15. We're Going To Be Friends

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"And when I wake tomorrow I'll bet

that you and I will walk together again

I can tell that we are gonna be friends

Yes I can tell that we are gonna be friends."

- We're Going To Be Friends por The White Stripes

Bastou assentar por completo para os dias começarem a fugir de mim; os dias que pareciam nunca mais ter fim deram lugar a dias que acabam num piscar de olhos, ocupados com correrias de um lado para o outro na faculdade, filas na compra de bilhetes do metro, subir e descer escadas de emergência para almoçar e jantar, dormir a horários incertos e tomar o chá das cinco sempre noutra hora que não as cinco da tarde. E o engraçado é que eu não odiava nada desta nova rotina, apesar de eu ser uma pessoa que odeia a rotina acima de tudo. Não tinha reclamações a fazer, gostava do meu trabalho e das pessoas com quem trabalhava, gostava dos meus vizinhos e passava imenso tempo com eles, gostava da comida feita pelo Luís e não comia mais nada para além disso, adoro o ambiente da cidade e não me importo de perder dez minutos num metro ou fazer caminhadas das estações até aos meus destinos.

Estava bem.

Acordara com o Sr. Ribeiro em trabalhar sempre de tarde ou à noite às segundas e sextas que é quando eu tenho as aulas na universidade de francês e alemão. Também tentara pedir que me desse folga no dia 24 de Dezembro ou no dia de Natal para poder receber os meus pais e mostrar-lhes a cidade, já que eles dizem já sentir muito a minha falta e não vão conseguir esperar até finais de janeiro para me verem. Levei com um não na cara, pois se ele tivesse de dar folga a toda a gente que lhe pedisse o dia de natal, ninguém trabalharia. Segundo ele, as folgas são atribuídas aleatoriamente, posso ter a sorte de ter folga nos dois dias, num deles, ou até mesmo em nenhum.

"Acho que vou fumar, aguenta isto aqui." Avisou-me a Francisca, abrindo uma das gavetas do balcão e tirando de lá um maço de tabaco. "Nada de te meteres com as finlandesas."

"Não te preocupes, odeio loiras." Comentei, só depois reparando que a Francisca era loira até nos pêlos dos braços. "Quer dizer, tu não..."

Ela arqueou uma sobrancelha.

"Não gosto do loiro... delas, das pessoas do norte, percebes? O teu loiro é giro. Muito giro."

Ela apenas se riu, deliciada com a minha aflição. Faz sempre isto: "Diz logo que eu sou toda gira, Andy." E eu também ri, porque as nossas conversas acabavam sempre neste tema. "Mas já sou do Til."

"Oh, sim, o acento ortográfico."

"Vês como sabes!" Gracejou e deu a volta ao balcão. "Já venho, se o manda-chuva aparecer eu fui dar... papel higiénico a alguém ou assim."

"Combinado." Ela sorriu, com todos os seus dentes, todos eles direitos e alinhados, um sorriso que a tornava automaticamente ainda mais atraente que combinava na perfeição com o resto do seu rosto, as grandes bochechas pálidas, os olhos azuis claros e o cabelo loiro dourado. Oh sim, ela era muito bonita. Ao que parece, todas as portuguesas são.

Puxei um banco alto de debaixo do balcão e sentei-me, procurando o telemóvel no meu bolso e abrindo as mensagens do Luís a dizer que o jantar era bifes de porco preto com batatas fritas; depois tive de ligar a net, porque ultimamente a Violeta anda a encher-me de notificações no Snapchat - ela, basicamente, obrigou-me a instalar esta porcaria e é a única pessoa que eu tenho adicionada. Bem, ela, o Tiago e a Francisca. O Luís não vê utilidade no Snapchat.

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