Capítulo XXIV: Renascimento da Mente

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Após Éva ser deixada na sela como um saco de entulho. Outra vez o som estridente tomou conta do ambiente. Um gás saiu de um compartimento de ar dentro das celas e colocou os cinco em estado de torpor. A porta de onde Owen ficava se abriu e a imagem de Owen deitado no chão quase sem consciência tentando lutar foi revelada, causando revolta em Michaela que estava de frente pra sua cela, mas que também nada podia fazer; seu estado também era o mesmo.

Os dois guardas pegaram Owen e colocaram em uma maca; a mesma usada para trazer Éva, pousaram o rapaz com cuidado e seguiram com ele corredor afora. Os olhos dormente do rapaz fazia um grande esforço para ver o que estava acontecendo, queria ver os amigos, queria saber como Éva estava, queria a imagem deles colorindo sua íris e não a daqueles guardas de uniformes desbotado.

A porta do corredor que continha as poucas e vazias celas se abriu liberando um imenso pátio. Muitas portas, cada uma levava à um segmento diferente. As porta continha uma gravura no topo delas, algum tipo de recomendação ou pra onde aquilo levava, estava escrito em uma letra estranha que Owen não conseguia entender, e que também não entenderia se tivesse com sua total consciência, o que não era o caso.

A maca entrou em uma das numerosas portas. Outro longo e estreito corredor apareceu. No final novamente a porta automática abriu com a aproximação dos guardas. Uma pequena sala se revelou e era a cópia exata da sala da casa de Owen, exceto por tudo ser de um branco assustador. A lembrança da Mãe venho a mente do rapaz pouco antes dele desmaiar. E mesmo desmaiado ainda sentia o calor dos braços dela em volto ao seu no último abraço que dará nela, até que o ar frio daquela sala foi o único clima sentido em sua pele.

O garoto foi colocado na poltrona que ficava no centro de tudo. Suas mãos e pés foram presas. Fios foram penetrados em sua têmpora fazendo ele reanimar em um suspiro longo e pesado. Owen apenas tinha a visão e audição, sua consciência e seus outros sentido parece que tinha sido tirado dele e trocado. Até mesmo as memórias recentes não fazia mais parte dele no momento. Sentia um grande medo e uma grande necessidade de sair e fazer algo que na cabeça dele não fazia sentido, queria estar com pessoas que ele não lembrava o rosto ou mesmo o nome, queria, mas não entendia o porquê daquilo, era uma cabeça vazia, apenas projetando a imagem e som postas a ele. Por ele. Sem ele entender.

Um som saia de sua cabeça e dizia seu nome, várias e incontáveis vezes foram repetindo. Na sequência a frase "Que seja feita a vontade de RATIUS" foi introduzida na cabeça do garoto, múltiplas vezes em diferentes tons e altura, do mais leve e aconchegante até berros que levariam à loucura se ouvido por muito tempo. A expressão do rapaz não mudava, como a garota disse antes aquilo estava além do subconsciente e não podia ser expressado pelo lado de fora, e Owen mantinha aquela expressão demente sem muita mudança exterior.

Após os sons cessarem, ou pelo menos diminuírem e deixarem de ser o centro da atenção, imagens foram postas na mente do garoto. Pessoas brigando por motivo aparente nenhum, pessoas sendo cruelmente mortas, poços de sepultamento, guerras, pessoas sendo subjugadas a atrocidades inumanas por outros, miséria, sede, frio, tudo sendo provocada e assistida a risos pelas pessoas que encenavam aqueles atos que vinham sendo injetados na mente do rapaz, tudo que mostrava o horror da humanidade foi sendo introduzido. E o garoto conseguia sentir a dor, a desesperança daquelas pessoas, era como estar na pele deles, era como estar vivendo o contexto que eles viviam. Mesmo sem mudar sua expressão o garoto começou a derramar lágrimas, todas aquelas imagens acabou com o garoto, destruíram sua alma, agora ele devia entender um pouco do que tinha acontecido com a amiga logo antes dele.

Com o tempo e a tortura sendo acontecendo, sua mente foi se acostumando com aquilo, e sua consciência foi dando uma fraca aparecida, no começo lembrou o motivo de estar ali, depois, sua memória recente foi restaurando até o ponto em que ele estava de volta. Uma frequência binaural começou a ecoar junto com a já conhecida e simbólica frase "Que seja feita a vontade de RATIUS" essa combinação de sons prosseguiu nas meia horas seguintes, meia hora de relógio o que pareceu eterno na cabeça daquele jovem rapaz que não via a hora de ver seus amigos de volta e certificar-se de Éva estar bem, mesmo que aquilo estivesse brincando com algo profundo dele, além da mente, ele ainda sabia onde estava, o que era e principalmente o porquê de estar suportando tudo aquilo sem ceder: seus amigos.

As frouxas da cadeira soltaram, não era mais necessário prender ele ali, o estado que Owen estava não permitiria uma fuga, estava debilitado, frágil, indefeso, impossível de esboçar qualquer reação proposital, era uma carcaça em cima de uma maca com seu íntimo bem lá no fundo sem poder dar ordens para seu corpo, apenas com lembranças de quem era e o porquê de estar ali. Somente isso podia ser feito. Queria se levantar e destruir toda aquela instalação, mas seu corpo não reagia a ação de sua mente, mal conseguia manter as pálpebras aberta, mal conseguia ser ele mesmo.

Novamente os dois robóticos guardas uniformizados da cabeça ao pé entraram. Puxaram a maca para saída. E saíram de lá com Owen moribundo. Traçava o caminho de volta à cela. Owen fazia todo esforço, arrancava força de onde não sabia para se manter consciente, chegava a doer sua alma de tanto que ele tentava se segurar. Queria ver os amigos, queria pedir desculpas a Michaela, queria se encantar com a voz doce de Éva, queria rir das piadas sem jeito de Alabama, no momento era só o querer que mantia e fazia parte dele. Desmaiou no momento em que a porta abria. Novamente o som agudo tocou fazendo os anfitriões se debaterem no chão em estado de choque enquanto os guardas passeavam pelo corredor com Owen sob custódia.

A sela de Michaela se abriu, era a próxima a sofrer com o "renascimento da mente" Alabama se debatia em sua cela, com o barulho que o maltratava, mas mais ainda com o ódio que o consumia ao ver o que os amigo estavam passando. Era um olho em Michaela passando na maca e outro tentando ver dentro da cela de Owen. Nada podia ser feito, então apenas os lamentos e ódio ficaram quando o portão fechou e Michaela sumiu do seu campo de visão.

Após poucos minutos do barulho parar. Alabama recuperou a consciência. Socava a porta gritando desesperado com tudo aquilo, gritava os nomes dos três amigos e derramavam lágrimas imparável. O garoto conseguiu se acalmar um pouco ao ouvir a voz de Owen.

— Está tudo bem amigo — Falou Owen com a voz fraca.

— Owen, o que eles fizeram com você? O que eles fizeram com Éva? O que eles vão fazer com Michaela? — Não obteve resposta nenhuma — Owen, responde, seu maldito, o que eles estão fazendo? fala! — Gritava o rapaz inconformado.

— Não adianta falar, ele não vai te responder por agora — Falou Giovanna seria, com uma seriedade que ainda não tinha mostrado.

— Não começa, sua idiota, ele vai sim me responder, fala Owen!

— Ele, assim como Éva está desmaiado, não adianta falar com eles agora, é até impressionante que ele tenha conseguido falar antes, quando ele disse aquelas últimas palavras é bem possível que ele já estava desmaiado — Falou a garota.

Alabama caiu em lágrimas como nunca antes. O choro que caia sem cessar dizia que tudo estava acabado mesmo que ele pensasse diferente, era uma luta interna de diferentes sentimentos, cada um querendo tomar posse de suas atitudes, e era isso que o choro mostrava, as lágrimas dizia que o lado negativo estava na frente.

O tempo que Michaela ficou fora durou o mesmo que Owen, não na cabeça de Alabama que com o passar e o ver de seus amigos sofrerem a dor foi desacelerando cada vez mais o tique-taque na sua cabeça, fazendo aquele tempo com a ausência de Michaela parecerem interminável.

O som ecoou novamente nas celas fazendo os três que ainda tinha consciência se debaterem no chão. Foi quando Michaela venho sendo trazida quase sem vida, na mesma situação que Éva e Owen chegará antes. As lágrimas que haviam sumido no rosto do rapaz insistiu novamente em cair ferindo muito mais que o som agudo. Cada gota queimava em seu o rosto, até que o gás foi liberado em sua cela fazendo ele desmaiar, na sequência, a porta se abriu e era a vez de Alabama, o último guerreiro de pé a passar pela tortura que enfraqueceu seus amigos, e ainda mais ele por ser o último e ter tido o horror de ver os outros três sofrerem. Talvez a dor que estava para passar não chegava nem perto do que havia passado.

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