Previsão de Longo Prazo - Parte 01

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Assumir minha relação com Braz é crescer finalmente. Não suporto mais viver desconfortavelmente em cima do muro.

Sou homem, pai e profissional, falta-me ser o companheiro e conviver com isso. Preciso agir sem perder mais tempo. Não tenho anunciar num megafone ou publicar em diário, mas posso matar no peito cada bola que chutam em minha direção. Na teoria parece muito fácil. Vou a prática então.

Iraci minha ex, sabe e respeita e meu patrão sabe, abomina, mas respeita. Sei que ainda aparecerão os que são contra, os que me julgarão e me atirarão pedras. Tive muito tempo para pensar e não há como me resguardar e deixar Braz levando isso sozinho. Ele disse-me certa vez que meu amor será medido quando eu enfrentar o mundo para defendê-lo.

Pretendo hoje neste sábado ser o namorado dele, aquele que Braz merece.

Tento me levantar...

- Ei, não levanta. – O peito de Braz está quase fundido às minhas costas. – Deixa eu te comer de ladinho, assim com as pernas fechadas, hummm?

O que eu faço? Eu não quero ser o cara que só pensa em sexo, mas ele não favorece minha tentativa de mudar. Não tem como pensar direito com aquele cacete duro roçando-me e forçando minhas pregas no seco.

- Vai me visitar no hospital?

- Por quê? – Braz me pergunta.

- Quando eu estiver internado com o cú rasgado.

- Meu Senhor do Bonfim, que criatura fresca.

Ouvimos vozes altas na sala e pulamos da cama na cena mais cômica que alguém poderia ver. Saio catando minhas roupas pelo quarto, vestindo-me em tempo recorde.

- Seus pais?

- Raios, se veste rapaz. São sim...

- Eu já estou vestido...

A porta abre e um casal com olhos arregalados olha para o Braz só de cueca.

- Isto é jeito de tu receberes tua mãe e teu pai, com estes trajes? Opá! – Um imenso homem de bigode, cabeleira vasta e grisalha, abre os braços calorosamente.

Braz não se faz de rogado e caminha assim mesmo, seminu, para abraçar a cada um demoradamente, enquanto eu procuro minha cara pelo quarto.

No meio da enxurrada de palavras com aquele sotaque lusitano eu sou introduzido à conversa.

- Esse é o Túlio. – Braz me apresenta a seu pai que aperta forte minha mão - Esse é para casar, pai.

- Muito prazer, seu Joaquim.

- Olhe Túlio, se eu disser que não me agrada saber que meu filho macho prefere um gajo do que...

- Joaquim, cala-te... – Minha sogra me abraça e sorri, mas o senhor bigodudo me olha sério como se estivesse meio enciumado. – Eles não têm que agradar ou desagradar, são adultos, ora pois. Mas estávamos a conversar que nosso Braz está mais calmo depois que te conheceu. Braz Joaquim, anda, te vestes seu desavergonhado. Olha como deixas ele vermelho com tua nudez.

A mãe de Braz vai me puxando pelo braço para ir com eles até a sala e comenta:

- É tu o contador que fisgou aquele miúdo? Saibas que meu filho fala muito bem de tua pessoa. Não é Joaquim?

Ele resmunga emburrado e a mulher o acotovela com força.

- Sim, é como Maria diz. – Ele demonstra que alguns portugueses não mandam em casa fugindo a regra que classifica os lusos como machistas. Já gostei da minha sogra. Do sogro, eu ainda não sei, é meio difícil gostar de alguém tão parecido comigo. - Quero conversar com ambos mais tarde, aqueles assuntos dos mercadinhos.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora