- Posso gravar a nossa conversa? - Davi perguntou algumas horas mais tarde depois de Neveah passar algum tempo com o filho.
- Claro. O que você quer saber exatamente?
- Tudo.
- Okay. Acho que depois de escutar o que eu tenho para dizer, você provavelmente vai mudar sua opinião sobre mim. Durante algum tempo, fui estagiária na Bishop Publicidades, não conheci Douglas oficialmente até que fui contratada. Passado alguns meses comecei a trabalhar em um grande projeto, eu fiquei honrada quando o próprio Sr. Bishop se ofereceu para me supervisionar, nos tornamos amigos, sabe? Naquela época, eu estava passando por um período muito difícil, minha mãe havia falecido, e ele estava sempre lá. Era meu porto seguro, era um ombro em que eu podia chorar sempre que quisesse. A partir daí começamos um relacionamento. E antes que pergunte, sim, eu sabia que ele era mais velho, casado e com um filho que tinha quase a mesma idade que eu, mas na época não me importei. Estava apaixonada ou assim pensei. À medida que o tempo passava, comecei a perceber certas atitudes que me incomodavam, ele era possessivo, ciumento, agressivo. Não queria mais isso para minha vida, então resolvi terminar com ele. Eu pensei que Douglas iria compreender afinal ele era casado e não havia futuro para nós, mas eu estava enganada. No dia em questão, nos marcamos de nos encontrarmos em um hotel que já havíamos nos encontrado antes. Enquanto, eu falava, ele começou a ficar agressivo, lembro que ele me agrediu e então desmaiei. Quando acordei, eu estava no hospital com um braço quebrado, muitos hematomas pelo corpo, duas costelas quebradas, tive sorte que nenhuma das costelas perfurou meu pulmão. Uma das enfermarias me disse que uma arrumadeira do hotel me encontrou desmaiada no quarto e chamou à emergência, os policiais foram chamados, e fiz a denúncia contra Douglas.
- E o que a fez mudar de idéia? - Davi perguntou.
- Antes de eu receber alta do hospital, descobrir que estava grávida. Só pensava que queria uma vida para mim e o meu filho bem longe do pai dele. Arrumei as malas, vendi meu apartamento, o carro e algumas jóias que ele tinha me dado, me mudei com a esperança de deixar o passado no passado.
- Você estaria disposta a contar tudo o que você me contou perante o juiz?
- Sim, mas vou querer algo em troca.
- E o que seria?
- Você viu no hospital que o Noah não está nada bem, ele pegou um vírus, mas não se recuperou, durante um exame descobriram que a contagem de leucócitos estava baixa, no outro teste seguinte estava ainda mais baixa. Não parava de cair. Os médicos esperavam fosse algo passageiro e que a medula óssea dele voltasse a produzir. Mas não aconteceu. Tentamos outros tratamentos, mais não surtiram efeito. Eles, os médicos, recomendaram buscar um doador compatível na família. A melhor possibilidade de compatibilidade seria num irmão com os mesmos pais. A segunda melhor seriam os pais, depois disso as chances são muito reduzidas. Eu não sou compatível, só me restaram alguns parentes bem distantes, minha última esperança é que o Douglas seja compatível. E é ai que você entra.
- Como assim?
- Tem alguma maneira dele ser obrigado legalmente a fazer um teste de compatibilidade e se ele for compatível, doar a medula?
- Olha, para falar a verdade, sim. Mas não seria melhor você entrar em contato com o Sr. Bishop e explicar a situação para ele? - Davi sugeriu.
- Eu já tentei várias vezes, mas ele disse que não se importava que o Noah provavelmente não fosse filho dele e mesmo que fosse ele não ia assumir - A expressão facial de Neveah era de desgosto.
- Entendo. Eu vou ajudá-la, a primeira audiência será daqui quatro dias em Nova York. Você vai poder ir?
- Se for para salvar o meu filho, sim.
- Ótimo, vou falar com a minha sócia e vamos bolar alguma coisa, se tudo der certo, Noah vai receber o transplante o mais breve possível.
- Obrigada. Assim espero.
Helena tentou ao máximo prestar atenção na conversar entre os Kingsley e Camille. Quando ninguém estava prestando atenção nela, ela pegava o celular debaixo da mesa e trocava mensagens com Davi.
Enquanto esperava a resposta, tomou um gole de seu vinho.
Ao levar a nova mensagem começou a engasgar com o vinho, o que a levou a inalar mais o líquido.
Demorou alguns minutos para ela limpar suas vias respiratórias. O peito dela ainda estava arfando quando tirou o celular de debaixo da mesa e ligou para Davi, não se importando com a audiência.
- Olá - disse Davi em saudação, dava para ouvir o barulho de trânsito do outro lado.
- Mas ele é só uma criança!
- E você acha que eu não sei? Ele está tão doente, precisa de um transplante de medula o mais rápido possível.
- Droga.
- Neveah concordou em depor.
- Se dermos um jeito, podemos conseguir uma ordem judicial para o Sr. Bishop fazer o teste de paternidade e o de compatibilidade. E se ele não for compatível, talvez o filho dele seja.
- Exatamente o que pensei. Mas não vai ser fácil. Lena? Preciso desligar, acabei de chegar ao hotel em San Francisco.
- Até mais. Vou estudar mais o caso e tentar encontrar mais alguma coisa para usar na acusação.
- Tchau.
Helena mal terminou a ligação antes de começar a enviar mensagens para Tabita.
- O que está acontecendo? - Camille perguntou ansiosa. - Envolve o meu caso?
- Sim.
- E?
- O que eu vou contar não deve sair dessa sala - ela disse olhando no rosto de cada um dos ocupantes ao redor da mesa de jantar. As crianças estavam em outra sala jantando com a babá e a governanta. - Ao que parece Douglas Bishop tem um filho com uma ex-funcionária. A criança está doente e precisa de um transplante de medula óssea, só que o sr. Bishop se recusa a fazer o teste.
Carolina, Camille e Lola perderam o fôlego.
- Mio Dios.
- Vamos tentar obrigá-lo a fa...
Helena ia completar a frase, quando ouviu um grito agudo seguido do barulho de algo rolando as escadas e caindo no chão.
Ela se levantou rapidamente assim como todos os outros, tinha um mau pressentimento. Que provou ser verdade, ela estancou horrorizada na porta.
Nina estava caída imóvel no chão.
--------------
30/01/17
--------------Oiiiii. Você não vai sair sem deixar um voto e comentários, vai?