Na visão do empresário - Por Braz - Parte 01

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Por Braz...

Normalmente sou o cara mais pacífico da Terra para discutir qualquer questão. Mas perco a linha quando tenho que lidar com gente que fica de marcação enchendo meu saco.

Minha contabilidade envia-me pela quarta vez o mesmo e-mail, fazendo questão de frisar que está REENVIANDO a mensagem. O solicitante chama-se Mauro, ele insiste que precisa dos valores de nossos estoques, colando um link que informa a legislação sobre essa obrigação. Já na primeira vez, encaminhei aos seis gerentes de cada uma de minhas lojas com cópia para a contabilidade poder perceber que estamos nos mobilizando. Não satisfeito o cidadão me liga a cada um ou dois dias para me encher ainda mais o saco, que o material de consumo deve ser comprado no CNPJ de cada loja ou fazer transferência, que tenho que fazer nota de perda ou o estoque fica furado e que não posso pagar minhas coisas pessoais com a conta da empresa. Hoje foi a gota d'água quando ele ligou explodi:

- Porra que merda! Ninha empresa deve ser a única que a contabilidade faz, porque nunca vi alguém me importunar tanto. Eu não fico coçando meu saco o dia todo, se acha que está folgadinho venha contar as mercadorias.

Depois dizem que sou grosso.

- Me desculpe seu Braz, mas nós temos prazos... Desculpe mesmo se estou sendo inconveniente. Fico no aguardo então. – Ele gagueja sem jeito que quase me arrependo de ter sido tão seco.

Sinceramente, que se foda! Desligo o telefone aborrecido para lidar com um pedido de demissão e depois tenho uma reunião com meus chefes de loja para definir os preços e podermos assim queimar os saldos que ficaram dos produtos de Natal.

Minha vida profissional gira em torno da área do comércio varejista. Administro esse patrimônio que meu pai iniciou há trinta e cinco anos atrás com um pequeno armazém, que foi gradativamente crescendo, com ele sempre me dizendo para manter meus pés no chão.

- Não adianta tu quereres demais, administras bem o que te deixei e aproveita a vida, porque é para isso que trabalhamos. – Ele ainda me diz isso com o sotaque lusitano que nunca perdeu.

Pensar no meu coroa bigodudo sempre me leva a rir sozinho. O velho Joaquim é uma presença rara, o cara no qual sempre me espelharei.

Meu celular está me irritando porque até agora não parou. No visor leio um nome que me faz rir. Carlinho. Esse jovem gajo tem tentado me segurar com suas peripécias na cama, não nego que ele é quente e sabe transar, mas não é muito inteligente característica esta que mais me atrai em um cara. Ele não é exatamente o que procuro para me amarrar.

Dou sequência a minha rotina, sendo que desde segunda tenho clamado por sexta-feira, penso em ligar para alguns amigos e sair para bater papo e beber alguma coisa no lounge bar que costumo ir.

Minha secretária me interfona acabando com minha "viagem", dizendo que o contador Túlio está no piso inferior pedindo se pode conversar comigo.

Desligo na cara dela. Nossa, esse cara vai levar um esporro que tão cedo não volta a me perturbar. Saio da sala para buscar um cafezinho e aviso a Jessica.

- Manda subir e diz para esperar na minha sala que já volto.

Eu estou puto e se esse cara falar uma só merda que me irritar, eu arrumo outra contabilidade que não encha tanto e o mando a puta que pariu.

Quando volto, abro a porta já com raiva e encontro uma visão inesperada: um rapaz que não deve ter trinta anos, cabelo bem curtinho estilo militar, pele clara e bonita, não exatamente baixo, mas menor que eu, magro de corpo bonito, mas é o rosto que mais chama a atenção. Olhos verdes. Esses olhos que me olham assustados são os mais belos que já vi.

Ele aperta a minha mão e eu o convido a sentar-se. Brinco com o nome dele:

- Júlio, da contabilidade. – Aperto sua mão gelada e lhe sorrio quando ele me chama de seu Braz, devolvo cheio de malícia. – SEU Braz.

