Clientes e Fornecedores - Fora do Plano de Contas - Parte 01

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Há anos que tenho o hábito de correr na praia das seis às sete da manhã. Assim mantenho-me no peso certo sem pagar uma academia. Ainda de quebra, ouço quaisquer músicas que têm uns quinze ou vinte anos pelo menos e que me fazem viajar totalmente fora de minha realidade. Da turma que cresceu lá pela década de oitenta e noventa, conheço muito poucos que não curtem um Raul, Lobão, Cazuza e Legião, de quem sou fã, principalmente do Renato com suas letras que falam à minha alma.

Acordo-me cedo ainda enlaçado pelo abraço quente de Braz e isso me faz "enforcar" a praia naquela manhã. Tomo um rápido banho e desço para fazer o café e esperar ele acordar para conversarmos um pouco. Tive uma noite de sonhos ruins com Braz e minha família e provavelmente não terei um dia tão tranquilo. A melhor forma de começar é resolvendo algo que me perturba e estou pouco me lixando se Braz não quer conversar. Preciso parar de agir feito tolo.

- Bom dia, contador. – Ele me beija antes de sentar-se comigo a mesa.

- Braz, o que houve ontem? Cara porque indicou meu escritório ao seu ex?

- Eu indiquei? – Braz parece irritado ou é bom ator.

- Quando o bombom de chocolate me ligou, avisou de antemão que você o direcionou ao nosso escritório, disse que elogiou nosso trabalho e mais um monte de bajulação... – Eu suspiro cansado. – Olha, fala se quiser, eu estou farto.

- Farto? No Primeiro ciúmes já fica cansado, como acha que se constrói uma relação? Acho que você confiava em sua ex, ou ficava surtando cada vez que ela olhava para o lado? Eu não estou te fazendo de trouxa e não tenho como te provar. Acho que confiar é considerar a outra pessoa, ponha-se no meu lugar às vezes.

- Certo, vou fazer isso. Mas por que...

- Nós mexemos em alguns corredores e eu quis aproveitar a mão dos repositores para ajudar a arrastar as prateleiras. Meu corpo está moído, cara. Eu disse que estava cansado. E quanto ao bombom de chocolate, o produto do Carlinho tem grande aceitação e trabalhamos muito com venda consignada porque ele tende a ser sazonal, entende? Marquei com ele as dezoito porque se marcar durante o horário comercial, não atendo mais ninguém, ele não fecha a boca.

Eu não quero duvidar de Braz.

- Mas indicou nosso escritório...

- Chega Túlio, chega. Hoje está uma sexta feira linda e vai dar sol. Não quero discutir logo cedo. Eu não tenho nada com aquele cara, entende isso. Foi antes de eu te conhecer, já te falei.

- Porque está gritando?

- Ah fica quieto. Eu não indiquei exatamente seu escritório, aquele puto fica "chorando" cada vez que vai lá por tanto imposto que paga e acha que toda vida está tudo errado e eu disse para ele ver com outra contabilidade o que pode ser feito, foi onde ele pediu se a minha contabilidade era boa e eu disse que não tinha do que reclamar. Entendeu?

- Sim, mas...

- Chega, pela última vez. Não comi o cara ontem, escutou o que eu disse? – Braz está extremamente alterado. – Eu volto à noite para te ver e já fica avisado, se eu perceber algum beiço por causa daquele assunto, Túlio, eu vou brigar com você.

- Mas você ficou sozinho com ele estando o mercado fechado?

- Eu tenho um álibi.

- Se esse ficou fora da sala e vocês dois trancados, o álibi não vale. – Nessa altura já estamos rindo e ele me abraça.

- Não precisa de ciúmes, basta você fazer uma coisa mínima: olhar-se no espelho. Você não imagina o quanto me atrai. Se não acreditar nisso, olhe dentro de si.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora