Decisões - Parte 01

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Fazem poucas horas que sai com Braz a público pela primeira vez. Estamos deitados um nos braços do outro e custo a pegar no sono de tanto pensar sobre o que ele quer conversar comigo, sentindo que vai ser algo meio decisivo. Não conheço uma pessoa sequer com quem eu poderia conversar, sendo que conselhos não me farão mudar de opinião, apenas seria muito válido poder desabafar.

Olho aquele homem grande, peludo e muito másculo a dormir com braços possessivos a me apertarem contra o seu corpo deliciosamente quente e me bate um medo muito grande de lhe perder.

Demorei a pregar o olho, então devido ao sono ter vindo tardio eu acordo-me tarde quando ele não está mais do meu lado. Enrolo-me de qualquer jeito no próprio lençol para buscá-lo pela casa onde não há nenhum vestígio dele, nem mesmo seu carro. Sinto uma dor no peito, um grande medo e insegurança ao pegar o celular para lhe ligar. Penso que talvez ele se afaste de mim por um mês como ameaçou e o tempo para pensar e tomar uma decisão já está correndo.

O que será que ele quer que eu faça? Que vire porta estandarte da ala LGBT?

Enquanto meu café desce lento na cafeteira penso nos aspectos de minha vida que serão afetados.

Minha família, onde meu pai educou-me de modo que eu pensasse como ele a respeito da homossexualidade como algo errado; meus amigos, será quantos destes ficarão ao meu lado sem preconceito?; na empresa, será que manterei o respeito de meus funcionários para comigo; meus filhos, o que se passará em suas cabeças inocentes quando seus amigos apontarem para o grande herói de suas vidas como se eu fosse o vilão?

Tudo isso é demais na contrapartida de viver um romance com um homem, o qual nem sei se vai dar certo. Estou apaixonado por um homem e meu coração dói por ele, que acabo deixando minhas lágrimas correrem pelo meu rosto como chorei quando minha amada mãe partiu e eu tinha apenas quinze anos. Braz precisa entender-me que é demais para mim.

Ligo incansáveis vezes para ele que não me atende, me levando a crer que não teve coragem de despedir-se. Decido deixá-lo em paz e desta forma terei chance de me refazer aos poucos e consertar o que fiz de errado. Meu domingo passa sem que eu encontre paz de espírito, odeio esse dia, porque passa lento quando preciso desesperado da segunda feira para voltar a minha vida normal como era antes.

Na segunda bem cedo eu percebo apenas quando chego ao meu banheiro para olhar minhas olheiras fundas, que não fiz a barba e tenho uma reunião com um empresário na área de bares e restaurantes, que veio por indicação de um amigo de Braz.

Braz, o nome me faz doer a garganta outra vez.

- Kelly, quando o Seu Dominguez chegar me liga e não o deixe esperar, por favor. – Ela fica vermelha e me olha assustada, talvez porque nunca me viu com aquela aparência meio descuidada.

- Tudo bem com você? – Ela ousa perguntar, me surpreendendo ao vencer sua timidez de sempre.

- Não, mas vai ficar. Estou no celular.

- Túlio tem cinco minutos? – Mauro me aborda quando estou voltando a minha sala.

- Agora?

- É jogo rápido. – Mauro tem uma expressão muito séria no rosto. E quando fechamos a porta ele vai diretamente ao ponto. – Cara, nem sei como lhe dizer, mas surgiu uma boa proposta e sempre te falei que queria ter meu próprio escritório. Ainda pretendo ficar até as coisas começarem a engrenar por lá, mas já quis te prevenir.

Quando a semana começa assim, é uma bomba atrás da outra.

- O que eu posso te dizer, Mauro? Você é um profissional muito competente que esse escritório não quer perder, gostaria que pensasse no que podemos acertar para que você não precise sair.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora