Braz Imobilizado - Parte 01 (Uiii)

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Por Túlio

Passados mais uns quinze dias estressantes, Ficamos na expectativa da soltura de Rosa e Valentin da prisão temporária e assim aguardarem em liberdade o desenrolar do processo. Eu e Braz nos sentimos apreensivos. Não entra em nossa cabeça, como o fato de terem depoimentos gravados de Carlinho, Kelly, Edi e outras pessoas que soltaram a língua, não seja motivo para segurá-los por mais tempo. Isso não prova alguma coisa?

Fiquei pelo menos uma semana a me revirar de madrugada, meu humor ficou péssimo e acabamos discutindo. Braz por ter suas razões obvias para o ressentimento ficou inconformado com a soltura de ambos e se tornou truculento e eu com medo de alguma ameaça contra meus filhos não tinha sossego.

Por isso vou mais seguido ver minhas crianças, justo por esse clima insegurança logo o Braz me liga preocupado.

- Ei, foi aonde? Porque não veio para casa ainda?

Braz tem feito muito isso nesses últimos dias, ido ao meu apartamento e me controlado.

- Estou aqui com as crianças.

- Ah sem problemas, mas me avisa quando vai para outro lugar, não fico calmo com aquela gente solta. – Braz me diz com um tom de voz bem mais calmo. – Diz que o tio Braz manda beijo.

- Tá amor, digo sim. – Falo rindo, sabendo muito bem que esse controle dele repentino é pela situação tensa, eu entendo.

Quando desligo percebo um par de olhos curiosos a me analisar.

- Pai, era o tio Braz?

- Sim filha, ah deixa o pai dar uma olhadinha nos cadernos, tem prova para assinar?

- Não, a mãe assinou... Pai, o pai namora um homem?

Minha filha tem oito anos, certamente haverá o momento certo para ela entender no que consiste uma relação homo afetiva. Não sei até que ponto eu poderei abordar o assunto, afinal ela é uma criança.

- Rafa... Filha, eu e o tio Braz gostamos um do outro, entendeu... Você perguntou para o pai se nós éramos gays, você sabe o que é isso?

- É um homem que beija outro homem, anda de mão assim... – Ela entrelaça os dedos nos meus e ri para mim.

- O pai gosta muito do tio Braz, ele é uma pessoa do bem, Rafa, isso que a gente tem que olhar. Depois o pai ama você, vai sempre ser o seu amigo e você vai crescer e como sendo essa menina inteligente vai entender e respeitar, não é? Depois, tudo tem o tempo certo, tá bom?

- Tá. Pai, você vai casar com ele?

- Rafa, não sei...

- Porque o tio Braz usa um anel igual ao seu?

- Ah, dona Rafaela, curiosa... – Faço cocegas nela no intento de mudar de assunto e funciona. Depois dou aquela atenção ao meu filho que está na idade da teimosia, precisa ficar no banquinho do pensamento e muita paciência, enfim educar alguém é assim, quem ama corrige.

Mais tarde quando estou indo para casa me sentindo leve e cheio da alegria que meus filhos me transmitem, dou aquela suspirada e estaciono no mercado concorrente de Braz para comprar um vinho, shampoo, que ele parece tomar de canudo no banho, mais umas miudezas e quando passo no caixa, espero meio distraído a cliente em frente digitar a senha.

- Dona Kelly, pode retirar o cartão.

Sinto minhas entranhas revirando e encaro de repente uma mulher estranha que me olha com o mesmo espanto, depois sorrimos um para o outro.

- Boa noite. – Eu cumprimento me refazendo do susto que o nome me causou.

Ela não responde e sai rindo, olhando para trás e estranhamente liga para alguém. Claro que são efeitos dos medos que estou tentando superar e por isso ao olhar para qualquer pessoa, penso que a todo momento pode me acontecer alguma coisa.

Ativo e Passivo - No sentido não contábil - ORIGINALOnde histórias criam vida. Descubra agora