"Abuse me, use me, shut up and do me
'Cause everybody wants something from me
Grab me, stab me, c'mon and have me
'Cause everybody wants something from me."
- Everybody Wants Something From Me por The Pretty Reckless
Claro que o meu maior medo é que ela descubra que eu estou a segui-la... de novo. A probabilidade de ela perceber que eu a estou a seguir é muito grande, principalmente se ela envergar por uma rua vazia por onde eu terei de me meter também, senão perco-a. Não acredito sequer que me estou a dar a este trabalho todo apenas por estar a ligar duas histórias que, às tantas, não têm nenhum ponto em comum. Existem milhares de pessoas no Porto, milhões em Portugal, biliões no mundo. A Violeta ser a ex-namorada no Tiago? Quais são as hipóteses?
Porém, talvez ela não seja a ex-namorada dele, não sei, não tenho nenhum dedo que adivinha, mas uma coisa é certa: a história de ambas pode ser idêntica e é mais esse fator que me faz querer persegui-la, entre aspas. Eu só quero certificar-me de que está tudo bem; se não estiver, só quero certificar-me de que nada piora. Nem a pior pessoa do mundo merece passar por uma dor psicológica que a leva ao ponto de causar a si mesmo uma dor física.
Já estava a andar demasiado e a cada passo que dava, menos pessoas apareciam. Passo a passo tornava-se cada vez mais arriscado segui-la como se estivéssemos ligados, portanto tive de abrandar o passo e esperar que ela virasse algumas esquinas antes de eu sair de detrás de árvores, carros ou outras coisas. Já eram quase onze menos um quarto quando se começa a ouvir barulhos que não fossem dos carros a passar ou do vento.
À porta de uma discoteca encontrava-se um grupo gigantesco de pessoas, todas elas arranjadas de cima abaixo como se estivessem prontas para a passagem de ano e não prontas a entrar numa discoteca no último sábado de novembro. Quando voltei a procurar pela Violeta, não sabia dela. Ótimo. Era só o que me faltava, não andei quase meia hora a pé às escondidas para chegar a sei lá eu onde e perdê-la de vista. Eu sou uma tragédia!
E porque é que as pessoas não estão em fila para entrarem lá dentro? Será que só os ingleses é que fazem filas? Bem, nós fazemos filas por tudo e por nada, mas esta é uma daquelas situações em que filas são bastante necessárias. Como vai o porteiro saber quem chegou primeiro?
E lá estava ela, toda sorridente, toda animada, a tagarelar com um grupo de pessoas que eu nunca havia visto, a rir a bandeiras despregadas enquanto esperava por uma autorização para entrar. Tal autorização só começou a ser dada depois das onze da noite, e sim, eu ainda aqui estava depois das onze da noite. Não sei porquê.
Estou a ser ridículo. Ela veio a uma discoteca. Por amor de Deus, o que é que eu esperava? Que ela fizesse um caminho de meia hora para uma discoteca para se trancar na casa-de-banho a chorar ou a automutilar-se ou algo do género? Que ela veio para aqui para deprimir, não para se divertir? A minha mente já me anda a pregar partidas, cheguei ao ponto de a seguir por ter medo que ela fizesse algo de muito mau quando ela, na verdade, só veio a uma maldita discoteca. Beber, aposto. Ela é 70% álcool, segundo o Luís.
Estava prestes a ir embora quando ela calhou de olhar para mim. Onde é a tampa de esgoto mais próxima para eu retirar do chão, mergulhar lá para dentro e esconder-me? A sério, preferia dormir com as ratazanas do que enfrentar o furacão Violeta... que estava a vir na minha direção.
"O que é que tu estás aqui a fazer?" Os seus dentes rangeram à medida que as palavras abandonavam a sua boca e cada palavra era uma chicotada nas minhas costas. O que é suposto eu dizer em minha defesa? A lei diz claramente que toda a gente tem direto a defesa... mas a lei não diz que a defesa existe em todos os casos.
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Don't Jump
RomansaAndy sempre gostou de viajar, não deixando nenhuma oportunidade de o fazer escapar. Quando o programa de ERASMUS abre na sua universidade, escolhe como destino Portugal e é lá que passará meio semestre. Podia ser mais uma viagem normal, mas um passe...