Enquanto deixo o bar cega de raiva, trombo em algumas pessoas e se quer paro para me desculparAs lágrimas caem grossas sobre minhas bochechas, quem esse idiota pensa que é para me acusar de tantas coisas que ele não tem conhecimento?
Quem ele pensa que é pra falar comigo daquela forma?
- Giovana – ouço a voz de Dara me chamar quando piso na calçada e sua mão me segura me impedindo de atravessar a rua - Ei, calma Gio.
- Pode voltar lá e ficar com seu marido e amigo, estou muito bem sozinha – sou rude mesmo sabendo que ela não tem culpa e volto a andar, atravessando a faixa de pedestre.
- Eu não tenho culpa se ele é um bastardo injusto – ela diz gritando e eu paro no meio da rua encarando Dara que caminha ao meu encontro – Eu não concordo com a forma que ele agiu ali e pode apostar, se fosse antes, ele também não concordaria.
- Antes do que? - cruzo os braços.
- Antes dele perder tudo – respira fundo – Ele perdeu os pais, perdeu muitos amigos, perdeu a vontade de viver e perdeu a chance de ser... - para de falar e ergue a cabeça olhando o céu escuro e depois de uns segundos volta a me encarar - Eu não sei como te explicar que ele é muito melhor que isso, ele é um bom homem, só esta cego de raiva.
- Raiva de mim? – franzo o cenho e limpo a umidade das lagrimas em meu rosto – Porque se for, é gratuita, eu nunca fiz nada pra ele, eu acabei de conhecer o Eduardo e a única coisa que fiz de errado desde então, foi me apaixonar por ele.
- Ah meu Deus – Dara arregala os olhos me encarando – Você está apaixonada... ah meu Deus.
- Isso é tão ruim? - minha voz quase não sai e meu coração acelera de medo de sua resposta.
- NÃO ACREDITO - ela grita escondendo o rosto entre as mãos - Meu Deus, isso é horrível.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, um carro buzina nos assustando e ai nos damos conta que estamos atrapalhando o transito enquanto conversamos. Dara segura minha mão trêmula e me puxa para o outro lado do bar.
Ela pega minha mão ainda solta e segura, ambas com carinho, me olhando firme nos olhos enquanto fala.
– Você é uma pessoa incrível, eu precisei de menos de um segundo para notar isso - sorrio forçado e ela continua - O Eduardo está passando por um momento difícil, ele não tem noção do tamanho dos erros que ele está cometendo - ela respira fundo - Você pode ser a salvação dele, mas ele não vai ser a sua.
- Não entendi - sussurro encarando seus olhos claros - Quais erros ele esta cometendo? Porque você diz como se ele estivesse prestes a me ferir ou algo assim?
Dara fecha os olhos e balbucia algo que eu realmente não entendo, parece mais uma prece silenciosa, ela levemente aperta minhas mãos e abre os olhos cheios de lagrimas.
- Você não merece o que ele vai fazer, eu preciso te contar que ele esta men...
- Achei vocês – Eduardo aparece ofegante na nossa frente.
Dara se assusta e solta minhas mãos, ajeito minha bolsa no ombros e me afasto um pouco, Eduardo encara a amiga que desvia o olhar e da um passo em minha direção, tentando segurar minha mão, mas eu me afasto, dou outra olhada na direção de Dara e vendo que ela desistiu de me contar o que quer que seja, me viro e ando para longe deles.
Ando rápido o suficiente, mas obvio que ele me alcança, toca de leve o meu braço na tentativa de me parar, mas eu me esquivo outra vez, esbarrando em um homem alto, me desculpo sem graça e quando o homem sorri pra mim, Eduardo pega minha mão e me puxa para sua frente, me encarando de forma intensa.
- Me desculpa – pede e eu não respondo – Eu não quis ser grosso, eu juro.
- Não quis, mas foi – cruzo os braços e me afasto um pouco dele – Sem motivos, sem explicação alguma.
- Me desculpa – fala pausadamente – Eu perdi a cabeça e me coloquei no lugar do pai da Sophia e me senti mal.
- Não se meta na onde não é chamado, ela não tem um pai, nunca teve e assim vai continuar sendo - falo irritada e ele respira fundo.
- Ela precisa de um pai - diz entre dentes, daqui posso ver a veia da garganta dele se exaltar.
- ELA NÃO TEM PAI – grito sem paciência – Eu e minha avó somos tudo o que ela tem.
- Ela tem a mim agora – não grita, mas diz de forma que impõe sua irá.
- Você não é nada além de alguém que mora de favor em nossa casa - falo ríspida e mesmo me arrependendo de ser tão grossa continuo - Não se meta nos meus assuntos, principalmente se for sobre a minha filha, que para você, não deve ter importância alguma.
Ele fecha as mãos em punho e rosna baixinho, ergo meu queixo em desafio e quando vejo que ele entendeu o recado e não vai me retrucar, me viro e caminho o mais depressa para minha casa.
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Vozinha e Sophia não estão em casa quando chego e agradeço por isso.
Explicar porque estava chorando não está nos meus planos, na verdade eu apenas queria me enfiar debaixo de uma coberta e esquecer tudo isso.
Eu não sei como uma noite agradável se tornou algo tão insuportável assim, eu só queria entender essas mudanças de humor do Eduardo, ele muda da água para o vinho em questão de segundos e eu fico sempre no escuro.
Enrolada numa toalha saio do meu quarto, meu corpo pede por um banho e eu sei que isso é o melhor que posso fazer, ao invés de chorar a noite toda. Paro e respiro fundo quando Eduardo aparece na minha frente. Seu olhar passa por todo o meu corpo, sinto minhas bochechas esquentarem e me repreendo por ser tão fraca ao seu olhar.
- Precisamos conversar - diz baixinho - Resolver as coisas.
- Eduardo, eu quero apenas tomar um banho, esperar minha filha chegar e dormir para esquecer o dia de hoje - suspiro.
- Você não pode ficar com raiva de mim – soa quase desesperado - Por favor, Gio.
- E você não pode me tratar como se eu fosse culpada por Sophia não ter a merda de um pai – retruco.
- Já parou para pensar que ele não participou da vida dela porque foi privado disso? - franzo o cenho - Ele pode ter motivos grandes e talvez...
- Para - ergo uma das mãos e ele se cala - Porque você se importa com o pai da minha filha?
- Eu não me importo – limpa a garganta e desvia os olhos.
- Então para de se meter nesse assunto, isso só diz respeito a mim – volto a lembra-lo.
- E quando ela crescer? – volta a me encarar – Quando ela perguntar do pai?
- Eu invento alguma coisa, falo que ele foi embora, que ele morreu - dou de ombros - Ela não vai precisar dele, eu vou cuidar dela sozinha para não ter que sentir falta de um pai que não existe.
- Você não pode fazer isso com a gente – altera a voz e segura meu braço com certa força.
- Me solta Eduardo - peço puxando meu braço sem sucesso.
- Você esta sendo mesquinha, pensando apenas em você - me puxa para perto e rosna com o rosto quase colado ao meu - Você diz que é boa mãe, mas na verdade não passa de uma farsa, privando a menina de ter um pai, de ter alguém que a defenda.
– EU NÃO SEI ONDE ESTA O PAI DELA, NUNCA SOUBE, SATISFEITO? - puxo meu braço com tudo batendo as costas na parede, ele arregala os olhos com a minha reação e engole seco.
- Você não conhece o cara? - cruza os braços fazendo seus músculos se exaltarem.
- ME DEIXA EM PAZ – bato com a mão aberta em seu peito o afastando mais de mim – Eu não vou mais permitir que você entre em assuntos que não lhe diz respeito, minha vida, minha filha, meus assuntos.
Passo por ele e entro no banheiro batendo a porta com força demais, tranco a porta para não correr o risco dele entrar e me encosto na madeira, meu coração bate acelerado, meus olhos ardem por conta das lagrimas e meu corpo se encolhe quando ouço o barulho alto de outra porta batendo.
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Mãe por ACASO
RomanceGiovana Leal, é uma jovem estudante de arquitetura, no auge dos seus vinte anos, sonha com o seu diploma e batalha para dar uma vida melhor para sua avó, a quem deve a vida e tudo o que se tornou hoje. Determinada a crescer na vida, se esforça traba...