Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINAL

Rotinas (Não contábeis) - Parte 01

Por Túlio...

Ultimamente não estava mais reconhecendo Braz e muito menos a mim. Ele sempre fora o cara ponderado enquanto eu o era estressado e com nossa convivência de três anos, cada um de nós passou a "pegar" alguns costumes um do outro. Coisa de fases que também foi acalmando no passar de dias ou semanas. O tempo passa e como diz o Braz, nós ficamos com as marcas das batalhas.

Meu filho Eduardo tem cinco anos de idade e não tem idade para compreender certos aspectos da minha vida e relacionamentos, coisas de adulto mesmo. Rafaela me surpreende pela maturidade que tem com minha situação e falamos sobre quase tudo, abertamente. Inclusive tive um choque quando ela com nove anos me perguntou:

- Pai, se quando eu crescer gostar de um menino, mas gostar também de uma menina o que acontece?

Fui pego meio despreparado, claro, até busquei na Iraci um olhar de solidariedade e tudo que li nos olhos de minha ex mulher foi: "Te vira".

- Rafa, o pai sempre disse que para certos assuntos vai ter o momento certo, você ainda não tem idade para namorar é muito nova... e.... quando.... olha, eu penso que se isso acontecer, quando você tiver a idade certa, nós sentamos aqui e conversamos. Não é o fim do mundo um rapaz gostar de outro rapaz ou até uma moça...

- Tá pai. – Ela me corta sem paciência. Me pergunto o porquê de ela ser tão parecida comigo e não com a Ira. – E o Edu? Se ele gostar de outro menino?

- Filha...eu gostaria muito que você e o Edu quando crescerem, vocês estudem, trabalhem e tenham um bom caráter. O pai ama demais os dois e só não quero que vocês sofram ou façam algo que não gostem para agradar outras pessoas, a vida é de vocês, entendeu?

Alguém que tenha formação em psicologia me ajude... Como se fala sobre essas coisas com sua filha de nove anos? Orientação sexual é introduzida timidamente na escola, por pessoas que tem o preparo e falam de forma natural com os filhos dos outros. É diferente de falar com nossa própria cria. Sabemos muito bem que isso ainda gera polêmica, muitos gays e lésbicas sofrem discriminação e esse é meu medo com relação aos meus filhos. A mim não mais, pois sei me defender e só me descobri e aceitei quando passei dos trinta e são circunstancias totalmente diferentes.

Braz e eu iremos passar o próximo final de semana sozinhos naquele sítio que ele comprou do velho sogro... Já quero comprar umas duas bisnagas de KY e me acabar ou acabar com o Braz.

Estava me sentindo um menino na semana de natal e sorridente eu chego no escritório cumprimentando a Bia, minha secretária nova.

- Oie. – Ela me responde sempre toda saliente e eu fico sem graça de dar um corte. Ela sabe do Braz, pois ele fez questão de fazer a maior cena de ciúmes na sua frente no primeiro dia de trabalho dela.

- Bia, como está o seu tempo hoje? Posso te passar uns lançamentos para fazer?

- Eba... Eu adoro aprender coisas, pode passar sim.

- São aquelas despesas, o lançamento não muda. Mas se ficar com dúvida pode me perguntar. Vou atender uma cliente agora as oito e trinta e se puder não me passe ligações, certo?

- Tá.

Vinte e dois anos, recém-formada em Contábeis, sem prática nenhuma e toda solicita. Tem pessoas que são pedras preciosas em estado bruto que você lapida no dia a dia, por isso tenho muita paciência com quem vem trabalhar aqui. Bianca está aqui há duas semanas e ainda não me surpreendi com ela na parte profissional. Sento no meu computador e assim que ligo minha porta abre.

- Túlio, posso te incomodar? – Bianca entra em minha sala com cara de assustada.

- Não incomoda, pode falar.