Reliquit, dia 6 de Janeiro de 2113
A noite caia lá fora, junto com ela uma forte chuva que encharcava o solo. Trovões vinham com a luz antecedendo seu estrondo. A tempestade caia incessante lá fora, e lá dentro, naquela simples casa, algo magestoso estava para acontecer. E outro estrondo alertavam todos.
— Rápido, rápido, se apressem está para nascer!! — Gritava um jovem rapaz apressado.
— Eu não consigo fazer, não tenho nenhuma experiência com isso, eu mal posso ver sangue, onde está Isabelle? — Disse uma jovem garota.
— Isabelle está a caminho, mas não chegará a tempo, tem que ser você, eu irei te guiar com o pouco que sei, você conseguirá — Disse Nílton, 22 anos mais novo, sem nenhum fio branco de cabelo.
— Tudo bem, farei o meu melhor — Disse a garota balançando a cabeça recatada.
Algumas batidas na porta e nada de resposta. Outras batidas e o choro de um bebê atravessou aquela madeira marrom que separava os dois lados. Novamente as batidas na porta, dessa vez com muito mais pressa e bem mais pesadas. A porta foi atendida.
— Oi, senhorita Isabelle, sua… — Dizia um jovem rapaz quando foi interrompido.
— Nasceu! Nasceu, onde ele está, cadê o meu neto? Preciso ver ele — Dizia Isabelle passando batida na porta e nem sentindo a presença do rapaz que o atendeu.
Isabelle atravessou a pequena sala. Sua pressa era tanta que nem notou o pequeno raque que acomodava algumas fotos em preto e branco além de uma escrivaninha simples. Nem notou também o grande sofá verde que decorava a sala, localizado no centro do ambiente era o destaque da decoração. A fraca luz laranja que piscava a cada trovão não fez a pressa de Isabelle da uma pausa. Nem mesmo toda a armação da casa de madeira que rangia com vento teve um pouco da atenção da moça que atravessou a sala como um raio e só teve tempo de deixar o guarda chuva pingando no tapete antes de adentrar o quarto onde vinha o choro do bebê.
— Nasceu, meu neto, como ele está? — Pegou o bebê na mão tomando da mãe que ainda estava em choque para ter qualquer reação. A surpresa venho na sequência, quando olhou o bebê aos poucos. O sangue manchava suas vestes e a voz de Nílton explicou sua expressão.
— Parece que eu venci, não é seu neto e sim sua neta, eu ganhei vovó, o destino escolheu minha vontade — Disse Nílton sorrindo olhando os olhos da amada.
— Sim, sim, tudo bem, irei amar mesmo assim e talvez eu tenha ainda mais amor por ser Menina — Disse Isabelle emocionada ainda com a criança em seu colo — Minha neta, seja bem vindo a esse louco e adorável mundo — Terminou dando um beijo na testa da pequena.
— Será que eu posso ter minha filha agora, Mãe? — Disse a Mãe com a Voz tão cansada e quanto emocionada — E eu estou bem, você disse que estaria aqui comigo para esse momento, Milena quase morre do coração ao ver todo aquele sangue — Disse a Mãe abrindo os braços e fazendo todos rirem com seu comentário.
— Me desculpe, querida, vim assim que a mensagem chegou, sinto muito por não estar com você nesse momento mágico — Falou sem tirar os olhos da Neta — Mas toma cá, pegue essa preciosa pérola que você gerou, parabéns, agora você é uma mulher, minha filha — Disse entregando a criança.
A garota pegou criança no colo. Mãos trêmulas mal conseguia segurar firme. Colocou junto de seus peito e começou a balançar a criança lentamente. Com todo carinho e cuidado que sentia. Assobiava entornando uma cantiga de ninar da época. Pouco a pouco seu rosto foi encostando na testa da pequena e um longo beijo resumia a beleza do mundo. A beleza de ser Mãe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
RATIUS (Completo)
Science FictionE se existisse uma forma de evitar conflitos antes mesmo deles acontecerem? Como seria uma sociedade preestabelecida por um dispositivo altamente inteligente que separa as pessoas por seus níveis de compatibilidade? Essa paz forçada seria verdadeira...