49. Despacito

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"Despacito 

Quiero desnudarte a besos despacito 

Firmo en las paredes de tu laberinto 

Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito."

- Despacito  por Luis Fonsi & Daddy Yankee 

*

Quando os bebés nascem, têm 270 ossos. Ao crescer, os ossos unem-se e passam a ser 206.

Começamos por aí:

Passo 1: Partir todos os ossos que for preciso para voltares a ter 270.

Passo 2: Furar cada olho com um berbequim.

Passo 3: Arrancar os dentes com um alicate sem anestesia.

Passo 4: Colocar um prego entre cada dedo da mão e do pé; martelar um a um.

Passo 5: Puxar a pele de todo o corpo; agrafar.

Passo 6: Fazer um lindo sorriso: uma lâmina de orelha a orelha.

Passo 7: Em vez de álcool, engole a garrafa: pedaço a pedaço.

Passo 8: Esperar a morte.

Fechei o caderno, abanando a cabeça após um arrepio. Eu acabei de ler uma forma de matar alguém, forma essa inventada pela Violeta? O texto estava em inglês, porquê? Por que não em português, a língua dela? O caderno parece antigo, e não há muito tempo atrás ela vivia com os pais. Talvez fosse uma estratégia, escrever em inglês para o caso de os pais lerem este caderno, não iriam perceber. Será? Ainda assim, que é esta merda?

Voltei a abrir o caderno, na primeira página escrita: tudo em inglês e uma nova forma de matar alguém, cortando os dedos das mãos e dos pés, cozinhando-os e dando à pessoa a quem os retiramos a comer. Incapaz de ler tudo até ao fim, folheei o caderno. Para além de planos maquiavélicos e extremamente macabros, havia um monte de textos, pensamentos fragmentados, reflexões. Tudo em inglês. O caderno estava praticamente todo escrito, sarrabiscado com as coisas mais aleatórias de sempre, não tinha como ler tudo.

Eu nem devia estar a ler isto. Não falo pelos planos assustadores, mas sim pelo resto. São as coisas dela, é privado, estou a entrar na mente dela sem a sua autorização. Ainda assim, é a única forma que tenho de entrar na mente dela, percebê-la, futuramente ajudá-la... eu não posso fazer isto, não posso, não devo, se ela descobre, mata-me - com um dos seus maquiavélicos planos e não me apetece nada ter de comer os meus próprios dedos ao jantar. Mas, mas, mas... e se esta for a única maneira? O Luís não sabe de nada, já se passaram seis anos! Se fosse para ele saber, a Violeta já lhe teria contado, o que prova que ela nunca irá contar nada a ninguém, nunca obterá a ajuda de que precisa...

Respirei fundo e pousei a roupa dela em cima da cama, juntamente com o caderno aberto. Posteriormente, tirei o meu telemóvel do bolso, abri a aplicação da câmara e fotografei todas as páginas, pouco me ralando se as fotografias ficavam ou não direitas, eu só queria ter acesso a alguma informação. Depois daquilo que pareceram horas, mas foram na verdade menos de dois minutos, tinha tirado fotografias ao caderno inteiro. Apressei-me a pô-lo de volta no lugar, peguei num livro qualquer e na roupa que tinha deixado em cima da cama e desci as escadas de incêndio.

Ao contrário do que esperava, a Violeta ainda estava deitada na cama. Pensava que ela já estava melhor, afinal teve energia para me mandar todas aquelas mensagens e para pensar sequer em vestir outra roupa, porém, ela continuava contorcida debaixo dos cobertores. Aproximei-me dela após pousar a roupa em cima da cómoda e puxei um pouco os cobertores para baixo para lhe revelar a face. Agora, Andy, age como se não tivesses aberto o diário mórbido dela.

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