Declaração não Contábil - Parte 01

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Ainda há seis anos antes.

Por volta do final de janeiro têm feito noites tão quentes que o ar condicionado de meu quarto parece não estar resfriando o suficiente. Após um banho frio meu corpo começa a suar rapidamente outra vez, não lembro se já me aconteceu de sentir-me assim tão encalorado antes. Não sinto o menor apetite apenas muita sede, então abro uma cerveja bem gelada a qual bebo sentado em minha cama fechando os olhos para sorvê-la de maneira bem lenta, decidido a me desligar do mundo contábil para tentar achar soluções para o resgate de minha família e meus amigos.

Penso na possibilidade de férias, pois é o que preciso e não exatamente o que quero, mas sim, eu irei goza-las. Chega de ser escravo da profissão, prometo a mim que darei um basta nessa relação masoquista que tenho com meu trabalho. Talvez fazer uma pequena viagem com as crianças. Chego a pensar em Iraci, mas não me concentro nela, afinal a libertei da nossa convivência para ambos termos uma nova chance.

Busco na geladeira outra cerveja e mais tarde outra. Tento lembrar-me de uns assuntos que abordarei amanhã com um cliente que me pediu uma análise tributária de sua empresa que é Presumido e quer ver se lhe é viável migrar para Lucro Real. Pensei até ligar o notebook para iniciar a análise, mas não tenho tesão para fazer isso. Na quarta lata eu observo que na mesa da cozinha tenho uns extratos bancários os quais trouxe para fazer a conciliação naquela noite. Não consigo fazer nada, além de me encaminhar para a cama onde me largo zonzo.

Começo a rir sozinho, "quatro latas e estou zonzo, preciso sair e beber mais".

Esvazio a bexiga umas três vezes do excesso de líquido e logo sou "agarrado pelos braços" de um sono bom que há tempo não tinha.

O som de um trovejar me desperta no meio da madrugada, seguido pelo barulho de uma chuva forte e refrescante de verão que me faz desligar o ar e abrir a janela para entrar aquele frescor delicioso, então caio na cama outra vez. Por mais que não esteja mais tão quente eu sinto meu corpo se encher de calor outra vez, tanto que sou obrigado a retirar minha camiseta para ficar apenas com uma folgada bermuda de dormir. Vejo nos pelos dos meus braços, nos poucos pelos do meu peito e meus mamilos o quanto estou arrepiado mesmo sentindo-me febril. Minhas mãos parecem obedecer algum comando sobrenatural e descem lentamente por meu tronco pousando em minha ereção repentina. Sinto ondas estranhas de prazer que fazem contorcer-me enquanto liberto da parte de baixo da roupa meu pau que endurece carente. Tenho certeza que ele nunca ficou assim, do nada, sem ser provocado. Não quero tocar nele, pois ele me traía como se tivesse vida própria, ansioso por aquelas mãos imensas e másculas, que jamais me tocarão outra vez.

Preciso de um banho frio, mas não consigo levantar da cama, pois meu amante invisível me acaricia, agarra meu pênis e descendo lentamente a pele que cobre minha glande, abro meus olhos para ter certeza que estou só no quarto fixando o olhar no pequeno orifício donde brota meu liquido lubrificante formando uma gotícula cristalina que se acumula o suficiente para escorrer por minha longa e pulsante rola. Não vou me tocar, não devo, mas preciso. "Seu filho da puta", minha voz xinga alto aquele homem, cuja lembrança faz meu corpo se contorcer ao agarrar meu pau e masturbá-lo com desespero para me livrar-me de uma vez daquele tesão desgraçado, não gozo, não me vem o orgasmo e isso me irrita. Meu corpo forma um leve arco na cama, minhas pernas afastam-se e minha punheta é cada vez mais vigorosa.

- Caralho. Chega. - Eu grito porque não consigo gozar, por quê? - Me recuso a pensar naquele cavalo.

Levanto da cama num salto e vou finalmente para o chuveiro frio. Amanhã me demitirei, me mudarei de cidade, estado ou país, isso certamente não vai me proteger do sujeito o qual me proíbo de pensar até mesmo em seu nome, certamente não adianta fugir.

- Merda, meu pau tá duro, preciso gozar... - minha voz ecoa no banheiro sofrível me fazendo segurar meu cacete mais uma vez para acabar com a tortura, então digo sussurrante... - Ah, Braz...

