Quando volto a sua sala me vejo sozinho e minhas roupas dobradas sobre sua mesa, de repente a porta abre e ele entra com a camisa completamente aberta, de calça e meias.
- Fecha essa merda, ainda não me vesti.
- O pessoal está em horário de almoço, está sem carro hoje? Almoça comigo e te deixo em casa.
- Casa? Eu trabalho, Braz. Cadê o pen-drive? – Procuro em volta, mas acho em sua mão de onde arranco irritado.
- Almoça comigo, deixa eu te pagar pelo menos o almoço. - Ele diz-me sorrindo.
- Vai tomar no cu. – Terminei de me vestir e só quero ir embora, pois tem horas que me volta o juízo e sinto vontade de sumir. Saio de sua sala batendo com força a porta outra vez, querendo apenas voltar para meu mundo.
Chamo um táxi e volto para a contabilidade onde estou seguro contra o mundo de pessoas que vivem a vida de verdade, deixando um recado no Skype de Kelly que não voltou de seu almoço ainda. Soco com raiva meu arquivo de latão pela primeira vez que faz um pequeno amassado. Não tenho fome e pelo meu estado confuso, sinto vontade de chorar como há uns quinze anos não acontece, mas não consigo e isso faz um nó doloroso em minha garganta.
Mauro chega antes dos outros funcionários e vem direto a minha sala onde me pega com a cabeça apoiada em meus braços.
- Túlio. – Sua voz me assusta. – Caramba, cansei de ligar, até que a secretária do mercado disse que você estava numa reunião a portas fechadas com o Braz.
Ele põe a chave sobre minha mesa e não ameniza sua expressão preocupada.
- É o divórcio, não é mesmo? – Minto, concordando com a cabeça para que ele não venha querer apurar o assunto. Estou confuso demais, precisando de uns momentos a sós comigo.
- Desculpa, Mauro. Estou cansado, estão aqui as informações que você solicitou.
Ele pega o pen drive e diz:
- Precisa descansar mesmo, quando foi a última vez que tirou férias? Estou há seis anos aqui e nunca o vi pegar mais que uma semana.
- Entrei aqui aos dezesseis, quando fazia o segundo grau técnico eu era o faz tudo, me afastei um ano que fiquei no exército, depois na empolgação da idade fui vendendo todo ano e quando a Ira engravidou então, férias para mim são apenas provisões do passivo ou nas Despesas Administrativas no Plano de Contas de uma empresa. Não vem ao caso.
Levanto para ir embora, enquanto caminho penso que todos ali sabem o que me aconteceu e não encaro ninguém diretamente nos olhos.
- Kelly, qualquer coisa eu estarei no celular, pode me ligar para o que precisar.
- Tudo bem, Túlio? – Ela me faz virar para olhar em seus olhos que parecem vermelhos por ter chorado.
- Amanhã conversamos querida.
Em casa, largo meu corpo na cama completamente esgotado. Eu estava bem até aquele assunto do inventário ter começado e quem sabe poderia ficar mais uns vinte anos sem férias. Penso em tudo que me aconteceu desde as nove e trinta da manhã quando ainda apertava a mão do Crésio, depois um homem dizendo-me estar apaixonado e depois disso fazemos sexo onde me torno sem questionar o passivo no ato. Meu medo está em pensar no que dizer às pessoas que me conhecem se descobrirem, como olhar para meus filhos e como confrontar meus princípios e pré conceitos com a minha ânsia por aquele corpo de macho ao qual eu me dei por inteiro. Estou com a cabeça cheia de preocupações e meu pau endurece quando penso em Braz.
- Que merda! – Eu fico puto comigo. Isso não pode me acontecer a cada vez que pensar em coisas relacionadas as suas empresas, pois a Razão Social delas após a última alteração contratual é exatamente Braz Joaquim Vieira Eireli. Nada vai mudar enquanto eu estiver fechado em meu casulo, quero ou não esse homem como meu? – Quero.
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Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINAL
RomanceFinalizado! Romance entre duas "personalidades" que se chocam violentamente. Túlio é contador, estressado e escorpiano. Braz é comerciante, esquentado e taurino. Combina? Conteúdo (muito) adulto. Descrições de (muito) sexo. LGBT. Se você estiver le...