Princípios não contábeis - Parte 02

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Sábado é meu dia de folga, faz um dia ensolarado e quente demais. Sequer hesito na escolha da roupa, visto bermuda e uma camiseta de manga curta. Chego ao escritório de Braz onde tenho que aguarda-lo por vinte minutos na recepção. De onde estou, eu escuto ele vociferar com alguém. A seguir sai da sala um jovem bonito, de cor morena escura e com os trejeitos que me dão certeza de sua orientação sexual.

Braz vem à porta me receber, o que  me causa um arrepio forte. Lógico que atribuo isso ao fato de estar sob o ar condicionado gelado. Aperto sua mão grande e o sigo, observando por suas costas o quanto este é monumental. Ele se acomoda em sua cadeira apoiando-se ao encosto atrás de suas costas. Estou travado como um adolescente e muito assustado comigo principalmente quando ele me olha dos pés a cabeça, fazendo-me sentir nu em sua frente.

— Sente-se. — Ele manda.

Abordo o assunto principal e motivo de minha visita, seu estoque, mas me perco tantas vezes que quase peço a ele para remarcarmos para outro dia.


— Percebi que você está disperso, Túlio. — ele pronuncia meu nome, chama meu nome e me causa outro arrepio estranho — Problemas?

— Estou separado há poucos meses e providenciando o divórcio. Aí vem a culpa de ter me doado demais ao trabalho e deixado a família de lado. — comento sem graça — Minha filha, ontem era um bebê e hoje está no primeiro ano do fundamental. Desculpe trazer isso para a reunião, acho que... deixa pra lá. Esse é meu final de semana, entende?

— Desculpar? Por mim está tranquilo, se for por sua filha, vá vê-la.

— Tenho um menino também.

— É complicado... filhos,separação, falta de atenção, ruptura. Se afastando agora, você nunca maisconseguirá recuperar-se dessa distância. Está separado então?

— No momento sim, mas estou lutando por uma segunda chance. Saí de casa há três meses.

    — É o que você realmente quer? Não foi um bom companheiro e vai continuar a não ser. Vai focar novamente em seu trabalho e família nunca vai ser a prioridade. Senão nem teria vindo hoje. Se estiver para divorciar-se vá em frente com isso, separados nunca conseguem "emendar" o que foi desfeito.   


Assusto-me com a forma imperativa deste homem que nem me conhece e diz o que devo fazer. Ele é mandão, tanto que faz minha azia queimar com mais força. Detesto ser mandado.

— Fala com tanta propriedade, já foi casado? — pergunto de forma ríspida.

Meu antebraço apoiado sobre a mesa não reage ao toque da mão grande quando pousa sobre a minha tirando-me a aliança lentamente para aproximar de seus olhos escuros.

— Iraci. Não está separado? Está usando sua aliança... — Não consigo reagir, nem retrucar ou no mínimo tomar de volta o pequeno objeto anelar. — Ainda tem tesão por ela?

— Não. — Não creio nas palavras que saem desobedientes de minha boca. Ele sorri malicioso.

— Tem amante? Ou teve?

— Não. — Não consigo lhe mentir e dizer sim, não ou "te fode, cuida da sua vida que cuido da minha". Acho que fui hipnotizado, não reajo.

— A cama está vazia então?Você é jovem, cara, um homem atraente, tem um corpo bonito, belos olhos. Tem muita vida para viver. Não se limite ao trabalho, entendeu? Você se masturba? Se masturbou ontem ou hoje?

Acho que devo ter corado a sua frente, algo que não sinto desde que tinha uns dezessete anos. Não consigo sair daquele assunto.

— Não. — Sinto-me febril e dominado, sem respirar e sem piscar os olhos ao fita-lo.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora