, Sheila virou-se e saiu pela porta que Laredo deixara aberta. Ráfaga ia dois passos atrás, deixando que ela achasse a trilha para o lago formado pelo riacho, sem a ajuda dele. Junto ao lago, ele se dirigiu para a mesma árvore em que se encostara da outra vez, e apoiou um ombro contra ela. A respiração dela era difícil, devido à raiva que sentia. Não tinha a menor vontade de vestir roupas molhadas de novo quando acabasse de tomar banho. Dando-lhe as costas, Sheila começou a soltar o nó que prendia a blusa. - Tem alguma tara que o deixa excitado vendo uma mulher se despir e tomar banho? - perguntou com voz rouca de frustração. - Ou apenas tem prazer em me humilhar? Arrancou a blusa e jogou-a ao chão. As suas omoplatas muito brancas sentiram o toque do olhar dele, que lhe descia pelas costas até a cintura fina. Seus dedos tremiam ao abrir o zíper das calças. - Você é um monstro sádico por me fazer passar por tudo isso. - A voz lhe tremia. - Devia ser esquartejado e pendurado para servir de comida aos urubus. Gostaria que pudesse entender o que estou dizendo para saber que o acho um selvagem...vulgar e abominável e desprezível e... Sheila esgotou o vocabulário para descrever o seu ódio. Abriu o zíper e tirou as calças, sentindo um rubor de vergonha pela sua nudez. Um segundo de pois, mergulhava no lago. Subiu à tona quase que imediatamente, a temperatura gelada da água tirando-lhe o fôlego. Afastando dos olhos as mechas de cabelo molhadas, Sheila voltou a olhar para a árvore. Ráfaga estava sentado na base dela, o chapéu marrom manchado puxado sobre os olhos. Ela podia sentir o olhar dele perturbadoramente intenso enquanto se dirigia para a margem para apanhar o sabonete que estava na grama, perto da água. Quando acabou o banho, saiu atrevidamente da água, sem procurar cobrir-se com as mãos. Apanhando a toalha, começou a secar-se rapidamente, sentindo o calor do embaraço e recusando-se a ceder a ele. - Dê uma boa olhada. - Sentia uma vontade enorme de jogar-lhe a toalha no rosto. - Talvez ajude a estimulá-lo para a visita noturna de Elena. Ao ouvir o nome da amante, Ráfaga se pôs de pé, um brilho divertido nos olhos, mas não se acercou dela. Lutando contra um súbito ataque de nervosismo, Sheila vestiu as calças, semi-virada para ele. O tecido sedoso da blusa grudou-se à sua pele úmida. Enquanto ele se movia na direção dela, Sheila sentiu sua falsa serenidade abandoná-la. Os dedos pareciam ter dificuldade em dar um nó na fazenda. Antes que conseguisse dá-lo, ele estava calmamente afastando as mãos dela e juntando a frente da blusa com dedos firmes. Enquanto dava o nó, os dedos roçaram as amplas curvas dos seios. Sheila crispou-se ante o toque dele. Os vincos dos lados da boca do homem aprofundaram-se zombeteiramente. - Eu lá posso evitar - murmurou Sheila tensamente, o seu ar de bravata atenuado pela proximidade dele - se o seu toque me faz sentir vontade de me lavar de novo! A carne dela vibrava com o contacto. Indiferente ao tom de voz ácido, Ráfaga examinava as chamas amarelas que lhe iluminavam os olhos. Ficaram parados, em silêncio, o ar crepitando entre eles, com Sheila quase a desafiá-lo a tocá-la de novo. Ansiava por empurrá-lo para dentro da água gelada. Ele pareceu ler-lhe os pensamentos, porque seu olhar escuro dardejou para a superfície espelhada do lago, depois para o rosto dela, o brilho divertido aparecendo de novo nas profundezas negras dos seus olhos. A irritação fervilhava quase à superfície quando se dirigiram de volta à solitária casa de adobe afastada das outras. Sheila ia na frente, sentindo Ráfaga logo atrás, a despeito do silêncio animal das suas passadas. Controlou o seu génio. Sabia que ele era perigoso. Os passeios à tarde com Laredo tornaram-se uma rotina. Ela os esperava com tanta ansiedade quanto uma criança espera receber um doce. Eles lhe ofereciam uma trégua do tédio sufocante da casa, e da presença perturbadora de Ráfaga. Nunca antes na vida Sheila ficara tão ociosa.

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