Gemo alto de tesão ao atingir meu clímax, olhando os esguichos esbranquiçados de porra escorrendo do azulejo me fazendo rir aliviado. Que gozada boa, difícil, mas absolutamente deliciosa.

Depois disso meu estado de graça faz esquecer-me de como cheguei até minha cama onde caio pelado mesmo e apago.

Minha manhã começa as cinco, estou bem disposto àquela corrida de uma hora que me permite organizar-me mentalmente. Não pedirei demissão, vou enfrentar Braz e processa-lo por assédio se for o caso, não sou homossexual, não me permitiria ser uma coisa dessas.

Depois de um bom café, ligo o notebook para ler notícias e ver algum e-mail com propostas de cursos, pois Margarete do Pessoal está me cobrando o curso de GFIP que dois colaboradores de seu setor nos têm solicitado. Finalmente, sentindo-me dono de mim outra vez, levanto para trocar de roupa e enfrentar mais uma jornada.

Chego ao escritório e sorrio para Kelly, recepcionista, percebo que ela cora cada vez que me vê chegar e muitas vezes gagueja ao me passar algum recado mais importante. Para mim nada mudou, Kelly é casada e pretendo continuar mantendo o respeito.

Na minha sala encontro um post-it rosa colado ao monitor com a letra de Kelly.

"Favor falar com mauro sobre o estoque, Obrigada".

Mauro tem me cobrado a respeito do inventário da rede de supermercados de Braz, confesso que isso está me enchendo o saco, como me ofereci para intermediar não posso me queixar. Meu problema é ter outro téte à téte com aquele cidadão. Sento-me a minha mesa e abro os e-mails que estão com alta prioridade os quais fui colocado em cópia.

Em um destes e-mails o Gerente Geral da rede de Braz, chamado Crésio, solicita-me para uma reunião, pois este afirma que Braz sentiu-se convencido após a última reunião que tivemos da importância da Gestão de Estoque em sua empresa e ficaram faltando pequenos detalhes para acertarmos. Que nome é esse? Crésio. Acabo rindo sozinho.

Sinto-me sem condições psicológicas no momento para o assunto, apenas repliquei o e-mail informando que o Chefe do Contábil os atenderia.

Encostei-me para trás relaxando as costas em minha cadeira confortável, tantos anos nessa cadeira e só nesse momento percebi o quanto era confortável. Realmente precisava de férias, se as tivesse gozado alguma vez, provavelmente não teria me divorciado, Braz não teria tocado em meu corpo e eu continuaria no controle de meu senso. Fecho meus olhos por breves minutos, suspiro pesado e ao abri-los vejo que acaba de me chegar um e-mail.

"Bom dia, Senhor Túlio, com grande respeito e admiração pelo trabalho que seu escritório tem nos prestado que gostaria de solicitar sua importante presença em meu escritório para que possamos dar continuidade aos assuntos levantados em nossa última reunião. Sem mais, Braz Joaquim Vieira."

Certo, o e-mail estava com cópia para Mauro e seu Gerente, assim eu irei, mas Mauro vai comigo, então respondo formalmente:

"Prezado, Sr. Braz Joaquim, em nome de nossa empresa muito obrigado pela confiança, estaremos atendendo sua solicitação ainda esta semana. Att. Túlio."

Ele replica:

"Prezado, estamos disponíveis nesse momento, no entanto minha disponibilidade é apenas ocasional devido a minha agenda, aguardo-o ainda pela manhã."

Vou revolver essa questão de uma vez, Mauro estará comigo, assim sendo não vou nem esquentar minha cabeça.

Prezado, Braz, às nove horas em ponto estaremos em sua sala, sem mais. Túlio."

Acabo de digitar e me pego em flagrante com um sorriso idiota no rosto.

Um homem? Acabo de me divorciar e tem um homem atrás de mim, isso é o final dos tempos. Não odeio os gays, mas não quero ser um deles e nem quero proximidade com estes. Tratarei Braz com profissionalismo e frieza para que ele saiba o seu lugar e não tenhamos problemas futuros aonde uma crise pessoal venha anular o bom trabalho já realizado por nossa empresa.

Minha porta abre bruscamente e Mauro adentra eufórico.

- Meu Deus, Túlio, fiquei sem carro justo essa semana, foi pra revisão, me dá a chave do seu carro, a Carlise pegou o carro da empresa.

- Sim, pega o meu carro, o que houve? - Eu fico preocupado.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora