"Fate is kicking down my door,
But I don't live there anymore,
Destiny, it needs your advice.
I'm starting a new life.
My own life, it's my own life"
- My Own Life por Sonic Syndicate
Passava já das cinco da tarde quando finalmente descemos para o meu novo apartamento, pela escada de incêndio. Demoramo-nos um bocado no andar de cima, pois a Violeta teve de emborcar duas garrafas de água de trinta e três centilitros e comer qualquer coisa, uma vez que o Luís a obrigara a fazê-lo. Mesmo assim não tinha perdido nenhum tipo de entusiasmo, aliás, até me diverti bastante. Definitivamente, ver o Luís com um chuveiro apontado à cabeça da Violeta é algo que eu nunca irei esquecer.
A primeira coisa que eu e o Luís fizemos - porque, passado um bocado, a Violeta deitou-se no sofá e adormeceu - foi apanhar o lixo deixado pelos universitários (como é que a tal D. Odete não se lembrou de vir aqui tratar das coisas ao invés de ficar à espera que alguém viesse para aqui morar?, por acaso eu não me importo de arrumar isto tudo). Para além de deixarem tudo desarrumado, os gajos não limpavam nada, e quando eu digo nada, refiro-me a não lavarem a loiça, não limparem o pó, nem tão pouco aspirar. Já nem digo aspirar, mas varrer! Por amor de Deus, quem é que viveu aqui?
Quando dou por mim, tenho o Luís a lavar a loiça com uma esponja cheia de detergente - pois ele só acha que está a lavar alguma coisa se fizer um monte de espuma - e eu estava de pé junto da mesa, a limpar o pó de alguns objetos e a secar com um pano a loiça que ele ia lavando, para que não ficasse tudo atulhado na pia.
"Bem, já que estamos a lavar a loiça, acho que demos um mais passo na nossa amizade. Que te parece, Andy?"
"Ah... suponho que sim." Repliquei, passando um pano húmido dentro do abajur de um candeeiro.
"Conta-me qualquer coisa sobre ti. Já me ouviste falar da Joana e do atletismo e essas merdas, mas pouco falas."
"Eu, bem, eu não sou muito bom em conversa da treta."
"Eu não estou a tentar fazer conversa da treta, estou mesmo interessado." Insistiu, e mesmo com um tacho enorme nas mãos não perdia a seriedade.
"OK, então... que queres saber?"
"Sei lá, nada em específico, a tua família, se gostas de animais, se praticas algum desporto, clubes, algo do género."
Pensei um bocado, mesmo que não houvesse muito para pensar. Quando nos perguntam coisas deste género é como matemática: 1+1 será sempre 2, tal como a minha família; serei sempre eu, os meus pais e as gémeas. O mesmo acontece com o resto, ou eu gosto ou não gosto de animais, ou eu pratico ou não pratico algum desporto, ou tenho clube ou não tenho. Não há muito que pensar, mas sinto necessidade de o fazer. Simplesmente não quero dizer nada de errado, por muito que não haja nada de errado a dizer. Não dá para evitar.
"Tenho pais, como toda a gente." Ele riu, abanando com a cabeça. "E duas irmãs gémeas."
"Tens dois pares de irmãs gémeas ou duas gémeas?"
"Duas gémeas." Aturar aquelas duas já me garante um lugar no céu, se tivesse mais um par de irmãs gémeas em casa, bem que podia ser nomeado logo Deus. "Ann e Angela."
"Porque raios é que os vossos nomes começam com AN?" Desligou a água, pousando o último prato sobre a banca e pegou num pano seco para me ajudar a limpar o aglmoerado de loiça lavada que se tinha acumulado.
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Don't Jump
RomanceAndy sempre gostou de viajar, não deixando nenhuma oportunidade de o fazer escapar. Quando o programa de ERASMUS abre na sua universidade, escolhe como destino Portugal e é lá que passará meio semestre. Podia ser mais uma viagem normal, mas um passe...