Chamo-o de Júlio e ele segura-se para não perder a paciência, ficando vermelho.

- É Túlio, não Júlio. – Percebo no tom da voz que sua educação é forçada. São meros segundos a estar em sua presença, mas já sinto que ele é um vulcão prestes a entrar em erupção. – Nem sei como agradecer por ter me recebido, mas podemos ir direto ao assunto: seu inventário.

- Sente-se. – Convido com educação e ele senta irritado. – Olha, eu já falei para aquele cabeçudo da sua contabilidade que não tem como fechar as lojas, meu faturamento é muito alto...

Explico-lhe com calma olhando aqueles belos olhos dos quais já sou escravo, que me fazem esquecer da bronca que devia lhe dar. Mas uma coisa irritante acaba com aquele momento encantador. É Carlinho

- Fala meu bombonzinho...

=)

Já se passaram quatro meses...

Túlio está me enrolando com aquela sua frescura de que quer apenas um caso e estou certo que vou vencer ele pelo cansaço.

Quer sexo casual? Vai ter então. E hoje estou de mau humor porque ele só me liga quando o cu tá piscando e o otário aqui vai correndo.

- Vem hoje, Braz. Troquei o final de semana com a Ira para ficar com meus filhos na semana que vem.

- Porra, o que eu disse que queria fazer junto com você na semana que vem?

- Não sei, você disse alguma coisa?

Eu não quero brigar outra vez com Túlio e claro que a melhor forma é desligar naquela cara de pau dele. Eu desligo.

- Quer parar de me ligar. – Eu não quero falar com ele naquele momento. Aquele galego tem me testado o que pode. – Você não tem vergonha, ligar para um macho só porque está com vontade de dar a bunda?

- Vai se foder, Braz. Nunca mais me apareça na frente que vou te encher de porrada.

Agora ele me desliga na cara. Não vai ficar assim, cansei desse contador fazendo dobrar-me aos seus caprichos. Passo a mão na chave do carro e a chave da sua casa que pedi uma cópia e vou para o elevador, estou tão enfezado que não consigo olhar na cara de meus vizinhos. Dirijo pelo centro da bela cidade onde moro, aproveitando os sinais fechados para olhar pessoas bem vestidas devido ao clima delicioso de outono.

Paro em frente a casa grande e bonita de Túlio. Pensar nele todo corado quando chego quase me faz desistir de dar-lhe um pito. O carro dele está na garagem, então ele está em casa. Entro, mas não o encontro em lugar algum no primeiro andar. Ao chegar ao seu quarto ele está terminando de vestir-se.

- Aonde você vai todo arrumado?

O susto que ele leva o deixa pálido. Ele se vira com o rosto vermelho, já não sei é por sua timidez em alguns aspectos de nosso relacionamento ou por irritação, acho meu Túlio muito enigmático.

- Sabia que no final você viria. – Ele me diz sorrindo como se estivesse brincando comigo. Que chego a cerrar os punhos fazendo meus dedos estalarem.

- Sim, cá estou como um cachorrinho. – Aproximo-me para cheirar seu pescoço vendo o efeito que causo em sua pele com pelos finos e claros. Túlio fica mole quando minhas mãos apossam-se de sua cintura, ele apoia as duas mãos no espelho a sua frente evitando olhar-se. Então vira e começa a abrir os botões de minha camisa como sempre faz.

Encanto-me com o olhar extasiado dele ao ver meu peito, me arrepio com os dedos longos e gelados mergulhados nos meus pelos puxando-os com as duas mãos querendo que eu reclame de dor. Mas não o faço, porque tenho que fazer com que ele se dobre aos meus caprichos como já o fiz por ele.

- Sexo casual? – Pergunto na esperança de ele dizer-me que quer algo a mais.

- Sim. – Túlio toca seus lábios nos meus, mas não me beija. – Só casual.

Vou lhe dar sexo então.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora