91. Walk Away

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"Now our lives have changed, I wish that I could heal

Time has taken love, a darker side revealed

For every lie begins, with what we used to feel

Oh, blaming myself, tied to these chains, living in pain

Oh, all of your tears, everything's gone, is it too late?"

- Walk Away por Black Veil Brides 

Acordei com a maior das enxaquecas e o pior dos sabores na boca. Sentia-me tonto e perdido, exausto e um tanto assustado. Tudo à minha volta era ou branco ou um tom de azul claro e o cheiro era demasiado incomum para eu o reconhecer à primeira. Porém, quando me levantei da cama onde estava e olhei em volta, percebi tudo de uma só vez.

Ao meu lado esquerdo, estava um senhor a dormir deitado de lado numa maca, com tubos de oxigénio a entrarem-lhe pelo nariz; do outro lado, estava uma rapariga não muito longe da minha idade, também a dormir, com um casacão enorme a fazer de cobertor. Tentei lembrar-me de como cá cheguei, ou porquê, mas nada me vinha à cabeça. Algumas pinceladas eram dadas aqui e ali numa enorme tela em branco que é a minha memória, mas não são grandes o suficiente ou fazem o menor sentido para mim para que eu perceba ao certo o que aconteceu.

Não sabia o que fazer, por isso deixei-me aqui ficar à espera que alguém do hospital passasse por mim e me dissesse alguma coisa. Não tinha o telemóvel em nenhum bolso, mas estava coberto de manchas mal cheirosas, que só podiam ser de vómito; o sabor estranho na minha boca levou-me a concluir de que esse vómito era meu. Que caralhos ainda a fazer ontem? Ou hoje? Não sei que dia é hoje, que horas são, não sei nada, estou confuso.

Quando finalmente um médico ou um enfermeiro ou sei lá eu o quê passou por mim, nem foi preciso eu dizer nada, pois ele próprio falou primeiro: "Como se sente?"

"Normal. Um pouco... estranho... mas normal."

"Não entrou em coma alcoólico, mas quase, amigo." Informou, deixando-me ligeiramente chocado. Eu? Coma alcoólico. "Não tivemos de fazer nenhuma limpeza ao estômago porque deitou tudo cá para fora, mas deixamo-lo a soro durante umas horas."

Olhei para a minha mão, a picada a fazer-se sentir por baixo de um enorme penso quadrangular.

"Há quanto tempo..." Estava cansado e não conseguia formular a frase, nem em inglês!, quanto mais em português. Só queria voltar a dormir.

"Um pouco mais de doze horas." Eu estou a dormir há doze horas?

"Como vim para aqui?" Indaguei, porque, honestamente, esta era a pergunta cuja mais resposta eu necessitava, porque eu não faço a menor ideia de como vim aqui parar.

"A sua namorada chamou uma ambulância para si e veio consigo. Ela está na sala de espera, a última vez que a vi, ela estava a dormir."

A Violeta...

Espera lá.

Quase coma alcoólico... com a Violeta. Eu lembro-me, sim, de ter visto as garrafas dela debaixo da cama e de ter começado a beber uma, como é que raios ela apareceu lá no meio, pelos vistos no momento certo? Caralho, o que é que eu fiz? O que é que eu fiz, eu vou entrar em pânico, eu não me lembro absolutamente de nada e tenho a certeza de que fiz merda, porque eu não sou propriamente uma paz de alma quando bebo. Tenho de despachar este médico ou lá o que ele é rápido.

"Posso ir?"

"Sim, claro, fale só na receção para o caso de ser preciso pagar alguma coisa." Eu assenti e saí da cama de hospital.

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