Saio do colégio e chego em casa agradecendo por o dia ter acabado de uma vez, pois não consigo me concentrar nem um segundo. Antes mesmo de tirar o uniforme fui surpreendida com o telefone tocando. Eu odeio esse toque, me trás arrepios. Para ser mais específica estou com um pouco de receio do toque desse telefone.
— Eli, eu atendo. - grito antes que Elisângela venha em desespero da cozinha.
Respiro fundo antes de atender, algo me diz que não é boa coisa. Ninguém acostuma ligar aqui a essas horas.
— Alô, pois não. - minha voz soa firme.
— Sônia? - estremeço com essa voz. — É você?
Essa voz....rouca e macia, ao mesmo tempo firme e fria. Parece a voz da minha infância, a voz doce, grossa e suave que cobria meu corpo ingênuo na cama e ao mesmo tempo gritava altamente com exacerbação.
— Pai....estou ouvindo sua voz. - meus olhos saem lágrimas sem cessar.
Mas minha esperança some quando o telefone desliga depois que ouço um soluço abafado do outro lado da linha, eu sabia que era meu pai, sua voz saiu abafada como ele cantava para mim nos dias frios, seu tom de voz esta do mesmo jeito de quando tinha meus sete anos. Já basta a solidão que vem de minha mãe, agora papai que está vivo e que deveria estar aqui me dando forças, simplesmente não está. Juro que não queria fazer parte desta vida, não queria fazer parte do mundo. Queria estar com mamãe, apenas isso.
Me sento na cama, passo as mãos automaticamente pelos meus cabelos o puxando com um pouco de força, não consegui sentir a dor, a dor que sento não é física e sim emocional, uma dor insuportável, uma carência de ter um pai que possa me dar carinhos, que possa me levar a passeios, que possa me dar amor. Eu só quero um amor paterno, acho que não é pedir demais. Quero ser normal como todas as outras, quero ganhar presentes de meu pai em dias de comemoração e dizer o quanto eu o amo.
A única coisa que se passa na minha cabeça é as palavras do rapaz que me entregou o saquinho plástico, as malditas palavras dele. Estão me consumindo, estão me deixando louca. Vou quase guiada até meu quarto e pego aquilo em minhas mãos, o cheiro ardia minhas narinas ao abri-lo, eram como se fossem ervas secas. O cheiro me causa ânsia e tontura. Pude perceber que eu poderia apagar de uma vez. Não seria nada mal, já que meu pai finge que sua filha existe, talvez se ele me perder, sua consciência vai ficar pesada pelo resto de sua vida.
Por um momento penso em mamãe, penso que ela poderia estar aqui para me ajudar, mas infelismente não. Juro que não queria que essa droga estivesse aqui, mas por conta da raiva que sinto, da dor e angústia, acabei inalando tudo o que tem nas minhas mãos. Senti as contrações óbvias que aquilo causou, senti o mundo girar, tudo se escurece em um piscar de olhos, apago em um sono profundo.
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Abro os olhos, minha vista esta turva e o lugar que eu estou é completamente branco. A primeira pessoa que vi foi uma enfermeira arrumando o soro em minhas veias e minha tia me olhando com desgosto, então percebo a burrada que eu acabara de fazer. Destruí minha felicidade que está chegando aos poucos. Jonathan, Tia Sônia. Eu simplesmente não pensei neles, eu fui uma tola.
— Vai ficar tudo bem, você vai para casa hoje. - tia fala passando as mãos em meus cabelos.
— Tia eu.... - tentei falar algo, mas foi em vão.
— Não, não fala nada. - tia se inclina para beijar meu rosto. — Eu sei muito bem o que você fez Laís - ela fala mais firmemente. — e eu não estou nada contente com sua atitude imatura.
— Desculpa-me tia, eu não queria fazer isso, mas depois da ligação fiquei muito abalada e não sabia o que fazer. - me explico.
— Ligação. Quem te ligou Laís? - tia pergunta confusa.
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Sempre Haverá Motivos Para Sorrir!
RomanceLaís Meinday é, uma menina mulher muito dedicada aos estudos e principalmente na sua vida, seus objetivos. Ela é exemplar, doce, amigável, apaixonada e carinhosa. Teve muitas experiências desde seus treze anos, mas aprendeu que a vida nem sempre é...