Capítulo 52

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- É melhor vestir umas roupas secas bem rapidinho - aconselhou Laredo. Sheila estava na metade do corredor. Parou e virou-se, os dentes batendo incontrolavelmente, enquanto abraçava a si mesma. - Caso tenha se esquecido, o meu guarda-roupa é muito limitado. Consiste no que eu estou usando e uma camisa. Eu a lavei hoje de manhã. Não tenho roupas secas para vestir. Parte do seu sarcasmo foi atenuada pelos arrepios que a percorreram. Dando meia-volta, dirigiu-se de novo para o quarto, enregelada e tangada, e cheia de auto-piedade. Ouviu Laredo dizer qualquer coisa para Ráfaga no Seu espanhol fluente, e receber uma resposta. Ao entrar no quarto, ouviu passos no corredor, aqueles conhecidos que ouvia todas as noites. Retesando-se, Sheila virou-se para Ráfaga quando ele entrou no quarto. O pesado poncho que o protegera da chuva fora tirado. A camisa, aberta no pescoço, estava Seca, embora, devido à umidade, grudasse em seu peito e nos ombros suavemente musculosos. As calças estavam molhadas e escuras dos joelhos às botas. A expressão dos olhos era frígida como uma noite de inverno rigoroso. A água pingava das roupas ensopadas de Sheila, formando uma pequena poça no chão. Mais água pingava docabelo empapado, correndo em linhas brilhantes pelo rosto e pescoço. O tecido encharcado da blusa moldava quase obscenamente cada curva dos seios, inclusive os mamilos, endurecidos pelo frio. O olhar dele não deixava escapar nada. - O que você quer? Sheila deu-se conta de que o seu desafio nervoso era tão fraco quanto o sibilar beligerante de uma gatinha semi-afogada. Ele soltou uma resposta e fez um gesto na direção das roupas dela. A sugestão era evidente: queria que as tirasse. Sheila empertigou-se. - Só porque sou forçada a tomar banho na sua frente não quer dizer que vá me despir sempre que você queira, para poder me olhar! As linhas duras da boca do homem estreitaram se ameaçadoramente. Passadas largas e flexíveis levaram-no até ela, antes que o corpo entorpecido de Sheila pudesse reagir. os dedos esguios começaram a desfazer o nó da blusa da moça, onde riachos de água juntavam-se para correr pela vale entre os seios. Ela afastou as mãos dele com violência. - Pode deixar que eu faço isso! - resmungou por entre os dentes cerrados. Com um gesto desinteressado de concordância, Ráfaga foi até a cômoda e tirou a toalha do seu gancho junto à bacia. Voltando para junto dela, esperou até que as calças de Sheila tivessem se juntado.à sua blusa no chão. Ela estava dolorosamente cônscia da sua nudez ao pegar a toalha que lhe era estendida, mas o olhar indiferente dele não passou do seu rosto pálido e branco. Enquanto ela se enxugava com as mãos trêmulas, ele foi até a cama e retirou o cobertor. A toalha mal havia absorvido a umidade em excesso quando ele começou a enrolar o cobertor em sua barriga, apertando-o nos seios. Jogou o resto do cobertor sobre o ombro esquerdo dela, num sari improvisado. Ergueu os olhos para os cabelos dela, lembrando-lhe que estavam bastante molhados. Um pouco atordoada pela engenhosidade dele, Sheila levou a toalha aos cabelos molhados. Muito bem ajustado, o cobertor não se moveu nem um pouco quando ela se mexeu; sentia-se gostosamente aquecida, como que num casulo tosco. Sheila começou a esfregar vivamente a toalha nos cabelos, quando Ráfaga saiu do quarto. Novos passos no corredor. Desta feita não eram de Ráfaga. Sheila não tirou a toalha da cabeça quando Laredo apareceu à porta. - O vigia que foi guardar os cavalos ainda não voltou? Imagino que Ráfaga esteja com medo que eu vá pular pela janela de novo se me deixarem sozinha por um minuto - declarou ela, tensamente. - Ele quer que você vá para o outro quarto - foi a resposta serena. - Onde possa ficar de olho em mim? O sarcasmo dela era venenosamente seco. - Não, onde possa se aquecer. Há um fogo aceso na lareira - explicou Laredo, pacientemente. - É incrível como ele é cheio de consideração - redargüiu Sheila. - Estou certa de que é uma ordem e de que não tenho escolha. - Nenhuma - concordou ele. Um suspiro sibilante escapou-lhe por entre os dentes brancos.

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