- Meu Deus – meus olhos se enchem de lágrimas.E eu vou me aproximando mais de todo mundo.
- Giovana, graças a Deus – Lia aparece na minha frente – Você e o bebê estão bem, achei que estavam lá dentro.
Olho para ela, como assim? Minha vó iria avisar que não tinha ninguém na casa, porque estavam achando que estávamos la dentro, se vovó certamente os acalmaria?
- Cadê a minha avó? – olho ao redor.
- Gio - ela me olha com pesar.
- Cadê a minha avó? – repito a pergunta voltando meus olhos pra ela.
Lia não me responde, isso me deixa apavorada, então me afasto dela e do carrinho do Benjamin. Vou olhando ao redor, passando meus olhos desesperadamente por cada rosto, pedindo a Deus que encontrasse o dela de uma vez.
Os bombeiros correm de um lado para o outro, um deles esbarrou em mim e nem me importei por não ter ouvido seu pedido de desculpas. Vejo dois policiais cercando o lugar, para que ninguém se machuque, paro no meio do caminho e fico girando sem sair do lugar, buscando por ela.
- VÓ – grito alto para que ela me ouça e venha até a mim. Mas ela não vem.
Volto a andar e caminho apressada até um bombeiro, paro em sua frente e ele me encara sem paciência alguma.
- O que foi menina? - resmunga.
- Eu... eu moro na casa - sussurro sentindo meus olhos queimando por conta da fumaça.
- Sinto muito – sua expressão fica mais suave.
- A minha avó, eu não acho ela em lugar nenhum, você pode, por favor, me ajudar a encontra-la? - peço com a voz trêmula.
- Como você se chama? - pergunta me puxando para o lado, quando outra equipe de bombeiro passa por nós correndo na direção do fogo.
- Giovana - engulo seco.
- Onde sua avó estava, Giovana? - fala comigo como se eu tivesse cinco anos de idade.
- Na casa – sussurro.
Ele respira fundo e olha para cima, antes de voltar e me encarar, tira o capacete e coça a cabeça com a outra mão, o barulho dos vidros quebrando por causa do fogo me deixa desesperada.
- Eu lamento muito, de verdade – respira fundo.
- Vocês chegaram a tempo não foi? – sorrio nervosa – Tiraram ela de lá, eu sei que sim, agora só me fala onde ela esta, por favor?
- Nós não tiramos ninguém da casa – abaixa a cabeça sem jeito – Se quer conseguimos entrar, o fogo não cessa.
- Minha avó está lá dentro? – olho para a casa em chamas - Ela está na casa?
- Sim - sinto sua voz fraquejar - Ela esta na casa.
~~~~
Eduardo
- Casa da ex mulher e mãe dos filhos do empresário Eduardo Landutti, está coberta por fogo, não temos informações concretas, mas os vizinhos temem, pois para o desespero de todos, acreditam que Giovana Leal, sua avó Dora Leal e o herdeiro mais novo, Benjamin Landutti se encontram na residência, carros de bombeiros foram acionados e estamos no aguardo para mais informações – dirijo feito maluco pelas ruas, enquanto ouço aflito a mulher da rádio falando.
- Infelizes, eu vou mata-los - rosno socando o volante - Por favor, Deus, não faz isso comigo, não faz.
Se algo acontecer com eles, não vou me perdoar, eu não vou aceitar que nenhum dos três paguem por um ódio que é destinado a mim.
Meu celular não para de tocar, mas não vou atender, eu preciso apenas chegar lá e ver com os meus olhos que todos estão errados, ver que os três estão bem e longe do perigo.
- Porra - rosno quando vejo o trânsito que esta quando chego a três quarteirões de onde eles moram.
- As ruas estão interditadas - um policial avisa quando saio do carro para olhar a situação.
Sem me preocupar em estacionar, o deixo ali mesmo e corro o mais rápido que posso, o desespero tomando conta de mim por ver a quantidade de fumaça poluindo o lugar.
Vou passando entre pessoas e carros, não me preocupo em me desculpar com quem eu esbarro, meu único interesse é chegar até eles.
Finalmente chego na rua, me desespero ao ver tanta gente e não conseguir de imediato encontrar Giovana. Suado e ofegante paro perto de um carro de bombeiro, meu peito aperta ao ver a casa sendo destruída pelo fogo.
Caminho apressado pela pequena multidão de curiosos que ali estão, até que respiro um pouco aliviado por ver Giovana a poucos passos de mim.
~~~~
Giovana
Me afasto do bombeiro e vou caminhando lentamente em direção a casa. Meu peito grita desesperado, meu coração se despedaçando a cada passo.
- Você não pode chegar perto, é perigoso – o homem fala atrás de mim.
- Minha vó – sussurro perdida no pavor de saber que ela esta ali dentro, sendo consumida por dor e fogo.
- Moça se afasta – um policial fala comigo e eu ignoro.
O bombeiro me abraça e esconde meu rosto quando uma explosão acontece, escuto o barulho dos vidros sendo destruídos e o desespero me domina completamente.
- EU PRECISO TIRAR ELA DE LÁ - empurro o bombeiro e olho em seus olhos - TIREM ELA DE LÁ.
- Sua avó não tem chances, a casa esta tomada por fogo – ele diz com pesar – Não podemos deixa-la em risco também, se afasta.
- VOCÊ SE QUER VAI TENTAR? - grito e nego com a cabeça.
Ele não diz nada, apenas me olha como se isso fosse trazer minha avó pra mim. Desvio dele rapidamente e começo a caminha em passos largos em direção ao fogo.
- GIOVANA – escuto Lia me chamar e a ignoro - SEGUREM ELA.
- Você não pode passar – um policial entra na minha frente e abraça meu corpo quando tento passar por ele.
- AHHHHHHHHHHHHH – grito sentindo o desespero rasgar minha garganta e caio de joelhos no chão – TIREM ELA DE LÁ, TIREM MINHA AVÓ DE LÁ.
Eu grito como se isso fosse libertar a dor que estou sentindo, mas nada resolve, estou sendo rasgada por dentro, pedaço por pedaço esta morrendo junto com a esperança de ver minha vó saindo da casa com vida.
- Sua avó não tem chance de viver e se continuar aqui, vai perder a sua chance também - me levanto irritada com o policial que insiste em ficar em minha frente - Sai daqui e vai agradecer por estar viva.
- Eu vou salva-la - aviso como se pudesse mesmo fazer isso e quando ele tenta me bloquear mais uma vez, ergo o joelho e acerto o meio da suas pernas.
Eu não sei o que estava pensando ao certo, eu só queria entrar e tirar minha avó daquele inferno, ver mais uma vez seu sorriso e ouvir mais uma vez que ela me ama.
- GIOVANA NÃO FAZ ISSO - escuto de longe, mas meu desespero não me deixa reconhecer o dono da voz.
Continuo correndo como se fosse mesmo adiantar, como se eu fosse conseguir. Quando passo pelo portão, sinto o baque de um corpo se chocando com o meu, caio no chão com alguém em cima de mim, em seguida uma explosão assustadora faz a casa cair diante dos meus olhos.
- NÃO – grito sentindo tudo em mim ser consumido pela dor.
- Sinto muito amor – reconheço a voz, sei que é o Eduardo – Me perdoa, me perdoa.
- Vozinha – sussurro virando meu rosto incapaz de continuar olhando a destruição que o fogo esta causando na minha vida.
Meus olhos estão embaçados, mas antes de me entregar a escuridão, consigo ver Ícaro e Carmen escondidos no meio da multidão, com um sorriso maldoso nos lábios, enquanto observam minha vida sendo destruída.
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Mãe por ACASO
RomanceGiovana Leal, é uma jovem estudante de arquitetura, no auge dos seus vinte anos, sonha com o seu diploma e batalha para dar uma vida melhor para sua avó, a quem deve a vida e tudo o que se tornou hoje. Determinada a crescer na vida, se esforça traba...