Capítulo V : Surpresa

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Era noite naquela mata e o barulho de grilo tomava conta, junto com os ventos fortes que faziam por ali, balançando para lá e para cá as grandes folhas em um ritmo frenético, em uma dança alucinante, com o vento dando o ritmo e as folhas seguindo esse ritmo em transe sem nenhuma resistência.

Mas colocando isso de lado, o que importa no momento não é relativamente belo comparado a essa paisagem.

O barulho das folhas que levavam o guarda para mais profundo em seu sono, foi ocultado pelo simples barulho de uma latinha, uma latinha que estava no lugar errado.

O maior medo de Michaela e talvez o seu maior medo até agora em toda sua vida, se confirmou, o barulho da latinha ecoou pelas escada e passou pela sala onde ficava o esconderijo e cruzou a cozinha até encontra o ouvido do guarda dormente, que saiu de seu transe e acordou num susto, como quando você está dormindo e alguém grita gol ao seu lado.

Com um impulso o guarda levantou, com cara assustada e esfregou os olhos meio zonzo, sem noção de tempo, espaço e até mesmo vida.

— Que porra foi essa! — O guarda rodeava a sala proferindo essa mesma frase, como se aquilo fosse resolver.

Ele entrou na sala procurando por alguém, por algo, talvez um animal que entrou lá e fez esse barulho, ou alguém sem juízo estava tentando algo, ele preferia a primeira opção, mas a segunda opção revirava sua cabeça, no fundo, ele queria, que alguém tentasse algo radical.

Mas ele como um guarda tinha dever a fazer, não podia pensar aquilo, ele precisa descobrir a raiz daquele som, e resolver de acordo com a situação, essa era a tarefa daquele guarda.

Ao caminhar pela sala ele pisou em alguma coisa não muito sólida no chão, deu dois passos para trás e viu o tapete meio enrolado, depois viu a tampa do porão aberto, e ele pode ter certeza que não era um animal e sim uma pessoa a razão daquele barulho, ou um animal muito inteligente.

*******

Um cômodo abaixo, separado apenas por um chão de madeira, estava uma garota com seu coração batendo numa velocidade que deveria ser possível escutar o som a uns metros de distância.

Após chutar a lata na escada, ela viu a lata rolando em câmera lenta, na hora ela queria ter telecinese e poder parar a lata antes de fazer qualquer ruído, ou pelo menos não ter chutado ela em primeiro lugar.

— Puts! que merda! — Falou Michaela olhando de um lado a outro.

Michaela desceu os degraus restantes, e ficou paralisada na base da escada esperando alguma coisa, pensando em todas as coisas que poderia fazer e não fazendo nada.

“Será que ele escutou" "É claro que esse som vai acordar ele" "não, não, ele não escutou, vai tudo ficar bem" " Caramba! o que faço agora" a garota não sabia se pensava positivo ou negativo.

-Merda, nem a droga da tampa eu fechei! — Falou Michaela serrando os dentes de raiva consigo mesma.

Isso só deu mais força para o lado negativo de Michaela, que agora olhava para cima enquanto ouvia barulhos de passadas de um lado para o outro.

Ela olhou para todos os lados, sabia aonde era o lugar para levar ao túnel, mais seria muito arriscado sair às pressas com alguém no seu encalço, e ela decidiu se esconder e esperar para nocautear o guarda como fez com o outro, o que era mais arriscado ainda, talvez sua escolha não foi a mais inteligente, mas sua confiança estava lá em cima.

Ela rodeou o espaço com os olhos e viu um monte de tranqueira, tudo velho, mal-acabado, móveis em seus últimos suspiros, ela decidiu então se escondeu atrás do que um dia foi um armário, ela se escondia lá na escuridão e na melhor hora bateria no guarda com um pedaço de madeira, que ela segurava em sua mão como se fosse seu melhor amigo.

A situação não deixou ela perceber, mas após toda adrenalina passar, pela primeira vez desde que chegou lá, deu uma boa olhada no lugar à sua volta, o que cercava ela era aquele cômodo completamente abandonada, era muito sujo e entupido de pó.

Depois de respira com mais calma, não aquela respiração ofegante de adrenalina, ela sentiu o pó penetrando seu nariz, na verdade, aquele pó penetrou sua alma, ela sentiu vontade de espirrar, mas essa era a última coisa de que ela queria, tinha que segurar de qualquer forma, era um espirro ou qualquer outro som e tudo ia por água abaixo, se não já tivesse ido.

Em seu esconderijo, empunhando sua arma, um pedaço de madeira, ela conseguiu vislumbrar uma sombra que a luz fraca da lua conseguiu projeta, a sombra do guarda apareceu em uma das paredes do porão, e o que era um coração acelerado, se tornou um coração completamente acelerado.

Não seria exagero falar que o coração de Michaela batia 480 vezes por minuto, ou seria? Deixa isso para lá, biologia não é o meu forte.

Do seu esconderijo improvisado, Michaela via a sombra na parede ficando maior a cada passo, e a cada passo era como enfiar uma faca em sua ferida, nesse momento era só Michaela, o pó inundando a sala, a respiração ofegante tentando ser contida o barulho das batidas aceleradas de seu coração e uma sombra ficando maior e maior, a cada passo mais perto de seu desfecho.

Quando a garota conseguiu ver as costas do guarda, era como se o tempo tivesse parado, ela não podia acreditar mais era seu irmão o guarda que a perseguia.

Na ansiedade ao passar pela cozinha, ela não conseguiu notar que era seu irmão dormindo na mesa, aquilo revirou a mente dela e sua estratégia, não podia e não queria bater no seu irmão com aquela madeira, e agora que ela caiu na real que sendo seu irmão ou um desconhecido qualquer, bater com aquela madeira na cabeça poderia matar uma pessoa.

Ela precisaria reavaliar sua estratégia, o modo como prosseguir para tirar aquele obstáculos de seu caminho devia ser mudado, teria que fazer de um jeito sem machucar.

Michaela pensou em sair e conversar com o irmão, mas para ela dialogar e pedir uma trégua era fora de questão, pois, seu irmão, ao seu ver, era apenas um idiota que só sabia seguir cegamente as ordens dada por RATIUS, nesse momento se arrependeu de não ter ficado com a arma de choque.

Após o guarda seu irmão descer as escadas, parou e olhou a sua volta procurando alguma coisa, ele pegou a latinha na mão que parou embaixo de umas madeiras, e avaliou a latinha em sua mão e deduziu de onde vinha o barulho, agora faltava descobrir quem ou o que havia feito aquilo.

RATIUS (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora