2. Surpresa

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Sempre foi da minha natureza desconfiar de tudo e de todos. Nunca me apeguei emocionalmente com alguém, não que eu me lembre. Eu amava a minha mãe, já não sou a mesma com relação à ela. Sinto uma pontada forte no peito ao lembrar dela. Tenho apenas vinte e dois anos e não me arrependo de ter fugido da minha vida antiga, mas o fantasma do passado continua a me assombrar.

Quando cheguei na cidade de Nova York, acredite ou não, mendiguei durante algum tempo na estação de metrô, dormia no banheiro ou em qualquer outro lugar que eu achasse que estaria relativamente segura e levava uma vida muito ruim, até que Charlotte apareceu no meu caminho, literalmente, ela é como um anjo que chegou para me salvar e há cinco anos é a minha melhor amiga.

Eu estava deitada em um banco do Central Park e espirrava muito por causa da gripe, na época estava muito frio e eu não tinha como me aquecer. Charlotte estava passando perto de mim, daí ela parou e perguntou se eu estava me sentindo bem, respondi que sim e levantei para sair de perto dela. Assim que me pus de pé senti uma tontura e em segundos já estava desmaiada por causa da fome e do frio.

Quando acordei, estava deitada em uma maca do hospital com várias agulhas no meu abraço. Charlotte cuidou de mim  mesmo sendo uma completa estranha, ela é a pessoa mais bondosa e humilde que já conheci, devo muita coisa à ela.

O pai de Charlotte, Hugh Denver, é o dono do restaurante em que trabalho. Ela arranjou esse emprego de garçonete para mim. O Denver's Restaurante é um dos melhores da cidade. Apesar de Charlotte tentar me ajudar de várias formas, eu nunca aceitei. O que ela fez por mim foi o bastante, por isso sou muito grata a ela.

Meu celular vibra e vejo na tela o número da minha melhor amiga.

- Oi sua chata, como foi sei dia? - ela diz toda animada.

- Charlotte! Estava pensando em você. - digo entre risos. - Meu dia foi ótimo! E o seu? - ela não sabe que estou a procura de um outro emprego, preferir não contar nada ainda.

- Eu sei que você me ama! Mas falando sério, estou cansada e atolada de tantas reuniões para fazer. - Charlotte diz após um longo suspiro. - Meu pai quer expandir os negócios e joga tudo pra mim!

- É bom que vai aprendendo a cuidar dos negócios da família! - falo entre risos.

-Vai trabalhar hoje? - Charlotte pergunta.

- É óbvio que sim Charlotte, se não sou uma pessoa desempregada! - falo com a voz séria.

- É que podíamos sair pra beber sei lá, esquecer os problemas! - ela disse como se hoje fosse o último dia de nossas vidas.

- Charlotte Denver hoje é segunda feira! Você não está normal. Mas podemos fazer assim, que tal sairmos sábado à noite, vai ser minha folga.

- Marcado então! Tenho que desligar, beijos. - se despediu.

Olho no relógio e começo a me aprontar para ir trabalhar. O meu turno é o da noite, até porque é o período em que há mais movimento. O restaurante fica aberto até o último cliente ir embora, normalmente ficam alguns empresários ou pessoas que não querem sair tão cedo e sinceramente acho isso um saco, porque não vão para outro lugar?

Deixo para vestir o meu uniforme no trabalho e pego um ônibus para ir ao restaurante. Ao chegar, cumprimento todos os que estão na cozinha e vou logo ajudar a organizar o salão do restaurante, colocando toalhas limpas e talheres sobre as mesas.

- Hoje o restaurante não vai fechar tão cedo! - comentou Clinton, o recepcionista do restaurante.

Ele tem quarenta e poucos anos e uma voz super agradável, consegue apaziguar qualquer situação com a sua calma.

Infinita Liberdade ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora