Completo

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– Seria mentira se dissesse que tem sido fácil. – Comentei soltando um suspiro pesado. – Todas as vezes em que penso que estou curado, acontece alguma coisa para me colocar para baixo. Uma recaída que faz com que eu volte a duvidar de mim mesmo, sabe? – Outro suspiro. – Começo a pensar em Harry e em nossos filhos e no fato de que não estou preparado para isso, em como vou estragar tudo, a carreira dele, os sonhos dele, a vida de nossos filhos... – Fechei os olhos. – Eu quero ser um bom exemplo para meus filhos, não quero trazê-lo para um lar... abusivo. – Confessei, sentindo um nó em minha garganta.

– Louis, terapia é um processo, você vai aprender a lidar com seus traumas e com seus medos aos poucos, um dia de cada vez. – Anna explicou após fazer anotações em seu notebook. – Ninguém vem aqui e encontra todas as respostas depois de uma sessão.

– Eu estou vindo aqui há meses! Já não era para coisas como essa terem passado?

– Terapia é para a vida toda. Você passou anos envenenando sua própria mente contra si mesmo. É claro que isso não irá parar assim, de repente. Mas isso não significa que você não progrediu, você mesmo sabe que sim. Você e Harry estão se preparando para uma mudança muito grande, é normal sentir medo, isso é humano. O que você não pode é deixar isso te sabotar e te privar de viver esse momento.

– E se essas recaídas piorarem? E se meus filhos... – Parei, incapaz de completar a frase.

– Eu escrevi uma carta de recomendação para você e para o Harry. Disse que estavam aptos e que seriam ótimos pais. E essa visão não mudou. – A psicóloga retirou os óculos e foi até a máquina de café. – Louis, todos os pais e mães têm medo por seus filhos, têm medo de não serem o suficiente e todas essas coisas que está sentindo. Isso é absolutamente normal. – Me entregou uma xícara e voltou a sentar-se em sua aconchegante poltrona com seu próprio café. – Mas sabe o que não é normal? Os pais procurarem ajuda para lidar com isso. E você está fazendo. Você e Harry fazem terapias individuais e em casal toda semana. Além disso, já agendaram as crianças para terem sessões semanais de terapia infantil e terão terapia em família a cada quinze dias. Vocês estão tomando mais cuidado com a adoção e com o bem-estar de seus filhos do que qualquer outro casal que eu conheça. Então, acalme-se, permita-se aproveitar o momento.

– Acha que eu estou me sabotando, de novo? – Ri sem humor.

– O que você acha?

– Acho que sim. – Suspirei. – Parece que está tudo tão bom que eu preciso arrumar um problema. Quer dizer, temos uma ótima casa, moro com toda a minha família, Harry e eu vamos nos casar daqui a uns dias, minha mãe está fazendo tratamento, tenho o emprego dos meus sonhos e Harry já foi aprovado em um teste para um novo filme que vai ser gravado no ano que vem e eu realmento estou feliz por isso. – Sorri ao lembrar que comemoramos juntos quando ele recebeu a notícia do filme e eu o levei para jantar, sorrindo bobo ao vê-lo feliz usando uma camisa extravagante. Ele podia usar a roupa que quisesse agora, porque eu não me preocupava mais com os olhares que ele recebia, minha atenção estava totalmente focada no quão lindo ele era. – E vamos buscar as crianças hoje!

– Então aproveite, Louis. Aproveite muito! – Incentivou. – Sempre que tiver pensamentos ruins e sentir-se inseguro, lembre-se de todo o seu esforço para chegar até aqui e de como você merece viver esse momento.

– Você tem razão. Como sempre. – Ri.

– Você está se saindo muito bem, tudo vai ficar bem. Confie mais em si mesmo e aproveite. – Sorriu.

Sai do consultório de Anna com aquela boa sensação que sempre tinha após a terapia. Eu realmente não imaginava que ia gostar tanto de me abrir e de mostrar minhas fraquezas para outra pessoa, mas a terapia era libertadora.

Blue Strings - L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora