Rotinas (Não contábeis) - Parte 02

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- Minha sogra adora orquídeas, como você acertou? – Carlinho fala e pela primeira vez, vejo o grandão sorrindo todo bobo. Ah, o amor.... Será que fico com essa cara de pastel quando saio com Braz?

Ficamos conversando até Carlinho e dona Itália nos servirem os doces e salgados, isso quando chegam mais uns vizinhos de Braz que tem amizade com dona Itália.

- Carlinho, não quis mais suas lojas nem a fábrica? Conheci até seu irmão mais velho o Cássio.

- Ai Túlio, tenho meus motivos e estou feliz assim... - Carlinho me abre um sorriso. Acho que nunca tinha notado o quanto esse rapaz é bonito. Então me diz que está feliz como está, fazendo seus doces e salgados para festa e cuidando da casa, como gosta de fazer. Não o julgo, se ele gosta de sua vida assim, quem somos nós para nos metermos. - Ah...O Eliseu me disse que é seu vizinho? Ele dá aula lá no bairro onde eu moro e falou muito sobre você.

Braz levanta a orelha mais em pé do que as orelhas do pastor alemão da Iraci.

- É sim, vejo ele vez ou outra no elevador. Ele é um bom vizinho, na dele.

- Cuidado, ele está todo caidinho...

Carlinho larga isso na minha cara e na de Braz que chega a travar a mandíbula e não sorri mais a noite toda, nem quando o povo vai embora e dona Itália se prepara para recolher a louça e nos expulsa da sala para o quarto.

- Chicão, heim? – Pergunto cabreiro.

- Eliseu, né? – Ele me devolve jogando a colcha no chão emburrado. – O que eu não sei dessa história?

- E esse Chicão?

- Túlio, não provoca. Não viu que estou puto?

- Agora é culpa minha se o meu excelentíssimo vizinho comenta a meu respeito? Me poupe. Acha que eu estou fazendo algo pelas suas costas. E você? Tudo que é ex namorado seu, eu tenho que engolir, Valentin, Carlinho e agora esse "paredão", o PM...

- Deixa aquele merda do Valentin enterrado, Carlinho foi um lance eu já te falei e o Chicão, nunca foi nada meu, conheci ele quando era segurança de uma boa GLS...

- Sei... coisas do seu passado, mas pra você é Chicão, para eu é soldado Francisco.

- Ah cala a boca. Acha que eu ia pegar um homem daquele tamanho?

- E se ele te pegou? E cala você a boca.

- Não grita comigo, falta muito pouco para eu te...

Naquela hora meu coração quase para. Acho que eu e Braz estamos nunca fase tensa outra vez e precisamos daquele tempinho longe um do outro.

- Estou indo, Braz... Sabe onde moro, até lá fica bem.

Sinceramente me recuso a querer saber como a frase terminaria, mas acho que chegamos num ponto que ou continua ou termina para sempre.

*

Temos aquela semana para nossas reflexões e no final acabo quebrando, por eu ou por nós, aquele gelo gigante. Ligo para ele e outras vezes ele me liga, são três anos e não seria muito saudável se não rolasse nenhum estresse.

- Oi, amor... – Braz me atende muito sem graça, sabe que estava errado. – Como você ficou esses dias?

- Vem me buscar que meu carro está na revisão e conversamos. Por telefone não dá.

- Ok, te amo.

- Também.

Eu amo esse homem e juro que já pensei em terminar mais que uma vez, quando a tensão entre nós é muito grande, mas não suporto ficar mais que cinco ou seis dias longe. Não é mais sexo, são tantas coisas que nos seguram juntos, que nos colam que quando penso em voltar e dar mais uma chance é por tudo que ficou no passado, tudo que construímos até aqui e o que ainda temos lá na frente que pelo menos eu quero continuar a caminhar ao seu lado e seguir em frente.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora