60. Mamma Mia III

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"I've been angry and sad about things that you do

I can't count all the times that I've told you "we're through"

And when you go, when you slam the door

I think you know that you won't be away too long

You know that I'm not that strong."

- Mamma Mia por ABBA 

Cheguei rapidamente à conclusão de que o Rafael sabia; se não sabia, desconfiava, porque ele não viria todo angustiado e aflito ter connosco para nos avisar de que a mãe da Violeta cá estava, sendo que pais virem ver os filhos é das coisas mais normais do planeta. Mas não tinha tempo para perder com esta recente descoberta, não quando a mãe da Violeta estava num raio de vinte metros dela. Foi demasiado rápido para mim, ainda não tinha digerido em condições aquilo que me contaram e já tinha de lidar com isso.

"O quê?"

"Tira-a daqui, só isso." Pediu o Rafael, preparando-se para virar costas e ir embora.

"Como é que tu sabes que eu sei?"

"Deduzi..."

"Como é que tu sabes?" Quis saber o Luís, parte dele confusa, a outra parte chocada.

O Rafael encolheu os ombros: "Deduzi também."

"Onde é que ela está?"

"Ainda está nos bastidores, os rapazes trocaram-se primeiro."

"Ela já saiu..." Adverti, apontando para a Violeta, perto da porta dos bastidores. Mas não podia ser ela, não com umas calças de ganga claras, umas botas peludas e uma camisola de lã verde escura.

Ao mesmo tempo que a suposta Violeta se virou para mim, tanto eu pude comprovar que, realmente, não era ela, como ela teve tempo de pregar a atenção dela ao Luís, que deu um passo para trás involuntariamente. Não precisei que me dissessem, a mulher tinha o mesmo cabelo ondulado e escuro, os mesmos traços, a mesma altura, os mesmos olhos, até as mesmas olheiras, apesar de eu ter a certeza que aquelas olheiras não foram causadas pelo sono.

Ficamos os três alinhados em frente para ela, que vinha na nossa direção num passo decidido - não na nossa, mas na do Luís. Ele engoliu seco e ficou imediatamente pálido, como se estivesse a reviver o pior momento da sua vida agora mesmo. E estava, não o pior momento da vida dele, mas o pior momento da vida da sua melhor amiga.

"Onde está a minha filha?" Ele encolheu os ombros, fingindo-se de desentendido. "O que estás aqui a fazer então?"

"Eu não sei..."

"Eu sei que ela está a viver contigo. Porque raios está ela a viver contigo?"

Uma coisa é certa: esta mulher é cruel, inumana, até, precisamente aquilo que a Violeta não é, mas eu consigo vê-la à minha frente, na maneira de falar, na postura, no modo como arqueia a sobrancelha, como quem desafia o Luís a dizer algo do seu desagrado. No entanto, cá estou eu, petrificado, sem saber o que fazer. Nenhuma outra pessoa fez tanto mal à Violeta como ela fez, e ela está à minha frente e eu não sei o que fazer. Não é como se pudesse fazer nada.

A minha mãe agarrou-me o pulso delicadamente e puxou-me para trás, fazendo-me dar um passo trapalhão na sua direção que captou a atenção da Flora, mas que rapidamente me ignorou. Com um sorriso de pura cortesia, voltou a fazer com que eu desse mais um passo para trás e sussurrou-me ao ouvido: "O que é que se passa, querido?"

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