Capítulo 2:

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Apenas a olho de relance e depois abaixo a cabeça não sabendo o que dizer, as palavras saíram automaticamente, como se eu não pudesse controlá-las.

— Desculpa, estou distraída. - falei sem pensar, estou envergonhada. ''Eu tinha que ser desastrada logo no primeiro dia? - penso, comigo mesma.

— Calma, não fique nervosa. O primeiro dia é assim mesmo. Onde você quer ir? Na sala da diretora fazer sua matricula? É isso! - ela fala com sua voz elétrica.

— Sim, você pode me acompanhar? - digo tentando sorrir.

— Claro, vem. - ela fala com um sorriso entre seus lábios finos e rosados. — Meu nome é Mary, prazer.

— Prazer, me chamo Laís. - respondo.

Tentei falar coisas que me faça se sentir mais simpática e menos rude quando íamos caminhando em passos lentos, mas não estou conseguindo. Ficamos em silêncio, eu apenas me sentindo diferente com tantos olhares curiosos me olhando, ouvindo alguns  falarem ou dar risada ao me olhar, isso é horrível, ser aluna nova em um colégio super grande é umas das piores hipóteses. Ainda mais com esse corredor que parece não ter fim, isso me deixa totalmente desconfortável. Felizmente chegamos na sala da diretora. Meu coração acelera e minhas mãos suam.  Isso é tão estranho. É apenas uma diretoria.

— Te espero aqui.  - Mary diz. Concordo.

— Obrigada. - agradeço retribuindo o seu sorriso

Respiro fundo e dou duas batidas bem de leve na porta, as maçãs do meu rosto queimam por dentro. Abro-a, me sinto um pouco desconfortável novamente ao ver uma senhora de óculos e postura ereta a minha frente. Séria. 

— Bom dia. Sou Laís Meinday! - falo com as primeiras palavras que saíram de meus lábios.

— Oh, sim! Por favor, sente-se. - a diretora diz arrumando seus óculos que caía até na ponta do seu nariz fino. Parece engraçado.

Minha face queima, nessa hora até  pensei que titia poderia estar aqui, mais a mesma apenas veio fazer a matrícula e eu infelizmente tinha que vir conversar com a diretora. Não sei o que falar e nem mesmo o que pensar.

— Sente-se querida! - a diretora fala com um olhar de gentileza.

Me sento na cadeira almofadada e macia. Sua sala é bem espaçosa, parece escritório de ator de filmes, bem organizado e elegante.

*****

A diretora Silvia fez tudo o que tinha que ser feito, depois de quase uma hora eu saio da sala. Mary me assusta quando saio, foi aí que o sinal bateu para entrarmos. Sinto um frio na barriga, na verdade só hoje perdi as contas de quantos frios na barriga eu venho sentindo. Sorte que já conheci uma pessoa, se não seria pior e, como ela também é nova por aqui, vamos nos dar bem. Tive sorte desta vez, sai com o pé direito de casa, como diz tia Sônia. Espero que neste colégio eu possa preparar meu futuro.

— Não fiz amizade com ninguém, até cheguei a pensar que nunca faria.

Minha nova amiga diz caminhando ao meu lado em direção a sala, ela parecia estar nervosa. Acho que somos duas nessa mesma situação.

— As pessoas daqui não parecem ser legais. - falo olhando para os lados avistando um grupo pequeno de meninas nos olhando com repulsa. 

— Elas não são nada simpáticas. - Mary comenta olhando para a mesma direção.

Desvio o olhar, assim como Mary,  antes que acabe mal,  rimos e entramos na sala. Me conduzo até as carteiras do fundo, não quero me sentar na frente, os professores fazem a gente falar o nome e pergunta sobre tudo, aqui atrás eles podem vir até mim e perguntar em particular. Eu sempre fiz isso e cansei de pagar micos.

— Elas vão estudar na mesma sala que nós. - Mary comenta sentando ao meu lado.

— Se pudéssemos ao menos escolher a sala. - digo com a voz embargada.

Eu sou uma pessoa chata com quem é comigo, cresci aprendendo com a vida e não deixo ninguém me humilhar. Mas não sei lidar com quem mexe com meu passado, me sinto para baixo e não tenho argumentação para me defender. O assunto que eu não gosto de falar é da minha querida mãe, me machuca muito e despedaça meu coração, é um passado muito delicado para mim. Como se ao falar pudesse quebrar um vidro que esta dentro do meu coração e eu começasse a sentir a dor  que senti novamente. Não gosto nem de pensar, me causa desconforto.

O professor começa a aula. Mary e eu fazemos de tudo para se concentrar, mas umas meninas nos olham de um jeito estranho, faziam gestos de provocação. Impressionante como tem pessoas sem escrúpulos, elas devem achar que isso as deixam populares, para mim é ao contrário.

Em minutos bate o sinal para o almoço, minha barriga roncava naquela hora. Fomos até o refeitório pegar o lanche, a fila era grande. Uma delas esbarra em mim de propósito e faz toda a bandeja se espatifar no chão limpo. Minhas bochechas queimam de raiva. Começo assimilar que hoje não está sendo o meu dia de sorte.

— Você não esta me vendo? - minhas palavras saíram tremidas.

— Claro que sim, foi de propósito. - ela diz com os olhos apertados.

— Deve ser típico de você fazer isso. - minha resposta saiu tão rápida que nem pude perceber.

Quando terminei de falar e a outra ia pronunciar suas palavras, Mary entra no meio. O pátio da escola está se formando em círculos de alunos curiosos. Isso não vai acabar bem, preciso dar um jeito de sair desse confronto.

— Laís, a diretora pode vir aqui a qualquer momento. - Mary sussurra me puxando pelo braço.

— Me aguarde! - a garota grita no meio do corredor, parece uma arara com aquele cabelo ridículo, aquela maquiagem e a roupa de grife, vejo que tem um péssimo gosto.

Caminhamos até o pátio e ficamos conversando até soar o sinal para iniciar a terceira aula, agradeço Mary por ter me ajudado a não perder a cabeça . De repente chega outra garota do mesmo grupo. Ela parecia ser simpática e também era a mais bonita delas, seu jeito é diferente das outras.

— Laís não é? - ela fala como se tivesse certeza de meu nome. Acho que o colégio inteiro já deve saber.

— Seja direta. - falo com calma.

— Desculpa, ela sempre foi assim. - ela diz com a cabeça baixa, parece estar envergonhada.

— Obrigada por sua gentileza, mas vou ignorá-la.  - respondo com o semblante sério.

— Sim, faça isso. Rebeca quer ser a dona desta escola e não suporta alunas novas. - a mesma diz aparecendo a ponta de um sorriso em seus lábios. — Prazer, me chamo Amara.

Faço um sinal positivo com a cabeça e sorrio. São tantos pensamentos que se passam, mas senti uma firmeza nas suas palavras trazendo a impressão de a mesma ser legal. Mary e eu tivemos a leve sensação que ela tem um aspecto diferente das outras. Acabamos ignorando e voltamos na sala para terminar um trabalho de história. Primeiro dia de aula com trabalhos horrendos. 

 

Sempre Haverá Motivos Para Sorrir!Onde histórias criam vida. Descubra agora