83. Ballad Of The Lonely Hearts

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"In the past you were a star

In your mind of paradise

Every dream that lives inside

Here's to the lonely hearts and the ones that never change

Here's to the failed starts and the song remains the same."

- Ballad Of The Lonely Hearts por Black Veil Brides

Às vezes, o problema das pessoas que não bebem é acharem que, quando o vão fazer, aguentam tanto quanto uma pessoa que costuma beber aguenta. Depois de dois shots, um de whiskey e outro de absinto, e de um balde de cidra, o Luís estava zonzo, não parava de rir e mal se aguentava de pé. Tudo isto estava a ter piada até ele dizer que queria vomitar, mas nunca vomitar!, o que nos levou a um estado de alerta permanente, em que o mínimo movimento ou som proveniente daquela boca nos fazia fugir de imediato.

Tudo isto não podia deixar de ser estranho. Seja qual forem os motivos para o Luís não beber, que devem estar, certamente, ligados ao facto de ser atleta, alguma coisa conseguiu levá-lo a quebrar essa sua lei que tinha imposto a si mesmo, o que não podia deixar de me preocupar, porque não era normal e eu vejo o meu reflexo nele como se ele fosse um espelho: se fosse eu a ficar bêbado, é porque queria ficar bêbado, e para eu chegar ao ponto de querer mesmo ficar bêbado, alguma coisa teve de acontecer, e eu não consigo parar de pensar na Joana.

Por um lado quero contar-lhe. Sou amigo dele, sei que ele já foi traído uma vez, vi a Joana com outra pessoa qualquer com os meus próprios olhos, e se todos estes filmes da minha cabeça forem baseados em factos reais, o Luís merece saber. No entanto, ao mesmo tempo parte de mim crê que é só disso que se trata - filmes! Não quero estragar uma relação cujos frutos não estão podres. Não sei o que fazer e as únicas vezes em que eu abro a boca são relativas à Violeta. Trata-se do Luís. Não sei o que fazer, por isso vou ficar calado.

Ainda assim, não deixou de ser engraçado ver o Luís a ser arrastado, literalmente, pela Violeta e pelo Gabriel, que tinham cada um um braço dele em cima dos seus ombros, pelas ruas do Porto acima, com o vento gelado a fustigar-nos os lábios cortados enquanto riamos das suas figuras. Os comentários lançados para o ar e as gargalhadas que se lhes seguiam eram tantas que, eventualmente, nos esquecemos da ameaça iminente. Prestes a chegar ao prédio, o Luís vomita as pizzas e nem a Violeta, nem o Gabriel foram a tempo de o impedir de pisar o próprio vomitado.

"Eu vomitei arroz."

"Como é que vomitaste arroz se comeste pizza?" Apontou a Violeta, num tom de troça. Depois da terceira onda de vómito, ela perguntou: "Já acabaste?"

"Oh Violeta, leva-me para casa!!!" Suplicava ele, a voz arrastada e decrescente, como uma criança a pedir algo à mãe. 

"Já vamos, já vamos."

Tirei a chave da entrada do bolso de trás das calças da Violeta e abri a porta, entrando para a manter aberta até o Luís também entrar. A Olívia fechou a porta e subimos todos juntos pelas escadas, deixando a Violeta levar o Luís pelo elevador sozinhos. Quando chegaram ao primeiro andar, já eu tinha aberto a porta do apartamento também, com o Bonifácio a gatinhar lentamente por entre o amontoado de pernas, procurando escapulir-se para o interior - até ver a Violeta, porque depois ficou quieto e espero que a sua dona lhe desse atenção.

"Vais pôr-lhe a cabeça em água fria?" Questionou a Abigail, ao que a Violeta respondeu com um abanar de cabeça. "Porquê?"

"Deixa-o dormir e amanhã ele acorda novo."

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