— O teste do pezinho, eu preciso ir. - Ele arranca a chave da minha mão e sai correndo como se Lívia fosse parir outra vez. Saio apressado da minha sala para alcançá-lo.
— Espera. - Eu o chamo, mas ele nem ouve. - Porra a reunião. Como que...
Kelly me olha rindo ao me ver falando sozinho, mas quando a olho ela fica roxa.
— É a idade... — Chego a pensar que o rosto dela vai explodir de tão corada.
Não tenho me comportando como Túlio o contador sério nas últimas semanas, consciente que minhas dispersões podem me levar a falhas que tanto tenho cuidado para não ocorrer. Decido ligar a Carlise e pedir o carro da empresa, mas ele me informa ao telefone que está na Receita Federal e não tem previsão para ser atendida. Desanimo e recorro ao táxi, pois estou em cima do horário.
Quanto tempo não pegava um táxi, senti vontade de socar o motorista que dirigia o mais lentamente possível, falando pelos cotovelos até eu o interromper.
— Amigo, tenho um horário marcado, desculpe, mas precisa apressar a corrida.
Chego atrasado da mesma forma ao meu compromisso e isso me deixa puto com aquele taxista, com Mauro, Carlise e Braz. Braz. O que difere esta reunião das outras que já tive com os demais clientes? Quem sabe o assédio de um homem acostumado a ter as pessoas servindo-lhe de quatro. Nesse dia pretendo deixar bem claro que posso reverter a situação de abuso se ele ousar me olhar de atravessado.
No segundo piso onde estão as salas da administração, caminho tenso até a recepção.
— Bom dia, o seu Crésio já está esperando o senhor na sala dele.
Crésio, o nome me causa outro sorriso agora aliviado pelo fato de ter uma reunião apenas com o gerente da rede. Encontro um homem baixo, gordinho, grisalho, na casa dos cinquenta anos com uma simpatia sem igual. Seu sotaque me faz chutar que ele é nortista e erro feio.
— Paraíba da cabecinha chata. — Ele brinca, acho impossível estar numa presença dessa e não sorrir largamente. — Então tu dobrou aquele portuga lazarento, foi? Deu trabalho, mas fechamos loja por loja, uma de cada vez, só para contar teus estoques e aqui estão.
Ele me entrega o pen-drive com as informações.
— Seu Crésio, nem sei como lhe agradecer, um bom trabalho não depende só do escritório, mas da parceria com nosso cliente. Tenha certeza que esse acerto vai beneficiar a ambos, acho que está tudo certo — Levanto-me e estendo-lhe a mão que ele aperta. — Desculpe pelo atraso...
— Chegou agora? - Braz pergunta entrando na sala fazendo com que eu sinta meu rosto queimar. Está como sempre, bem vestido, perfumado e bem penteado. — Odeio ficar esperando, combinou as nove horas, chegou agora?
Lembro que sei falar e respondo.
— Estou sem carro, um pequeno imprevisto. - Ele me aperta a mão me encarando sedutor. - Aqui já encerrei com seu Crésio.
— Ótimo, está dispensado paraíba, Túlio agora é meu. - Aquelas palavras são como um vinho, um daqueles tintos e bem encorpados que se bebe a frente de uma lareira em uma noite fria, cujo torpor que causa leva os amantes a entregarem-se a luxúria sem reserva alguma e passarem a noite fazendo amor.
— "Minino", portuga lazarento pode me ligar se precisar de alguma coisa que vou estar na filial 05.
Braz sorri, expondo sua dentição irritantemente perfeita e alva, acompanhando Crésio até a saída, então tranca a porta. Acordo do transe quando percebo que estou preso com ele naquela sala pequena e isolada. Tento lembrar-me de todas as ameaças que deveria lhe fazer, mas no meu estado de excitação só consigo respirar arfante, caminho lentamente de ré para ser encurralado na parede por seu imenso corpo a moer-se contra o meu, tanto que sinto sua dureza contra minha barriga, seu cheiro me invade e sua boca mata minha sede.
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Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINAL
RomanceFinalizado! Romance entre duas "personalidades" que se chocam violentamente. Túlio é contador, estressado e escorpiano. Braz é comerciante, esquentado e taurino. Combina? Conteúdo (muito) adulto. Descrições de (muito) sexo. LGBT. Se você estiver le...