Capítulo XXXVI: Mais um estrondo

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Reliquit, dia 6 de Janeiro de 2113

A noite caia lá fora, junto com ela uma forte chuva que encharcava o solo. Trovões vinham com a luz antecedendo seu estrondo. A tempestade caia incessante lá fora, e lá dentro, naquela simples casa, algo magestoso estava para acontecer. E outro estrondo alertavam todos.

— Rápido, rápido, se apressem está para nascer!! — Gritava um jovem rapaz apressado.

— Eu não consigo fazer, não tenho nenhuma experiência com isso, eu mal posso ver sangue, onde está Isabelle? — Disse uma jovem garota.

— Isabelle está a caminho, mas não chegará a tempo, tem que ser você, eu irei te guiar com o pouco que sei, você conseguirá — Disse Nílton, 22 anos mais novo, sem nenhum fio branco de cabelo.

— Tudo bem, farei o meu melhor — Disse a garota balançando a cabeça recatada.

Algumas batidas na porta e nada de resposta. Outras batidas e o choro de um bebê atravessou aquela madeira marrom que separava os dois lados. Novamente as batidas na porta, dessa vez com muito mais pressa e bem mais pesadas. A porta foi atendida.

— Oi, senhorita Isabelle, sua… — Dizia um jovem rapaz quando foi interrompido.

— Nasceu! Nasceu, onde ele está, cadê o meu neto? Preciso ver ele — Dizia Isabelle passando batida na porta e nem sentindo a presença do rapaz que o atendeu.

Isabelle atravessou a pequena sala. Sua pressa era tanta que nem notou o pequeno raque que acomodava algumas fotos em preto e branco além de uma escrivaninha simples. Nem notou também o grande sofá verde que decorava a sala, localizado no centro do ambiente era o destaque da decoração. A fraca luz laranja que piscava a cada trovão não fez a pressa de Isabelle da uma pausa. Nem mesmo toda a armação da casa de madeira que rangia com vento teve um pouco da atenção da moça que atravessou a sala como um raio e só teve tempo de deixar o guarda chuva pingando no tapete antes de adentrar o quarto onde vinha o choro do bebê.

— Nasceu, meu neto, como ele está? — Pegou o bebê na mão tomando da mãe que ainda estava em choque para ter qualquer reação. A surpresa venho na sequência, quando olhou o bebê aos poucos. O sangue manchava suas vestes e a voz de Nílton explicou sua expressão.

— Parece que eu venci, não é seu neto e sim sua neta, eu ganhei vovó, o destino escolheu minha vontade — Disse Nílton sorrindo olhando os olhos da amada.

— Sim, sim, tudo bem, irei amar mesmo assim e talvez eu tenha ainda mais amor por ser Menina — Disse Isabelle emocionada ainda com a criança em seu colo — Minha neta, seja bem vindo a esse louco e adorável mundo — Terminou dando um beijo na testa da pequena.

— Será que eu posso ter minha filha agora, Mãe? — Disse a Mãe com a Voz tão cansada e quanto emocionada — E eu estou bem, você disse que estaria aqui comigo para esse momento, Milena quase morre do coração ao ver todo aquele sangue — Disse a Mãe abrindo os braços e fazendo todos rirem com seu comentário.

— Me desculpe, querida, vim assim que a mensagem chegou, sinto muito por não estar com você nesse momento mágico — Falou sem tirar os olhos da Neta — Mas toma cá, pegue essa preciosa pérola que você gerou, parabéns, agora você é uma mulher, minha filha — Disse entregando a criança.

A garota pegou criança no colo. Mãos trêmulas mal conseguia segurar firme. Colocou junto de seus peito e começou a balançar a criança lentamente. Com todo carinho e cuidado que sentia. Assobiava entornando uma cantiga de ninar da época. Pouco a pouco seu rosto foi encostando na testa da pequena e um longo beijo resumia a beleza do mundo. A beleza de ser Mãe.

RATIUS (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora