Hoje nada é Contábil - Parte 02

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- Relaxa, porra...

- Porra, onde está o cara que disse que estava se sentindo romântico? – Grito com a cara enfiada no travesseiro.

- Relaxa, amorzinho. – Ele diz isso rindo e morde minha bunda, me fazendo sofrer com o segundo dedo. – Onde está o K.Y.?

- O quê?

- Vai no cuspe mesmo.

Foi o que pedi: sexo. Ele vai me maltratar o quanto puder, estou certo disso. Ser penetrado por esse homem sempre vai ser sofrível, mas sempre vou desejar todas essas sensações em meu corpo, sim sempre. A penetração não é mais fácil que a vez anterior pelo motivo provável de meu nervosismo. Braz é um homem que sabe foder, fazendo com que aos poucos eu consiga me acostumar com a invasão de seu membro que me preenche.

Ele retira-se e pede para eu virar de costas para a cama, abre minhas pernas e mete de novo. Nessa posição podemos nos beijar e olharmos nos olhos, assim eu posso acaricia-lo todo, sentir seu cheiro e ver seu suor escorrendo. Meu pau endurece na minha mão e me implora para ejacular, Braz me beija carinhoso entre gemidos altos goza metendo com muita força.

- Porra... Ah... – A excitação extrema dele é meu combustível para uma gozada que me leva a gemer tanto ou mais alto ainda. – Não para...

Ele continuar a meter até que lanço meu esperma levando um jato no queixo que faz nós dois rirmos.

Sexo com Braz me faz subir pelas paredes e depois literalmente cair delas, porque me esgota completamente. Ele desaba ao meu lado na cama e me puxa para apoiar a cabeça em seu peito e assim ouvir seu coração batendo descompassado.

- Foi bom? – Ele pergunta beijando minha testa suada.

- Que pergunta Braz...

- Não é mais fácil responder. – Ele se irrita. – Isso cansa, Túlio.

- Você quer que eu aja como uma personagem de novela que perde o cabaço de mentirinha e sorri dizendo que foi a melhor coisa que aconteceu?

- Porque você não vai tomar no cu.

Não entendo Braz, acabou de me foder e age com essa grosseria. Ele se levanta e se veste com raiva. Só consigo entrar no jeans e correr atrás dele que desce a escada puto.

- Braz, não vai ficar? – Eu não quero ficar sozinho.

- Se você souber pedir. – Ele tira a mão da maçaneta da porta da minha casa e cruza os braços. Devo ter corado com a olhada que ele me dá de cima a baixo.

- Fique, por favor.

- Não.

Ele responde e abre a porta.

- Tá, foi ótimo Braz. Porque essa pergunta?

- Não posso ficar, desculpe Túlio, acabei de lembrar que nosso sexo é casual.

Eu fico sozinho olhando a porta pela qual ele saiu furioso comigo.

-O que esse cara quer? Quer ir? Vai pela sombra e que nem apareça mais. – Falo para as paredes. Pego meu celular e ligo para ele.

- Túlio, nem adianta que não volto.

- É sério Braz, desculpa, acho que fazer sexo com você dispensa qualquer palavra. Depois, você concordou em ir com calma e não nos envolvermos demais. Volta sim, por favor. Se voltar eu faço amor com você.

Ele desliga na minha cara e menos de dois minutos está de volta...

:D :D

Cinco meses depois ainda vivo às escondidas o caso com Braz e tenho conciliado meus encontros com ele com os finais de semana em que não fico com as crianças. Nosso caso é meio explosivo, pois as brigas são tão fervorosas quanto o sexo. Meu homem é normalmente calmo, pois é um empresário acostumado a ter suas mínimas vontades atendidas. Comigo as coisas são um tanto diferentes, pois minha política da boa vizinhança é concentrada totalmente em meu trabalho, não sobrando muito para minha vida privada.

Volto a ser um cara mais centrado e com isso consigo algo pelo qual há muito tenho batalhado: organização. Essa é a chave para minha vida ser vivida da forma correta. Tenho tempo para as crianças, para Braz, a empresa, até mesmo para bater um papo com minha bela ex esposa que me recebe sempre sorridente.

Nunca falei muito de Iraci, o que farei aqui brevemente. Éramos colegas no desde a oitava série, antes de eu curar o segundo grau técnico contábil, e eu já estava de olho naquela moça bonita que mexia com meu brio, mas só começamos a namorar quando ela largou do seu ex por minha causa em 2001 quando fazíamos cada um seus respectivos cursos do nível superior. Sempre fomos os opostos que se atraem: ela calma, eu o estressado, ela sambista, eu roqueiro, ela de libra, eu de escorpião, ela queria filhos, eu não, mas os tivemos e apaixonei-me por eles. Ira trabalhava durante a semana, eu as vinte e quatro horas, ela me procurava para transar, eu estava sempre com dor de cabeça.

Nossa separação foi totalmente consensual, dividimos os bens sem o menor estresse, concordamos em tudo o que fosse benéfico para os pequenos e continuamos muito amigos. Meus dois filhos têm sua cor maravilhosa e seu sorriso, mas Rafaela é minha versão feminina. Acabou de completar sete anos e quando pergunto:

- Rafa, o que vai ser quando crescer?

- Contadora não. Não quero ficar assim igual ao papai.

Iraci aparece com meu Edu no colo as gargalhadas, parece atriz de novela. Eu realmente tive em minhas mãos a família perfeita e não soube administrar isso.

- Rafa, tadinho do papai, o único defeito dele é ser contador. – Ela me olha e entrega-me Edu que fala bem muitas palavras. – Obrigada por ficar com eles hoje, tem certeza que não vai atrapalhar?

- Nunca, estou mais tranquilo ultimamente.

- Isso é bom. – Ela me sorri outra vez. – Lá pelas cinco horas já vou buscá-los.

Levei minhas crianças ao shopping, no parquinho, comprei presentes e em casa brinquei muito com eles. Rafa ficou no sofá vendo TV e Edu com seus dois anos logo cansou e deitou em meus braços para o soninho da tarde num colchonete que estendi no meio da minha sala de estar repleta dos brinquedos deles. Rafa ficava no meu campo de visão deitada do grande sofá e de repente pergunta:

- Papai, quem é esse homem? – Ela aponta com o dedinho para a porta.

Esqueci que tinha dado uma cópia de chave ao Braz e que esse era o fim de semana dele vir.

- É um amigo do papai, o Braz.

- Braz? De Brasil? – Ela pergunta a ele que lhe sorri.

- Braz era o nome do meu avô que veio de Portugal.

- Não gostei do seu nome.

- Senhorita sincera, isso é muito feio.

- Mas papai é verdade.

Braz não para de rir.

- Sua filha, sem tirar ou pôr. Mas tenho outro nome, Joaquim, você gosta?

- Não.

Balanço a cabeça. Minha menina não é fácil, não sabe mentir.

- Iraci teve uma palestra e pediu para eu ficar hoje com eles, mas fique a vontade, está em casa.

Minha filha para de analisar Braz quando ele se dirige a cozinha.

- Quando eu crescer vou casar com tio Braz.

- Porque filha?

- Ele parece um príncipe dos filmes de princesa, oras.

Ele volta da cozinha com um copo de água e encosta-se a porta sorrindo para mim, me fazendo sentir algo completamente novo além da luxúria que nos juntou que me dói a garganta. Não paro de olhar para ele e descubro naqueles segundos que nos olhamos que estou me apaixonando. Minha filha fala o que penso como se fosse minha extensão e suas palavras ditas na inocência infantil de uma menina de sete anos parecem ter sido buscadas em pensamentos escondidos em meu subconsciente. Beijo a cabeça do meu filho adormecido e fecho os olhos por uns minutos. Volto a ficar confuso, ser gay, bi ou ex hétero não são os temas dessa confusão e sim meus sentimentos que começam a nascer por ele.

Braz senta-se no sofá de forma que seus pés tocam os meus enquanto nos olhamos. Sinto-o tão meu, meu Braz.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora