Longe de Um Resultado (Não Contábil) - Parte 01

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Penso muito naquelas pessoas que vivem perfeitamente bem com limitações físicas, gente que supera traumas de perdas dolorosas ou que perdem tudo em grandes e inevitáveis desastres. No cidadão que luta contra um câncer na fase avançada da doença ou na pessoa que venceu o câncer e hoje sorri. No mutilado que não reclama e ainda por cima dá graças por estar vivo. Enfim concluo: sou um cara de sorte.

Acabei de ser atropelado e estou vivo e inteiro, apesar do susto. Sinto um pouco de dor no tornozelo e no meu antebraço que usei para amortecer minha queda, creio não haver danos maiores.

O que leva uma pessoa a mudar tanto?

Talvez alguns fatores como amor, paixão, ciúmes, dinheiro, orgulho, vingança motivam essa mudança.

Pelo que entendi, Kelly contou ao marido que o pedido da separação foi devido ao fato de estar apaixonada por um outro cara. Logo, na cabeça quente do "corno" deve ter passado a ideia de como se livrar daquilo que balançou seu casamento. Será que ele não pensou que poderia haver alguma câmera ou testemunhas ou até mesmo a vítima ficar viva e o reconhecer? Ou quem sabe ele imagina que vivemos algum capítulo de novela, onde ninguém se machuca de verdade e seu "personagem" será penalizado de "mentirinha". Será que o Edi está mais envolvido que Kelly com dona Rosa e seu suposto propósito de vingança?

- Ei moço... – Alguém mexe no meu corpo e isso me faz arregalar os olhos assustado. – Ai Jesus, que susto! Pensei que...

- Chamou o seu Braz? – Ouço alguém aflito perguntando.

- Ai meu Deus, não se mexe que já chamaram a ambulância.

- Consegue me ouvir? – Surge Crésio com a expressão apavorada que não cai bem em seu rosto, ficando engraçado.

- Eu estou vivo, só meu braço que dói pra caralho. – Eu respondo feliz ao ouvir minha voz. Forço-me a levantar e meu quadril incomoda um pouco.

- Túlio fica deitado. – Braz chega assustado e fala irritado com alguém ao telefone. – Amor fica parado, não mexe.

- Eu não quebrei nada. – Me apoio no braço esquerdo e consigo sentar, deixando Braz exaltado.

- Porra, custa ficar deitado?

- Deita você nesse sol quente, eu disse que estou inteiro e não quebrei... aahhh, esse braço eu acho que quebrei. – Braz toca sem querer no meu antebraço direito.

- Crésio, suba e converse com o representante, remarca com ele que vou cuidar do Túlio, esperar a ambulância e acompanha-lo. Ei pessoal, tudo tranquilo.

Braz fala alto com intenção de fazer dispersar o povo que aglomerou para ver quem era o bocó distraído que foi atropelado. Sim, eu ouvi esse comentário em alto e bom som.

- Que susto, rapaz. – Braz abaixa-se, me abraça e pouco se importa com os olhares curiosos. – Desculpa, seu braço dói muito? Fica calmo que estou aqui com você.

- Acho que podemos descartar o Valentin da nossa lista. Tem um cara envolvido, mas não é ele.

- Está falando do que Túlio? Esquece.

- Estou atrapalhando toda sua programação, não é?

- Não diz uma coisa dessas, quase morri quando a fiscal de caixa disse que um carequinha foi atropelado na frente da loja e não se mexia. Vou com você ao hospital e depois vamos a delegacia.

- Braz, me ajuda a levantar, eu estou bem.

- Você sabe deve esperar no local pela ambulância. Sento aqui no sol com você.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora