Diga a quem você pertence

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Era estranho estar em casa sozinho. O pequeno apartamento se transformava em um enorme lugar vazio e frio quando Louis não estava. Eu estava tão acostumado a ter sua presença ali que quando eu não tinha a solidão me atingia de uma forma inimaginável.

Louis sempre saiu mais com os amigos do que eu. Acho que por conta da faculdade e por sua facilidade em fazer amigos, ele sempre estava entre os populares, fazendo o que ele chamava de "garantir o futuro", já que sua futura profissão indicava que ele precisava mesmo de um bom network.

No começo me incomodava mais, porque ele fez amigos logo e começou a ser requisitado para sair com os colegas de sala assim que chegou a cidade. Eu não pude. Ele fez questão de conhecer todos os atores do teatro e me garantir que nenhum deles era bom para mim, que provavelmente a amizade que eles queriam era para me derrubar.

Até hoje há quem me olhe torto dentro do teatro por nunca ter me permitido conhecer melhor meus colegas de trabalho e foi só quando Niall chegou que as coisas mudaram. Niall fez amizade assim que começou a trabalhar e é muito querido por todos que o cercam, é uma luz especial que ele carrega em si.

E eu continuo aqui sentando na velha poltrona da sala, com uma xícara de chá e um livro que eu parei de ler a longos minutos por estar pensativo demais, preocupado demais com Louis e preocupado demais comigo.

Eu sempre quis sair de Holmes Chapel e conquistar os palcos. Em meus sonhos adolescentes eu voltava para minha família como um grande nome do teatro e talvez até do cinema. Vir para Londres era o primeiro passo para isso acontecer, eu encontraria uma companhia de teatro, faria meu nome ali e começaria receber propostas para trabalhar mundo a fora.

É claro que Louis também estava nos planos. Ele sempre esteve. Ele costuma sorrir sempre que eu lhe contava meus planos para o futuro e depois contava que para ele, ter um emprego fixo em um bom hospital com uma boa casa para criar os filhos já o faria totalmente feliz.

Nossas divergências de pensamentos e planos nunca foram um empecilho quando ainda éramos jovens e estávamos no colégio, mas agora, parecia que apenas ele estava caminhando para realizar seus sonhos.

E eu ficava feliz por ele, ficava feliz por vê-lo na melhor universidade do país e tendo boas notas, ficava feliz por vê-lo contar tão animadamente os procedimentos que fazia, mesmo que eu tivesse meu estômago embrulhando só de imaginar o sangue e os cortes. Eu vivia junto de Louis o seu sonho, porque eu sabia que era importante para ele.

Mas ele não parecia disposto a fazer o mesmo por mim e isso me deprimia muito. Ele era parte de minha vida, a melhor e mais importante, mas eu também precisava de uma carreira, de amigos e o mínimo de independência.

Estava perdido em pensamentos, repassando minha conversa de hoje a noite com Niall e Nick quando escutei o barulho da chave e a voz de Louis soltando um palavrão. Mais alguns segundos e ele finalmente conseguiu abrir a porta, rindo por quase ter caído no tapete.

Me levantei e fui até o corredor, parando com os braços cruzados e um semblante irritado, Louis estava caindo de bêbado, tanto que ria de si mesmo pela dificuldade de tirar o casaco.

- Amor! - Ele exclamou feliz ao me ver, caminhando até mim e tentando me abraçar, mas sem sucesso. - Você chegou agora? Veio com quem? Bebeu muito? E o tal amigo do Niall? - Sua voz saiu arrastada por conta da bebida e seu cheiro fazia meu estômago embrulhar.

- Você tem coragem de me perguntar se eu bebi muito quando você mal para de pé?

- O quê? Eu estou bem! Estou sóbrio! - Ele disse se separando de mim e elevando o tom de voz.

Blue Strings - L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora