20. O Tannenbaum

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"O Tannenbaum, o Tannenbaum,

wie treu sind deine Blätter.

Du grünst nicht nur

zur Sommerzeit,

Nein auch im Winter, wenn es schneit."

- O Tannenbaum por Não Faço Ideia

Devíamos ter sido as primeiras pessoas a irem embora; depois do que eu disse, a Violeta ficou a olhar para o céu, para todo o fogo de artifício a iluminar a cidade juntamente com as decorações de Natal recentemente ligadas e, assim que o fogo parou de explodir no ar, ela começou a andar em direção a casa e eu segui-a. Não ousei dizer uma palavra que fosse, ciente de que quebrei duas ou três instruções de como lidar com a Violeta: não insistas, não a elogies, não mostres que te importas. Devia ter pensado nisso mais cedo.

Nunca fui bom com palavras, apesar de saber dizer cada palavra em seis línguas diferentes, alguma delas em sete. Nunca fui bom em relacionar-me com os sentimentos das outras pessoas, por muito que queira que se relacionem com os meus. Nunca fui bom eu fazer o que me dizem, principalmente quando acho que o que me dizem está errado. Nunca fui bom em um monte de coisas e, do nada, tanto o Luís como a Violeta esperem que eu seja bom em todas elas. Na maioria das vezes não sei o que dizer, e quando decido falar, nunca sai o mais acertado. Na maioria das vezes não consigo pôr-me no lugar da outra pessoa, por mais que tente, se eu não tiver passado pelo que a outra pessoa passou, eu não vou conseguir ver as coisas pelo seu ponto de vista. Na maioria das vezes, tento ao máximo fazer o que me é dito ou aconselhado, porém, eu raramente penso e faço o que o meu coração me mandar fazer na hora. Os únicos momentos em que eu consigo ficar calado é quando pressinto uma discussão a aproximar-se, quando sinto que vai trovoar no meio dos meus diálogos. Prefiro sempre dar a razão à outra pessoa se isso evitar que entremos em conflito. Não acho que a razão seja mais importante que os sentimentos das pessoas, e esse é um problema meu.

A Violeta não esperava que eu a confrontasse. Ou era exatamente isso que esperava. Não sei. De qualquer das maneiras, foi isso que fiz, e nem sei porquê. Podia ter ficado calado, podia fingir concordar com ela, encerrar o assunto. Talvez tivéssemos ficado mais um bocado nos Aliados, a ver o resto do espectáculo - se é que havia algo mais para assistir. No entanto, não foi isso que fiz. Acho que parte de mim detesta ver uma pessoa que, apesar de ser um tijolo metade do tempo, é simplesmente espetacular e genuína e não o consegue ver. Acho que o Luís desistiu disso, de tentar mudar-lhe as ideias. Há quanto tempo?, não sei. Quem sabe se não foi há anos? Se é esse o caso, há anos que ela não ouve nada de bom, apenas os seus pensamentos autodestrutivos.

Após entrarmos no prédio, ela subiu até ao primeiro andar sem dizer mais nada, separando-se de mim no rés do chão, onde eu procurava a chave do meu apartamento para entrar. Ainda hesitei em despedir-me dela ou não, mas já fiz demasiado hoje e sei perfeitamente que isto só iria irritá-la ainda mais. Vou esperar que a poeira assente, nem que tenha de esperar o resto da semana inteira.

Ainda era cedo. Muito cedo. Eram seis horas, estava completamente escuro lá fora, o frio enregelava os ossos e amanhã não tinha de ir trabalhar, embora tenha duas cadeiras para completar até ao fim do semestre... o que é suposto fazer o resto do dia? A resposta apareceu no meu frigorífico, num papel quadrangular amarelo fluorescente colado na porta pela parte superior: "Estarei em casa às 19h, a Joana vai estar comigo até às 21h30. Enquanto eu faço o jantar, tu podes ensinar-lhe inglês. Se quiseres, claro. Luís".

Bem, sempre tenho alguma coisa que fazer. Ainda faltava uma hora até eles chegarem, por isso aproveitei e fui tomar um banho rápido e quente, trocar de roupa e preparar algumas coisas para amanhã. Também reguei o Senhor Snuggles, mesmo não sabendo se o estou a regar em demasia ou não. Espero não matar o cacto, por amor de Deus. Posteriormente, calcei-me e esperei pelas sete horas, sentado no sofá a ver televisão.

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