Don't Jump

3. Alice

Bem, agora só volto a utilizar depois dos meus exames :-) até lá, boa leitura e obrigada por todos os comentários!

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"I found myself in Wonderland
Get back on my feet again
Is this real?
Is it pretend?"

- Alice de Avril Lavigne  

E lá vamos nós, a pé para casa, o céu muito mais escuro, o sol escondido por detrás de um monte de edifícios antigos, com meia dúzia de sacos de plástico nas mãos, pelas ruas recheadas do Porto. Paramos a meio do caminho para o Luís abrir um pacote de bolachas que tinha comprado e comer três de uma vez e retomamos. Deixei as minhas compras em minha casa e depois encaminhamo-nos para a casa dele. Quando lá chegamos, a porta foi aberta pela Joana, que tinha o cabelo atado e um casaco demasiado grande e masculino vestido - suponho que seja do Luís.

"O Andy janta connosco."

"Parece que vou jantar fora!" Ripostou a Violeta, em português. Algo me diz que eu não iria gostar do que ela disse se o tivesse feito na minha língua, uma vez que o Luís suspirou e continuou a falar com ela, muito menos animado do que o que estava antes.

Durante a discussão deles, a namorada do Luís tocou-me no braço e apontou para um cabide atrás da porta, com vários casacos pendurados. Assenti e tirei o meu casaco, pendurando-o no cabide.

"Queres comer alguma coisa?"

"Desculpa?"

Ela ficou imediatamente inquieta, tentando-se explicar: "Comer..." E depois fez uns gestos, sorrindo.

"Ah... não. Obrigado." Ela sorriu e voltou para dentro, passando por um Luís de pé bastante irritado e uma Violeta em pantufas, sentada no sofá com as pernas esticadas a ler um livro.

O livro estava em inglês, ou, pelo menos, o título estava; aproximei-me um bocado, cautelosamente, e consegui ler as palavras a branco: Alice's Adventures in Wonderland and Through the Looking-Glass. Eu não acredito que ela está a ler isto! É absolutamente incrível, brilhante. Deverei dizer que tenho o gato Cheshire tatuado no meu pé? E por falar em tatuagens, preciso de saber, urgentemente, onde posso fazer uma ou onde posso comprar piercings novos, porque isso é um vício. Uns bebem álcool ou fumam; eu gosto de ter mais piercings que a minha mãe tem brincos. Simples.

"Andy, podes sentar-te." Disse o Luís, apontando para o lugar ao lado da Violeta, derrotada e claramente irritada.

Sentei-me, a uma distância que, para além de respeitar o seu espaço, também me protegia de um súbito ataque. Ela continuou a ler o seu livro e eu, sem saber porquê, queria contar-lhe do gato. Mas como o vou fazer? Aliás, eu nem devia sequer estar com tantas conversas amigáveis. Ela não merece.

"O que estás a ler, se posso saber?"

"Não podes." Não sei o que prefiro, uma rapariga como a Violeta ou uma rapariga que me dá toda a atenção de que preciso, ainda que me aspire todo o dinheiro.

"Consigo ver que é a Alice no País das Maravilhas." Voltei a tentar e ela só assentiu. "Tenho o gato Cheshire tatuado no meu pé."

E foi assim que consegui captar cerca de 5% da sua atenção: "A sério?"

"Sim, tatuei-o quando fiz vinte anos, no início deste ano." Respondi, puxando o meu pé direito para cima da minha perna esquerda e comecei a desapartar os cordões da sapatilha.

Depois de descalçar a sapatilha, puxei a meia de uma vez e deixei que ela apenas observasse a tatuagem.