5. I Have a Problem

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"I found my vice 

I found my vice

It lives in a bottle and wants me to die."

- I Have a Problem por Beartooth

"Então... ela levantou-se, pagou e foi embora. É isso?" Perguntou o Luís, nesta manhã de Domingo, quando me encontrei com ele para tomar o pequeno-almoço num café qualquer cujo nome não tinha conseguido ler.

"Sim. Parecia que tinha visto alguém ou que se tinha lembrado de algo."

Estava a tentar não mostrar o quão preocupado estava, mas estava. Desde que a Violeta se fora embora ontem à noite que nunca mais ninguém a viu. Obviamente, estou a pensar no pior, mas não tenho certezas de nada. Ela não parecia triste - ou deprimida -, apenas... assustada?, com pressa? Nem sei. Parte de mim quer contar ao Luís do que eu a tinha salvo, mas a outra parte mantinha a minha boca fechada. Ela pode estar viva, a perambular pela cidade, e quando aparecer e souber que revelei a verdade ao seu melhor amigo, mais vale voltar para Londres.

Acho que vou esperar até ao final do almoço. Se ela não aparecer, digo qualquer coisa. Até lá, não tenho outro remédio senão esperar e, do fundo do coração, admito: está a matar-me por dentro e não consigo evitar sentir-me super, hiper, mega, ultra culpado. 

O Luís terminou o seu terceiro croissant de manteiga e bebeu o resto do café - ugh, café. Ao início, achei que ele estava a brincar comigo quando me dissera que ia pedir três croissants, mas agora vejo por que os pediu: porque, de facto, os ia comer. 

"Acho que vou comprar outro." OK, isto é um exagero. Como é que ele não pesa 100 quilos? Oh, pois. Atleta

Enquanto o Luís voava na direção do balcão para pedir outro croissant, acabei o meu pequeno-almoço que consistia num chá verde e numa torrada. Segundo o Luís, a Joana devia estar a chegar e era ela quem nos ia levar ao restaurante, pois o Luís nunca o encontrava.

"O que achas que pode ter sido?" Perguntei.

"Não sei. Não acho que ela tenha visto alguém, ela não foge de ninguém, se for preciso espetar um murro na cara de uma pessoa, ela faz isso. Duas vezes."

Também não acreditava muito na hipótese de ela ter visto uma pessoa e ter fugido a sete pés, não depois de eu ter visto como ela respondeu ao tipo alemão que disse que era horrível - dizendo que sabia e que toda a gente dizia o mesmo. Não fazia sentido a Violeta responder desta maneira a um rapaz daqueles e, no momento a seguir, fugir de outra pessoa qualquer.

"Andy, não te preocupes. Às tantas recebeu uma mensagem e foi ter com alguém." Como assim alguém, pensei que eras o único amigo dela!

A maneira como ele estava a reagir a este súbito desaparecimento era deveras estranha para mim, como se ele não quisesse saber, como se fosse algo tão habitual que nem valia a pena preocuparmo-nos com isso. Talvez devesse seguir o exemplo, mas é-me impossível seguir tal modelo quando a tinha visto a desejar saltar de uma ponte há pouco mais de vinte e quatro horas.

Eram onze e meia quando a Joana chegou; soube-o quando vi o humor do Luís mudar repentinamente, o que me fez virar costas para olhar para a porta, vendo-a a entrar no café. Sorriu ao ver-nos - ou ao ver o Luís, o que era bastante mais provável - e, em seguida, sentou-se numa cadeira livre na nossa mesa. Eles os dois são tão... adoráveis e genuínos, não percebo o que tem a Violeta contra eles, a não ser que, claro, sinta algo pelo Luís. Ou pela Joana, quem sabe.

Ficamos mais meia hora no café, a fazer tempo, a Joana pediu o seu pequeno-almoço e partilhou-o com o Luís, que ainda tinha estômago para aquilo, e eu não pude fazer outra coisa senão olhar para as paredes e para o teto, evitando olhar para o casalinho apaixonado à minha frente. Portanto, concluí-se que foram os trinta minutos mais lentos da minha vida. Quando finalmente saímos do café, para o ar frio de novembro, senti-me mais aliviado do que nunca.

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