Capítulo XXVIII : Só Basta uma batida

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A porta se abriu e todos com exceção dos dois já ambientados viraram seus olhos instantaneamente para saber o que vinha. Giovanna apenas ficou em seu canto com o sorriso pois sabia o que viria: comida. Entrou um guarda, vestido no mesmo traje, tão era a aparência de robô que fizeram eles questionar se o que estava por debaixo daquelas roupas era mesmo um humano, empurrando uma mesa com rodinha — igual essas de restaurante. Parou na primeira cela e colocou pela brecha um prato de comida e uma garrafa de água, fez o mesmo nas demais.

O prato era absurdamente grande quase o dobro dos pratos normais, porém, a comida era em um porção muito menor que a esperado para o espaço que poderia preencher com alimento, era mais prato do que comida. A comida era bela, aquelas que só de ver da fome, parecia ser desenhada, tudo alinhado, tudo limpo, era perfeita, uma beleza da gastronomia. O aroma era de dar água na boca e fazer o estômago roncar na ânsia de consumir aquilo. A imagem, o aroma que se via no prato era de uma beleza incrível, mas após a primeira abocanhada no alimento toda sua fome e vontade de comer aquilo sumiu. A comida era insípida. Bonita por fora, horrível por dentro; isso descrevia ela. Mas apesar de não ter gosto nenhum era preciso comer.

— Comida sem gosto ainda é comida — Falou Giovanna sorrindo após engolir o alimento.

— É melhor sem gosto do que com o gosto ruim, como a que Michaela faz — Falou Alabama concentrado na alimentação.

Owen soltou um riso fraco ao lembrar da vez em que Michaela cozinhou após um dia de trabalho na construção do barco. Sentiu falta daquilo ao lembrar da incerteza que tinha se poderia viver dias como aquele ou mesmo se poderia viver ainda. Lembrou também de como agiu com imaturidade com a amiga, e por te se afastado do grupo mesmo quando reunidos e entristeceu-se consigo mesmo com a memória que o visitava. Jurou para si mesmo que na primeira oportunidade que tivesse em conjunto com os amigos pediria desculpas a todos e principalmente para Michaela. Teve que voltar para o atual quando sua barriga reclamou dele não estar comendo aquela bela, cheiroso e sem gosto alimento que estava à sua frente.

Foram minutos de colheres batendo em prato e comida sendo mastigada. Ninguém ousava quebrar aquele silêncio no momento da refeição. O ambiente estava bom, o clima era refrescante e tocava uma música aconchegante bem de fundo. Pareciam estar em um restaurante. Ou mesmo em casa. Mas não em uma prisão que era onde estavam. Mesmo que tudo era confortável, era impossível ainda se sentir à vontade com a sensação de impotência. Eles iam mastigando e mastigando o alimento e também a situação.

— O que vocês planejavam fazer, sair pelo mundo afora na esperança de encontrar algo? — Falou Giovanna após limpar o prato.

— Exatamente isso — Respondeu Alabama com a boca cheia ainda por terminar sua porção.

— Vocês são realmente loucos — Falou Giovanna fazendo pausa para respirar em sua bombinha de ar — Acho que vocês tiveram sorte de terem sido pego, isso era suicídio, sair assim sem saber o que o espera, isso é loucura, mesmo que eu ainda goste da ousadia de vocês, meus queridos novos amigos.

— Isso era um salto no escuro, uma tentativa nossa de descobrir o que esse mundo esconde, e ele esconde muita coisa — Falou Éva guardando seu prato em um espaço que se abriu na parede.

— Esconde mais do que mostra, essa faceta deles que eles não querem mostrar é a que eu mais quero ver, trazerem vocês para o mundo e revelaremos a corja que vocês são — Falou o garoto sempre frio e encarando o teto.

— Vejo um belo grupo se formando aqui, algo de grande está para acontecer, vocês não acham meus amores? — disse Giovanna.

— Tudo que eu quero no momento é sair daqui, não quero ser amigo de vocês e muito menos fazer parte de qualquer que seja o plano que vocês têm em mente — Esbravejou Owen.

— Quanto ódio, meu rapaz — A garota fez uma pausa sem fôlego — Digamos que vocês saiam daqui e volte para o barco de vocês, e como vocês disseram estavam prestes de acabar, certo, vocês terminam esse barco arrumam suas mochilinhas, a minha pergunta é, Como vocês planejam fazer ele andar, ou melhor, como vocês planejam navegar com ele? — Perguntou Giovanna.

— Não estou te entendendo, nós vamos apenas subir nele e remar como estava descrito no livro — Respondeu Owen desentendido.

Enzo soltou um leve riso de deboche em sua sela o mesmo fez Giovanna, porém o dela fico bem claro para todos que ela estava rindo deles.

— Não é tão simples assim, aquilo que está descrito no livro é apenas a primeira parte do projeto completo, o restante eu conservei somente para mim. Claro, vocês podem sair com ele da forma que eu descrevi, mas levaria tempo e energia que talvez vocês não possuem, o modo completo seria bem mais rápido e tranquilo e ainda sim precisaria de alguém que entende do barco, no caso eu — Falou o garoto com seu tom pedante.

— Reter o conhecimento para si, a forma mais infalível de comandar os leigos — Disse Éva em resposta ao garoto.

— Nós conseguiríamos sim de um jeito ou de outro, nem que fosse preciso descer e empurrar, o que não seria possível, mas nós ainda sim conseguiríamos — Disse Alabama confiante.

— Ótimo, vocês têm quase o barco, nós temos o conhecimento para finalizar e para guiá-lo, o que acha de nos fazermos um favor a nós mesmo e compartilharmos dessa viagem? — Falou Giovanna.

— Nem morto eu entro naquele barco com vocês — Disse Owen com ódio, descarregava muita raiva na garota mesmo não sendo toda essa raiva destinada a ela.

— Nós começamos com o pé errado, não é para ser assim, você me odeia sem motivo nenhum aparente, o que eu fiz a você, querido? — Disse Giovanna sempre provocando.

— Eu não tenho nada contra você, eu só… esquece, por mim o que seja, o que o meu grupo decidir por mim tudo bem, e se isso que vocês falaram for verdade, acho que precisamos da droga da ajuda de vocês — Disse Owen rodeando a sela inquieto.

— Então, pessoal, como vai ser? Nós atravessamos juntos esse mar sem nada e desmascaramos o mundo, sem compromisso, sem enrolação, topam?

Após um murmúrio daqui um murmúrio de lá, lamentações, promessas, tudo sendo discutido, ficou decidido que usariam os seis em busca do nada, como um salto no escuro. Embora toda aquela esperança e confiança rodasse aquele ambiente inóspito a ameaça estava à frente, impossível de passar; um vidro de 10 cm de espessura e nada de esperança, portanto, a pergunta ainda permanecia, como seria feito o restante do barco e primeiramente e mais importante como sairiam dali. Essas eram algumas das questões. Esse era o jogo.

— Vocês não estão esperançoso demais para quem está preso, sem saber onde, apenas com as vozes dos futuros companheiros de em busca da verdade? — Falou Owen.

— Sua falta de otimismo me entristece, não é isso que nos para — Falou batendo no vidro — É isso — Disse apontando para cabeça — E tudo que nós precisamos é apenas fingir com que ele não exista e ultrapassá-lo, assim tudo se resolve — Falou Giovanna dando um leve soco no vidro.

Após ela dar o soco o vidro se estilhaçou em incontáveis pedaços. A barreira que os prendiam virou pó à sua frente. Nada mais o prendia em sua selas, e mundo mostrou novamente que a barreira era mais mental do que física.

A garota saiu da sela a passos lentos pisando nos minúsculos cascos remanescente. Seus pés descalços não podiam ser furado pela aquela poeira que antes era uma parede de vidro o máximo que aquele pó de vidro poderia fazer seria sujar. E ela saiu medindo cada passada, olhando tudo ao seu redor como quem desconhece de sua própria existência. E ela saiu pela primeira vez por vontade própria desde que adentrou aquela prisão. Olhou o corredor que se seguia adiante. Olhou as selas, inúmeras selas, quase todas vazias, apenas cinco contendo pessoas e essas cinco pessoas olhou de volta a garota com expressão branca. Sem preenchimento de noção do que tinha acontecido.

— Por essa eu não esperava — Falou a garota sem saber o que tinha acontecido e por fim sorrindo.

RATIUS (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora