Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINAL

Princípios não contábeis - Parte 01

Merda! 

Eu xingo muito alto naquele fim de tarde após ter sido arregaçado por Braz. 

Esqueci que tinha combinado com Edu de levá-lo para cortar o cabelo, meu menino de oito anos a quem chamo de Stark por sua paixão pelo Homem de Ferro, que por essa paixão, mudei o toque do celular para Iron Man do Sabbath. Tenho também uma menina a Rafaela com doze anos, que dizem ser a minha versão feminina.

Fiz menção ao casal de filhos que tenho com minha ex-mulher, Iraci que em minha opinião é belíssima, muito calma e uma mãe maravilhosa. Pelos filhos lindos que temos, mantemos um bom relacionamento pelo qual tenho me desdobrado para não falhar outra vez.

Achei interessante fazer um retrospecto do início de meu caso com Braz bem como alguns momentos desse caso conturbado.

Aqui começa o imenso flashback...

*

Há seis anos atrás... em 2010.

No escritório ouço uma batidinha na porta de minha sala e logo Mauro, que é chefe do Departamento Contábil põe sua cabeça para dentro e pergunta:

— Bom dia, muito ocupado Túlio, tem cinco minutos?

— Com certeza, entra. — Estendo a mão para cumprimenta-lo. ­— Me conta, nasceu a sua princesa?

— Quase Túlio, a Lívia completou quarenta semanas e há qualquer momento a Gabi vem ao mundo. — Mauro limpa a garganta, usando isso como sinal para mudança de assunto. — Preciso encerrar o exercício e tenho uns inventários pendentes lá das empresas do Braz. Solicitei por e-mail umas quatro vezes e nem a merda me mandaram, então resolvi ligar e quem me atende? 

—O Braz. 

— É. Eu preferi não me indispor com ele e até pedi desculpas pela insistência, mas o homem ficou furioso. Fica complicado pra você ir lá conversar como ele pessoalmente? Você tem o dom de convencer qualquer empresário cabeça dura a pensar como contador.

— Quem me dera ter esse dom.

— Eu só acho que é questão de conversar. Tá em cima do prazo. Tô um mês e meio perturbando o cara.

Dou uma suspirada e passo a mão pela minha cabeça raspada.

— Estou aqui para esse tipo de coisa, mas fico irritado quando esperam demais para me passar esse tipo de situação. Eu sei que sua equipe é competente, só que quando atrasam os fechamentos temos que vir aos sábados fazer mutirão para deixar em dia. Eu vou hoje mesmo, melhor, vou agora lá.

— Melhor é marcar hora com o empresário de "Neandertal", ele não vai te atender, já comentei com você que ele é instável, acho até que é bipolar porque tem hora que explode e cinco minutos depois te trata bem como se não tivesse ocorrido nada.

— Tô saindo e de lá vou direto para casa. Sou homem que não deixa para depois, você sabe disso e já que minha "agenda" tá tranquila melhor resolver de uma vez.

.

Uma volta de carro é boa para um momento reflexivo. Procuro meu pen drive necessitando de umas palavras de Renato Russo, mas encontro o pen drive rosa de minha filha, onde copiei músicas que as crianças gostam e percebo o quão rápido o tempo passou... porque Rafaela mal completou sete anos e já odeia as músicas infantis que a faziam pular e dançar há três anos atrás.

Sempre me dedico tanto à contabilidade, sendo na formação ou trabalho que estou deixando as melhores coisas passarem voando.

Quase na metade de janeiro numa cidade litorânea, o trânsito está irritantemente lento. Observo alguns enfeites de Natal que foi há duas semanas, os calçadões cheios de gente e o comércio a ferver. Avisto o grande supermercado no qual conhecerei pessoalmente o polêmico Braz. Seu Camilo, meu patrão, sempre lidou diretamente com seu Joaquim, o pai de Braz, mas depois que os mentores dos respectivos mercado e escritório, saíram da jogada no intento de usufruir de seus ganhos de capital e gozarem um pouco a vida enquanto ainda se tem saúde e disposição, eu assumi a gerencia da contabilidade e Braz, sua rede de supermercados.