Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINAL

Passivo sendo descoberto(?) - Parte 02

Seu Camilo que me demita, cansei disso. Pior que a tarde terei que atender Rosa, outra pessoa excêntrica.

Rio sozinho em meu carro quando me lembro da cara daquele corno desgraçado, um cidadão de menos de quarenta anos que levou uma bela peruca de touro de uma tia de quase sessenta. Acho que não será mais fácil lidar com Rosa, afinal ela foi amante do seu Camilo e o pivô da separação dele com a primeira esposa. Não satisfeito meu patrão me conta que a mulher é ninfomaníaca e para um cara casado há uns bons anos onde sexo fica em segundo plano, visitar aquela cliente era uma grande alegria para ele.

Na contabilidade percebo que voltei a ser o cara estressado e sem paciência que era quando casado. Deve ser falta de sexo, penso com uma risada.

- Kelly, onde foi o Mauro?

Ela fica vermelha, roxa e gagueja me irritando.

- Férias, dez dias Túlio, lembra?

- Porra, você tem compromisso à tarde?

- Hã? – Ela fica ainda mais nervosa. – Aqui?

- Tenho uma cliente para atender e preciso levar alguém junto, certo? Pode ser?

- Claro. – Kelly responde com um sorriso largo.

No meu almoço ligo para o Braz e o tranquilizo sobre Iraci.

- Menos mal. Viu só Túlio, nem todo mundo vem contra nós com duas pedras na mão. Só falta o resto do mundo. – Ouvir a voz grave com aquele leve sotaque luso é sempre de arrepiar os pelos da nuca.

- Não sei se vou aguentar até quarta-feira. – Eu preciso dele o tempo todo.

- Vai sim. A convivência leva rápido à rotina e briga, vamos levando assim que está perfeito.

- Quando era um caso, você queria ficar comigo todos os dias. Sabe o que parece, que o tesão está diminuindo. – Eu desconto nele minha raiva.

- Olha cara, relacionamento não é feito só de sexo. Não fica achando que a gente tem que manter isso como obrigação a cada encontro. Você foi casado e sabe bem como funciona.

- Então o sexo comigo está ficando sem graça?

-Eu amo fazer sexo com você. Para de ser tão infantil, caramba. – Ele fala alterado comigo.

- Sexo? Não fazemos amor então? Nem sei por que te liguei, você me irrita.

Desligo na cara dele. Até me arrependo, mas que se foda. Devo estar de TPS – Tensão Pós Salarial. Ou o tal do Valentin me tirou do eixo mesmo.

Tenho tanta coisa na minha cabeça no momento.

Busco Kelly no escritório, para chegarmos às quatorze horas na casa de dona Rosa. Noto a cara de decepção da mulher ao nos ver, que me leva a crer que aguardava o seu Camilo ou pelo menos um homem sozinho. Somos bem recepcionados, diferente do que me ocorreu no turno da manhã com seu ex-marido.

Quinze minutos após a nossa chegada, Rosa comenta que Valentin e ela foram casados por menos de dez anos e que ele já a havia agredido fisicamente, traído muitas vezes e devido aos ciúmes e o fato de ser mais velha que ele, era constantemente humilhada. Sinceramente eu não estava com saco para ouvir aquela ladainha até ela falar em alto e bom som.

- Valentin casou comigo, era todo apaixonado, mas descobri logo nas primeiras traições que ele usava o casamento como fachada para esconder seus gostos estranhos, ele é uma tremenda bicha.

Eu e Kelly nos olhamos meio assustados e sem comentário algum, ficamos quietos aguardando nossa vez para falar.

- Como eu estava dizendo, uma bicha que não gostava de mulher. Eu ficava em brasa de tanta vontade de ter um homem na minha cama, foi onde eu tive uma aventura fora do casamento.